Cometas trouxeram a vida para a Terra?

Por , em 6.03.2013

Uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia em Berkeley e da Universidade do Havaí em Manoa, ambas nos EUA, traz evidências de que cometas como o Halley podem ter sido um terreno fértil para moléculas complexas como dipeptídeos.

Sendo assim, quando colidiriam com a Terra milhões de anos atrás, podem ter trazido essas moléculas e semeado o crescimento de proteínas mais complexas e açúcares necessários para o surgimento da vida no nosso planeta.

Origem da vida na Terra

Os cientistas acreditam que a Terra foi fundida quando se formou, há 4,6 bilhões de anos. Ela teria permanecido assim durante os primeiros 50 a 100 milhões anos de existência, e tal calor sugere que o planeta estava seco.

Quando surgiu a água na Terra, então? Que tipo de coisa carregada com água poderia ter atingido nosso planeta? Os cometas são a resposta óbvia. Esses pedaços gigantes de gelo, juntamente com asteroides rochosos, que são os restos da formação do sistema solar, podem ter trazido água a Terra.

Além disso, os astrônomos acreditam que as superfícies de cometas são revestidas com compostos orgânicos, o que sugere que também podem ter fornecido outros ingredientes essenciais para a vida.

No entanto, enquanto os cientistas já descobriram moléculas orgânicas básicas, tais como aminoácidos, em numerosos meteoritos que caíram na Terra, eles têm sido incapazes de encontrar estruturas mais complexas moleculares que são pré-requisitos para a biologia do nosso planeta. Como resultado, a maioria assume que a química realmente complicada da vida deve ter se originado nos oceanos primitivos da Terra.

O novo estudo

Agora, uma nova experiência que simulou condições do espaço profundo revelou que os blocos de construção complexos da vida poderiam ter sido criados na poeira interplanetária gelada do espaço e levados para a Terra a partir de cometas, por exemplo.

Em uma câmara de ultravácuo refrigerada a 10 graus acima do zero absoluto (-273,15°C), a equipe havaiana simulou uma bola de neve gelada no espaço, que continha dióxido de carbono, amônia e vários hidrocarbonetos, como metano, etano e propano.

Quando ela foi atingida com elétrons de alta energia para simular os raios cósmicos do espaço, as substâncias químicas reagiram e formaram compostos orgânicos complexos, especificamente dipeptídeos, essenciais para a vida.

Na Universidade de Berkeley, os cientistas então analisaram os resíduos orgânicos através de um instrumento ultrassensível para identificação de pequenas moléculas do sistema solar, e esta análise revelou a presença de moléculas complexas – nove aminoácidos diferentes e pelo menos dois dipeptídeos, capazes de catalisar a evolução biológica na Terra.

Em resumo, os pesquisadores mostraram que as condições no espaço são capazes de criar dipeptídeos complexos – pares ligados de aminoácidos -, que são blocos de construção essenciais compartilhados por todas as coisas vivas.

A descoberta abre a porta para a possibilidade de que estas moléculas foram trazidas para a Terra a bordo de um cometa ou, possivelmente, de meteoritos, que catalisaram a formação de proteínas (polipéptidos), enzimas e moléculas ainda mais complexas, tais como açúcares, no nosso planeta.

“É fascinante considerar que os mais básicos blocos bioquímicos que deram origem à vida na Terra podem ter tido uma origem extraterrestre”, disse o químico Richard Mathies.[PhysOrg]

9 comentários

  • Cesar Grossmann:

    A ideia de que já chegamos aqui “formatados” (seja lá o que isto signifique, vou supor que signifique o código genético já pronto) é que introduz elementos complicadores desnecessários. Ela multiplica exponencialmente as dúvidas e problemas a resolver: como foi que o código genético foi formado, onde foi formado, por que ele foi formado no espaço e não aqui, e por aí vai. Se supormos uma inteligência qualquer agindo, a situação só piora: como surgiu esta inteligência, onde ela surgiu, como evoluiu, por que criou estas “sementes de DNA”, como o fez, como encontrou este planeta, etc. A quantidade de perguntas aumenta demais.

    É MUITO mais simples supor que os cometas formaram os compostos orgânicos mais simples que depois choveram aqui e, por processos como os descritos pelo professor Jack Szostak, acabaram originando a vida. É mais simples, e tem um ponto fortíssimo ao seu favor: já sabemos que realmente os cometas tem os compostos orgânicos mais simples, sabemos até como eles podem se formar no gelo, conhecemos esta química, e ela é extremamente simples.

    • Cesar Grossmann:

      Bom, considere o curto período em que Marte teve condições de abrigar vida, e o tempo enorme que levou para a vida passar da fase unicelular para metazoária aqui na Terra, e você vai ter uma boa razão para supor que a vida em Marte nunca passou do estágio de bactéria, se é que houve vida lá.

      O resto é extremamente improvável. Como é que uma civilização avançada não deixou marcas em Marte? Não há absolutamente nenhum sinal de vida metazoária, nem um osso, e nenhum sinal de tecnologia. Ou mesmo de cidades. Ou qualquer outra coisa.

      Finalmente, há um problema prático na sua hipótese. O DNA. O DNA humano não é só humano, temos trechos no nosso DNA que são quase tão antigos quanto a vida. Alguns dos processos que acontecem no núcleo das células humanas acontecem até mesmo em bactérias e outros organismos. Mesmo DNA, mesmas proteínas essenciais, mesmos processos metabólicos essenciais…

      Se o homem tivesse evoluído em outro planeta, então teríamos no nosso DNA uma história que não teria nenhuma coincidência com a história contada pelo DNA de outros seres vivos daqui. Por exemplo, por que teríamos tanta coincidência genética com chipanzés, se os chipanzés fossem terráqueos e nós fôssemos marcianos?

      Dá para descartar tranquilamente a hipótese do ser humano ter evoluído em outro planeta e ter sido transplantado para cá.

  • Jonatas:

    Considero que existem três versões básicas de panspermia ou relação gênesis vinculada ao espaço:

    1 – Humana, na qual teríamos vindo a Terra trazidos por seres extraterrestres, ou a nossa informação genética básica, simplesmente, a la Prometeus, que se mesclou a símios primitivos gerando uma espécie de desenvolvimento fabuloso. Esta tem pouca ou nenhuma aceitação no meio científico, porque a teoria da evolução tem indícios e considerações maiores que implicam que a evolução humana, apesar de nos parecer tão saliente a nossos olhos egocêntricos, é tão natural quanto a de quaisquer outros seres terrestres, que também desenvolvem inteligência, a seu próprio tempo.

    2 – Genética, onde a essência imediata da vida, a informação genética, está sendo produzida espontaneamente em tudo que é canto do cosmos e por vezes encontra bons planetas pra proliferar – essa é a grande arte da vida. A bordo de seus cometas ou quando cai ou surge em planetas escassos em recursos e/ou inóspitos demais, desenvolve-se na forma de seres simples, resistentes e primitivos, como bactérias. Mas quando esses dados encontram um planeta que tem riqueza química e mananciais líquidos, ela faz mais do que apenas proliferar e evoluir, molda o planeta inteiro, foi o que aconteceu aqui – independente dela ter vindo do espaço ou surgido aqui mesmo, um fato aponta que essa versão é possível: a vida apareceu aqui pouco após a formação do planeta, num terreno que era mais hostil que Marte, mas quimicamente enriquecido – ela se forma muito mais facilmente do que imaginamos, é só uma questão de tempo e química, nem precisa muito tempo. Sou um simpatizante dessa hipótese, mas dado o pouco tempo entre esfriamento planetário e origem dos primeiros seres vivos, considero a panspermia genética algo a considerar, e que ainda pode estar acontecendo, nada me convenceu ainda como uma explicação ao fenômeno das chuvas de sangue e seu suposto conteúdo genético, por exemplo -tem mais coisas a levantar sobre isso.

    3 – Química, não há nem o que falar, são vários lugares com compostos orgânicos, isso só no Sistema Solar…

  • jodeja:

    Quantas informações importantes, será que ainda há dúvidas de que existem habitantes em ou planetas?

  • Igor Gabriel:

    Compreendo como os meteoritos podem ter atingido a Terra e depositar aqui material da sua composição. Mas como ocorre isto quando se trata de cometas? Já que não colidem com a Terra, como possuímos material de sua composição?

    • Jonatas:

      Em certos casos, os meteoritos que chegam até aqui são pedaços desprendidos dos cometas durante o processo de intensa violência e atividade que forma a cauda luminosa que os caracteriza. O cometa percorre o caminho de sua órbita ao redor do Sol, deixando uma trilha de fragmentos – a Terra pode cruzar muitas vezes esses caminhos, ocorrendo no céu o fenômeno das chuvas de meteoros – geralmente pequenos demais pra atingir o solo – se desintegram por atrito, mas sua substância passa a fazer parte de nossa atmosfera. No mais, a Terra foi atingida por cometas no passado, quando o sistema solar estava uma bagunça gravitacional, e algum tempo depois, durante o intenso bombardeamento tardio, que formou as crateras da Lua.

    • Cesar Grossmann:

      Na verdade houveram muitas colisões de cometas no passado, quando era mais comum a presença deles no sistema solar interior. Acredita-se que a água dos oceanos terrestres seja o resultado destas colisões com as “bolas de gelo sujo”.

      Sobre a composição dos cometas, ela pode ser descoberta indiretamente através da espectroscopia (mesmo processo usado para determinar a composição do Sol, por exemplo), e também pela coleta de material (já tivemos algumas sondas visitando os cometas e pelo menos uma delas retornou amostras).

  • Danilo Moço:

    A hipótese da Panspermia diz que a vida veio do espaço através de meteoros diferente da hipótese da Sopa Primordial que é a mais aceita no meio científico, não vou falar sobre ela .Mas a Panspermia ganhou mais força depois de uma descoberta.Foram encontrados nos EUA se não me engano foi no estado do Novo México,os cientistas pegaram algumas amostras de cristais de sal que estavam em uma caverna subterrânea,fizeram análises sobre o material em encontraram bactérias e para a surpresa deles elas estavam vivas lá por +ou- 250 milhões de anos.elas “empacotaram´´ DNA delas transformando em uma casca muito resistente de proteína e isso fez com que ela paralisassem as funções metabólicas e depois se desidratavam permanecendo assim adormecidas,até que o ambiente se tornou propício para elas quando os pesquisadores manuseavam o cristal e executarem novamente suas funções.Aí nós podemos pensar se um organismo super resistente pode permanecer vivas durante todo esse tempo a vida na Terra poderia não ter surgido da própria mas poderia ser de origem extraterrestre já que foram encontrados cristais de sal em alguns meteoritos!! Já a questão dos cometas eles poderiam ter sido mais um “ingrediente´´ para a Sopa Primordial, como o próprio texto diz que os cometas podem ter trazido moléculas, as proteínas e açúcares necessários para o surgimento da vida na Terra.

  • Jonatas:

    Reportagens antigas, antigas digo do ano passado, aqui mesmo nesse site poderiam ser juntadas num mosaico que mostra, a cada nova notícia, pesquisa e descoberta divulgadas, os rumos que a astrobiologia está tomando para deixar de ser uma ciência do campo teórico e passar para o campo prático.
    Lembrando de algumas das notícias: Plutão pode ter moléculas orgânicas, foram identificadas moléculas orgânicas em Planeta Anão (Haumea), Aminoácidos essenciais à vida detectados em Nebulosa, lua saturnina pode ter grande oceano oculto, Plutão pode ter grande oceano sob sua crosta, Titã tem rios de hidrocarbonos e nuvens de compostos orgânicos complexos…
    Claro, não lembrei dos títulos diretamente, mas do conteúdo sim. Só se pode definir se estimamos ou não que vida é um fenômeno com condições de surgir espontaneamente por muitos lugares do cosmos, dado que a quantidade de indícios dessas condições é enorme, e o campo que conseguimos explorar é ínfimo em relação a vastidão cósmica.
    Muitos pensam que quando acharmos vida extraterrestre isso mudará nossos paradigmas pessoais – não vai; mas o processo da procura, acumulando descobertas e derrubando preceitos, é que mudará as nossas ciências e consciências gradualmente até o momento do encontro com um habitante de outro pedregulho do espaço.

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