3 cenas impossíveis que cansamos de ver nos filmes

Por , em 1.10.2013

Muitos filmes de ação são feitos de maneira que as incongruências entre a ficção e a vida real ficam insuportáveis de engolir e me fazem retorcer na cadeira e sussurrar comentários sarcásticos para a pessoa ao lado. A seguir listei algumas das falácias mais comuns e que mais me incomodam. A partir de agora você passará a se incomodar com elas também. Sinta-se à vontade para listar nos comentários abaixo os absurdos que você está cansado de assistir.

Ombro deslocado

Esta cena ensina espectadores a maneira errada para corrigir uma luxação — o termo técnico daqui para a condição. É também a cena clichê que que mais me irrita principalmente depois que eu, em um acidente de ciclismo, tive o meu próprio ombro deslocado.

O que acontece na cena

Após um acidente ou luta o personagem reclama de muita dor no ombro, como a Juliet acima, e fala algo assim: “Meu ombro está deslocado, você terá que colocá-lo no lugar” para outro personagem horrorizado com esta tenebrosa tarefa que lhe é imposta. Depois de um pouco de hesitação do interlocutor ele faz o que lhe foi pedido e um grito horrendo da vítima segue. Sempre!

O que acontece na vida real

Como a Juliet diz na cena acima realmente parece que há cacos de vidro dentro do ombro luxado… misturados com pimenta. Eu senti tanta dor que chorei como um bebê faminto em certo ponto. Eu suava frio e cada mínimo movimento do meu corpo servia para amplificar a dor. É comum pacientes desmaiarem de dor, principalmente aqueles que tem luxações freqüentes.

“Empurre para cima e gire” diz a Juliet para Kate. NÃO FAÇA ISSO, NUNCA! A luxação já causou um trauma no ombro, e muita dor, não piore o caso usando medicina de Hollywood. A manobra verdadeira para corrigir uma luxação chama-se redução. E não tem nada de doloroso nela, na realidade é exatamente o contrário. Mesmo no início da redução a dor já começa a aliviar. No vídeo abaixo, quando o osso é deslizando novamente para a articulação do ombro, o que você observa no rosto do paciente é o mais doce e puro alívio, pois a dor parece cessar instantaneamente. Aqui você vê uma maneira autônoma para corrigir o ombro deslocado. Mas nunca tente sem realizar treinamento adequado. Youtube não é treinamento adequado. Vá para o hospital mais próximo, rápido! Mas devagar, senão dói mais.

Gravata homicida

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Outra cena que me deixa profundamente indignado. Por que tantos roteiristas acham que desmaiar é a mesma coisa que morrer?

O que ocorre na cena

Normalmente o mocinho está fugindo secretamente da prisão de seu algoz — ou entrando para resgatar a mocinha — quando encontra um capanga do vilão que está de guarda. Para sua sorte o capanga não o vê. Em seguida o mocinho desliza na pontinha dos pés, chega por detrás do capanga e lhe aplica uma forte gravata enrolando seu braço ao redor do pescoço dele e apertando como uma jibóia. Poucos segundos depois o mocinho larga o capanga que cai como um saco de batatas, morto por asfixia. O mesmo princípio também vale para cenas de asfixia tipo estrangulamento.

O que acontece na vida real

Uma gravata bem aplicada interrompe instantaneamente o fluxo sangüíneo para o cérebro através da compressão da artéria carótida que passa pelo pescoço. O cérebro age como um carro quando fica sem combustível: desliga. Mas diferente de um veículo o cérebro automaticamente pega no tranco logo que o sangue volta a correr. Portanto quando o mocinho o solta ele deveria acordar e não vestir o pijama de madeira.

Quando alguém desmaia por falta de irrigação no cérebro ainda está longe de morrer. As funções fisiológicas continuam por vários minutos enquanto houver oxigênio nos tecidos — outra coisa que a gravata priva o capanga de adquirir — e o coração estiver batendo. Como um dos órgãos que mais gastam oxigênio é o cérebro a gravata acaba também por adiar a morte por mais alguns minutos. Para garantir que o cara morreu o mocinho deveria apertar o capanga por cinco a dez minutos depois de apagar, talvez mais, para garantir uma parada cardíaca.

Não brinque de sair “engravatando” seus amigos. Você pode causar uma lesão no pescoço da sua vítima.

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As únicas exceções a esta regra são o Darth Vader e o Chuck Norris.

Quebrando o pescoço

Durante uma luta, ou sorrateiramente, o mocinho quebra o pescoço de um capanga com a facilidade de quem abre uma lata de refrigerante.

O que ocorre na cena

É mais ou menos uma variação da gravata assassina acima, mas ao invés de interromper o fluxo sanguíneo para o cérebro o objetivo é dar um giro forte na cabeça do oponente seja durante uma luta ou de surpresa.

O que ocorre na vida real

Esta é a cena impossível mais fácil de explicar e a mais difícil de provar sua inverossimilhança. É extremamente improvável que qualquer um seja capaz de quebrar o pescoço de um oponente com suas próprias mãos durante uma luta, a não ser que ele caia sobre a própria cabeça. A evolução nos dotou com músculos poderosos que protegem as vértebras do pescoço, além do mais as próprias vértebras não são tão frágeis como pensamos. Um ataque sorrateiro pode até aumentar as chances de sucesso (ainda são poucas), mas durante uma luta, com a musculatura tensa, seria impossível.

Agradecimentos ao Dr. Luiz Henrique Alves que tirou várias de minhas dúvidas para este artigo.

10 comentários

  • Edvaldo Marcelo Alves:

    Desculpe se eu estiver errado: Têm vários filmes que mostram um bandido ou mocinho que usa uma Magnum ou uma arma com grande poder de fogo e ao dar o tiro no peito do oponente este então é atirado para longe. E a Lei de Atração e Repulsão da Física que diz que a mesma energia que empurra um corpo para frente a uma certa distância terá que mover também na mesma distância o outro corpo que liberou essa energia, então o bandido ou mocinho que disparou teria que ir para trás a mesma distância, correto?

  • Dannyel Pontes:

    3 cenas apenas? Foi um teste de aceitação? Vocês poderiam fazer listas de cenas incoerentes (que são passadas como reais mas que estão erradas, excluindo cenas de fantasia) com diferentes temas tipo: Lutas, hackers, medicinal, guerras e combates com armas de fogo, veículos, e mais uma porrada, Seria bastante interessante kkkkkkkkkk xD

  • robsonniemeyer:

    Quando há um abismo e o cara vai cair, ele agarra na pontinha igual uma lagartixa e não cai.

  • Stallone Sylvester:

    Se começar a falar sobre cenas impossíveis relacionados a informática e seus derivados nós iriamos ficar aqui o dia inteiro 🙂

  • nightmare:

    Também tem a famosa cena de filmes de terror onde a pessoa fica com a cabeça ou a perna presa no elevador e é mutilada, pelo menos em todos os elevadores que conheci o sistema deles torna isso impossível, pois a porta abre ao menor contato com ela

    • Marcelo Ribeiro:

      Infelizmente existe ao menos um caso registrado de decapitação por elevador.

  • Danilo Engelhard:

    E o Riggs do filme máquina mortífera que colocava o ombro de volta no lugar dando uma porrada na parede.

  • Hugo:

    Outra coisa que sempre acontece é o pessoal desmaiar com qualquer porrada na cabeça.

    Existe cena mais clichê do que uma pessoa com a arma apontada para outra e vem uma terceira e diz “não o mate agora”. Ai o primeiro bate na cabeça do outro com a parte do fundo da arma, ele desmaia e acorda acorrentado em outro lugar.

  • Junior Anduca:

    Primeiramente, parabéns por todo o conteúdo interessante disponibilizado nesta página.
    Bom, não sei exatamente a quais cenas o autor desse texto pretende especificar quando se refere a deslocamentos no ombro. Já desloquei o meu, o braço (úmero) ficou 8 centímetros afastado do ombro (acrômio), não senti dor, apenas incomodo, desconforto, mas nenhuma dor. Só na hora de colocar, onde o enfermeiro (ou médico, não sei), ao girar, me causou uma dor de contusão forte, embora tenha se extinguido por completo após ter sido colocado de volta…ficou zero bala.

    • Marcelo Ribeiro:

      Talvez a posição da luxação influencie a dor. No meu caso o úmero foi para cima e atrás do ombro e só o fato de iniciarem a redução senti um alívio imenso. Em seguida senti o encaixe suave e a dor desapareceu. Mas o principal é que a redução é suave e gradual e não uma pancada forte e súbita como os filmes mostram.

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