5 estereótipos de gênero que já foram totalmente ao contrário

Por , em 11.09.2015

Os estereótipos mais difíceis de quebrar são aqueles que são tão antigos que chegam aos nossos dias de caçadores-coletores. Afinal, como você pode argumentar com a biologia? As mulheres carregavam os bebês, os homens tinham a força do corpo superior para caçar gazelas. Ninguém inventou isso do nada.

Mas se a sociedade nos ensinou uma coisa, é que é muito fácil anexar alterações a essa regra, alegando que todos os estereótipos sexuais e de gênero datam dos primórdios da evolução humana. É claro que, na realidade, as coisas não são bem assim.

5. “Cor-de-rosa é para meninas” é uma ideia recente

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Para a maioria das famílias, descobrir o sexo de seu bebê logo no início é crucial, uma vez que todo mundo precisa saber que cor de roupas e brinquedos comprar – rosa ou azul? Quase imediatamente depois de nascer, a criança é equipada com seu uniforme (uma camiseta azul ou um laço cor-rosa), de modo a não haver confusão. Afinal de contas, é claro que a cor usada nos primeiros dias de vida tem papel fundamental na vida do bebê, não é?

Se esse bebê for menina, não se pode esquecer de pintar o quarto-de-rosa, comprar cortinas cor de rosa e certificar-se que essa será a cor que cercará toda a vida dela, em todos os momentos. O rosa é uma cor inerentemente feminina que nos faz pensar em flores e aromas doces e delicados, enquanto o azul é claramente um sinal de masculinidade e virilidade. Parece absurdo? É dessa maneira ridícula que grande parte da sociedade age.

Se isso parece algo bastante arbitrário, é porque é. Até o início da Primeira Guerra Mundial, as pessoas não se importavam de que cor as fraldas de seus filhos eram, porque era o maldito século XIX. Qual é a cor do tecido sob o cocô do bebê é a última coisa que você tem em mente quando precisa lidar com taxas insanamente altas de mortalidade infantil, cólera e outras coisas nem um pouco agradáveis.

A divisão dos “times” por cores começou na década de 1910: azul era para as meninas e rosa para os meninos. Não, isso não é um erro de digitação. Um editorial de 1918 da sessão infatil da revista Earnshaw’s afirmou que rosa era “uma cor mais decidida e mais forte… mais adequada para o menino, enquanto o azul, que é mais delicado e frágil, é mais bonito para a menina”.

Mas as coisas começaram a mudar em 1927, e havia discordância quanto a que gênero deveria ficar com qual cor (aparentemente, não havia nada mais importante acontecendo no mundo, como, por exemplo, a articulação de Hitler para chegar ao poder) e a revista “Time” chegou a publicar um gráfico que mostra quais lojas defendiam quais cores para quais gêneros. Não foi até 1940 que as cores foram trocadas e anunciantes decidiram usar apenas o rosa para as meninas. Para ter uma ideia do quanto a moda pegou, dê uma volta na sessão “de meninas” de qualquer loja de brinquedos – só tome cuidado para não ser engolido pela onda cor-de-rosa.

4. Chorar costumava ser um símbolo de masculinidade

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Um homem chorando em um filme só pode significar duas coisas: ou ele perdeu o controle ou ele é um tipo mais suave, romântico e sensível, não um herói de ação. É por isso que Leonardo DiCaprio derramou algumas lágrimas em diversos de seus filmes, enquanto temos certeza que o Liam Neeson de “Busca Implacável” nem sequer tem canais lacrimais. Para nós, é quase natural vermos homens chorando como fracos.

Mas, como tantas coisas que tomamos como “naturais”, nem sempre foi assim. Quando os épicos da Grécia antiga foram transcritos pela primeira vez, você pode apostar que o papel estava manchado com as lágrimas de seus protagonistas. Ulysses (o cara que matou um ciclope e ganhou a Guerra de Tróia) sucumbia às lágrimas periodicamente, pelo menos uma vez só porque ele ouviu uma canção bonita. Isso porque, na antiga cultura grega, “era esperado que os homens chorassem se a honra de sua família estava em jogo”. Um dos maiores sinais de verdadeira virilidade estava em derramar lágrimas.

“Sim, mas isso é a Grécia antiga, certo? Eles eram os reis do andrógino!”, você pode argumentar. Mas, na verdade, esta ideia foi transmitida através maioria das culturas, e continuou durante a Idade Média e até o movimento romântico. Os samurai japoneses, os heróis medievais e até mesmo o próprio Beowulf choraram como bebês ao longo de suas aventuras.

Até o século XIX, as lágrimas do sexo masculino eram celebradas como um sinal de honestidade, integridade e força. E não aquela coisa de “você foi corajoso o suficiente para mostrar a sua fraqueza”, mas apenas como um símbolo de que você realmente se importava com algo.

3. A TPM nem sempre foi a vilã

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Toda mulher que não é feliz e sorridente durante todos os dias de sua vida já ouviu alguma variação da famigerada frase: “Uh, tá nervosinha! É TPM, é?!”. Não interessa se o seu cachorro morreu, se você acordou com o barulho da furadeira do vizinho às 6h da manhã ou se você simplesmente não está a fim de papo – a culpa sempre vai ser deste fenômeno terrível que nos visita todo mês e supostamente nos transforma em monstros intragáveis. É por isso que mulheres são inconstantes e incompreensíveis e blablablá sexismo sexismo sexismo.

Porém, o estereótipo mais uma vez não é algo intrínseco ao desenvolvimento humano. Enquanto os cientistas encontraram sempre razões para invalidar opiniões das mulheres como irracionais, suas desculpas são muito inconsistentes. Voltando à Grécia antiga, Hipócrates culpou o mau humor do sexo feminino com a justificativa que o útero saía do lugar e impedia o funcionamento pleno do coração, o que significava que ela deveria fazer tanto sexo quanto possível para empurrá-lo de volta para o lugar.

Quando o sexo passou a ser considerado praticamente um pecado com a ascensão do cristianismo, essas explosões “irracionais” de raiva começaram a ser causadas justamente pelo excesso de sexo. Então, no final do século XVIII, esse humor foi considerado um efeito colateral de ficar muito tempo sem engravidar.

Então, o que a ciência diz? Se os pesquisadores não dizem aos participantes dos estudos o que eles estão procurando, eles não encontram correlação alguma entre alteração de humor e o ciclo menstrual. Mesmo entre os estudos que encontraram esta correlação, muitos colocam a TPM em lugares completamente diferentes no ciclo da mulher.

Nós não estamos dizendo que os hormônios não mudam o comportamento – eles mudam, nos homens e nas mulheres -, mas há pouca evidência para sugerir que as mulheres tornam-se emocionalmente comprometidas ou irracionais durante a suposta fase da TPM.

O maior problema aqui é separar a cultura da biologia. Ou, mais especificamente, a nossa forma de amortizar os efeitos culturais como biológicos. Desde muito cedo, aprendemos que a menstruação de uma mulher vai fazer ela agir como uma babaca. Independentemente do que está acontecendo de fato, fica mais fácil para as mulheres ligarem um mau humor aleatório ao seu ciclo menstrual e para os homens desconsiderarem qualquer reação emocional de uma mulher simplesmente acreditando que aquilo é culpa de seu sistema reprodutor.

2. Estereótipos sobre gays mudam num ritmo louco

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Se há uma coisa que escritores de sitcons ruins nos ensinaram, é que fazer pessoas homossexuais e heterossexuais interagirem terá consequências loucas. A razão para isso seria, claramente, porque os homens homossexuais têm muito em comum com as mulheres heterossexuais, e mulheres gays que não são “lésbicas de batom” são, é claro, motoqueiras tatuadas.

Claro, qualquer um que tenha realmente conhecido (ou seja) uma pessoa homossexual sabe que estas coisas não são necessariamente verdadeiras, mas é difícil de quebrar os estereótipos que têm séculos de idade. É por isso que você ainda ouve pérolas como: “Eu não sou homofóbico, mas, você tem que admitir que essa coisa gay e feminista é estranha, né? Eu não me importo se eles são gays, desde que eles não ajam como gays”.

Mas esses estereótipos realmente têm séculos de idade? Como vimos aqui mesmo nesta lista, “agir como hétero” não significou sempre a mesma coisa… e, surpresa! O mesmo vale para “agir como gay”! Mais uma vez, tentar separar as influências culturais da biologia se transforma em uma grande confusão.

Por exemplo, apesar do estereótipo atual de que os homens gays são efeminados, durante o Renascimento uma grande parte de ser “machão” significava ser bissexual. Até tão recentemente quanto 1930, as mulheres “viris” (isto é, mulheres que gostavam de esportes e agiam da forma que esperamos que os homens ajam) eram vistas como “heterossexuais safadas”, do tipo que dançam em mesas de bares e mais tudo aquilo que vemos em filmes de faculdades dos Estados Unidos.

Uma grande parte disso é a ideia relativamente recente de que “gay” é uma classe distinta de indivíduo, algo que não acontecia até aproximadamente 1860. Não entenda errado – o sexo homossexual era amplamente considerado como imoral antes disso, mas naquela época, qualquer um poderia estar fazendo isso, não importava seu jeito de falar ou de agir. E, como deveria ser óbvio para todo mundo, não havia nenhuma maneira de identificá-los porque eles eram como qualquer outra pessoa.

1. “Lugar do homem” e “lugar da mulher” são o que faz mais sentido econômico

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Você pode perguntar para muita gente e essas pessoas vão te dizer que, embora a libertação das mulheres seja uma coisa boa agora, esta questão passa por cima de milênios de evolução. Desde que a sociedade existe, os homens são os caçadores-coletores e mulheres são as donas de casa. Eles vão insistir que não há nada sexista nisso – é apenas a realidade. Ao londo de toda a história, há um “mundo do homem” e um “mundo da mulher” e nunca os dois se encontram.

Mais uma vez, os estereótipos caem em uma piscina enorme de balela. Apesar do que os Flintstones possam ter nos ensinado sobre os valores morais das famílias das cavernas, a distinção entre o “mundo do homem” e o “mundo da mulher” é, na verdade, bastante nova, e por bastante nova entenda: ela surgiu na Revolução Industrial.

Mesmo hoje, cuidar da casa não é nenhum piquenique, contudo, como dissemos no início deste artigo, era um pesadelo em 1800. Enquanto a maioria das pessoas considera que pais contemporâneos que saibam como trocar fraldas e cozinhar são floquinhos de neve únicos e especiais (ou, pior ainda, que eles estão “no cabresto”), naquela época isso era só… ser pai. Certificar-se de que um bebê viveria o suficiente para ajudar na fazenda era uma responsabilidade super importante e, em vez de discutir sobre a quem cabia este trabalho, as pessoas só o faziam.

Há muitas razões para as coisas terem mudado, mas a questão basicamente se resume ao aumento do trabalho fora de casa. Trabalhar em fábricas significava não estar em casa o dia todo e os homens tinham a maioria dos empregos nas fábricas porque esse era o século XIX, quando o mundo estava uma bagunça. Foi então que o “culto da verdadeira feminilidade” apareceu, e a ideia da maternidade como uma profissão de tempo integral se tornou popular e aceita. À medida que o mundo industrial ficou mais brutal e competitivo, uma fronteira mais forte entre as duas esferas se tornou a norma, e antes que você percebesse, BUM, nascia um estereótipo que parecia estar aí desde sempre.

Quanto mais pesquisas fazemos, mais parece que a única forma consistente de comportamento considerado normal é a tendência a sermos rigorosos demais sobre o que realmente é um comportamento normal – e, logo em seguida, sermos uns babacas com as pessoas que não seguem esses padrões que estabelecemos. [Cracked]

3 comentários

  • Chris Squired:

    Adorei o artigo, mas sinto falta das fontes. Onde estão todas essas informações?

  • EU ‘-‘:

    é por isso que eu sigo a filosofia de Piton ” Tudo na vida depende do quanto vc quer comer alguém”

  • Vando Juvenal:

    Comer todos querem,mas cozinhar, não? Engraçado. Morram de fome! :v

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