A vida é como Lego, mas ainda melhor

Por , em 17.05.2012

O mundo natural é construído com blocos, e, como o brinquedo, conta com pequena variedade de peças para formar objetos mais complexos.

Sou um grande fã de lego. Mas existe algo que tem me atormentado nos últimos anos: porque a Lego saiu da ideia de uma construção universal baseada em simples tijolos de plástico? Puristas como eu sentem falta dos tempos antigos, quando a Lego consistia em unidades básicas, de cubos a camadas. E parece que aí temos um ponto: com Lego, menos não é necessariamente mais, mas mais também não é necessariamente melhor.

Hoje, as companhias fazem centenas de kits, com uma variedade de temas – cidade, espaço, robôs. E fabricam uma centena de tijolos elaborados, com diferentes tamanhos e formatos. Antes, com imaginação suficiente, mesmo os blocos mais simples podiam se tornar estruturas muito complexas. E o que é verdade para o Lego também é para o mundo natural.

Nosso mundo é um conjunto gigante de construção – e que, como no Lego inicial, conta com uma pequena variedade de blocos de construção. Nos últimos dias, eu vi cientistas falarem sobre proteínas, terapias genéticas e anéis de polímeros como se fossem Lego.

Mas o Lego moderno significa que você pode construir modelos ainda mais complexos? A resposta é: “Um pouco, mas não tanto quanto pensa”.

Em um artigo com o título pouco convencional – Escalas de Diferenciação em Redes: Sistemas Nervosos, Organismos, Colônias de Formigas, Negócios, Universidade, Circuitos Eletrônico e Legos -, Mark Changizi e alguns colegas da Universidade Duke, na Carolina do Norte, EUA, estudaram redes sob pressão econômica ou seletiva.

Eles descobriram que, para esses sistemas, como você esperaria, há um aumento no número de tipos de componentes – ou no caso de sistemas com vida, divisão de trabalho – conforme o número total de peças aumenta. E porque os componentes são usados de maneira combinatória, se o conjunto fica maior, eles usam cada vez menos tipos de peças adicionais. “Mas no novo Lego, o número de tipos de peças cresce quase tanto quando o tamanho/complexidade do conjunto, o que significa que quase não se está usando as peças de maneira combinatória”, comenta Changizi, que testa sua teoria com seus filhos.

De fato, o Lego, novo ou velho, se empilha mal com a natureza. Com apenas 200 tipos de células, é possível construir não apenas o corpo humano, mas o objeto mais complexo conhecido no universo: o cérebro humano. Imagine construir um humanoide com apenas 200 peças.

A professora de física de Cambridge, Athene Donald, quer ver o Lego voltar a ser simples e genérico por outra razão. Ela não está feliz com os novos “amigos” do Lego, direcionados às garotas. Pequenas bonecas fofinhas com faixas de cabeça, escova, batom, salão e cupcakes. Ela aplaude a Lego por encorajar a destreza manual, a engenharia e as técnicas de construção, mas se preocupa com essas tentativas de atingir as meninas o que dá força a estereótipos. “Os piratas da Lego costumavam ser unissex (pelo menos eu sempre pensei assim) e o rosa nunca estava em evidência”, comenta.

Mas talvez toda essa preocupação com Legos esteja ancorada em um fato: um incrível número de pessoas se preocupa com o apelo não estético dos pequenos blocos coloridos. Fora aqueles momentos em que nossos pés acabam pisando em um deles. [Telegraph]

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