Dentro da mente de um piloto de motociclismo de rua

Por , em 24.05.2012

Pilotar uma motocicleta em uma corrida é extremamente estressante, e exige muito, tanto mental quanto fisicamente dos pilotos. Pilotar em uma rua normal, não planejada para corridas, é ainda pior.

Mas o que faz com que um piloto queira se submeter a este estresse todo? O que é que faz com que eles se disponham a arriscar a vida competindo a velocidades superiores a 300 km/h em vias públicas?

O ex-piloto da World Superbike Carl Fogarty conta que quando corria não estava preocupado com o risco, estava tão obcecado por vencer que se sentia o maior corredor de todos.

Bill Coe, um treinador que trabalhou em mais de 75 diferentes esportes, ajudando seus atletas a conseguir melhores performances, concorda que as demandas do motociclismo são maiores – o piloto tem maiores chances de ser ferido, mutilado ou morto em uma competição -, mas é a disposição para encarar estes riscos que destaca estes corredores.

Eles são o que chamamos de “caçadores de emoções”, que adoram atividades estressantes, por causa da liberação de epinefrina (adrenalina) e endorfinas.

Esta opinião é compartilhada por Guy Martin, corredor da North West 200, maior evento de motociclismo de rua da Irlanda, que diz que “todos sabemos que é um esporte perigoso e aceitamos isto. Provavelmente o elemento do perigo é a razão para que a gente o faça – eu gosto do barulho”. E mais, “as pessoas não entram neste esporte se elas tem medo de se machucar ou de morrer”.

Michael Dunlop, outro corredor, concorda. Em 2008, ele comemorou em lágrimas a sua primeira vitória na North West 200, aproximadamente 36 horas depois de perder o pai, Robert Dunlop, em um acidente nesta mesma corrida. Também não havia sido a primeira tragédia da família, já que o tio Joey Dunlop morrera em outro acidente, em uma corrida no ano 2000.

O que leva a outra pergunta, será que é possível “criar” este tipo de atleta, ou ele já nasce assim?

Muitos pilotos de elite nasceram e se criaram em famílias de corredores. Michael e seu irmão William Dunlop são os últimos membros de uma dinastia de motociclistas da Irlanda do Norte, com Robert e Joey sendo os mais famosos membros.

Bill Cole acha que a atitude de assumir riscos é parte da personalidade de uma pessoa, feita tanto pela natureza quanto pela criação.

Entre a irmandade dos motociclistas, a corrida de rua é considerada particularmente assustadora. Por mais que sejam tomadas precauções, quando um piloto passa de 300 km/h, os acidentes podem ser muito sérios.

O piloto Michael Rutter dá uma perspectiva interessante, ao relatar que quando participa de uma corrida de rua, ele sempre deixa uma margem de segurança, pilotando a 80% de sua capacidade, enquanto em circuitos ele não se segura e dá tudo que pode.

E quando um piloto envelhece, tem uma família, etc. Será que a maneira de encarar a corrida muda?

O veterano Steven Plater considera que os ferimentos são uma consequência aceitável do esporte. Ele já sofreu mais de 150 acidentes durante sua carreira, com diferentes graus de severidade. Além disso, ele acha que ninguém acredita que vai bater ou sofrer um acidente: todos estão concentrados na corrida, tentando dar a volta perfeita, e mantendo-se focados 100% nela.

O psicólogo desportivo Craigh Mahoney acredita que com o tempo os corredores se tornam mais cautelosos, e começam a considerar o impacto que um ferimento ou fatalidade pode causar aos que estão ao seu redor.

Um dos exemplos é Phillip McCallen, várias vezes campeão da North West 200, que agora ensina pilotos de primeira viagem e dá dicas de segurança em testes no circuito de 14 quilômetros.

Mas não é só a força mental e a crença em si mesmos que fazem um motociclista, apesar de serem componentes chave. A superstição também faz parte.

Joey Dunlop sempre usava uma camiseta vermelha e um capacete amarelo quando competia. Carl Fogarty acha que foi a “sorte dos Irlandeses” que ajudou-o a quebrar um vudu em 1993. Até ali ele sempre tinha azar, mas a sorte mudou quando seguiu um conselho de usar alguma coisa verde no dia da corrida.

De qualquer forma, as corridas de motocicleta são muito populares entre os irlandeses, e a North West 200 seja talvez a mais popular delas. Quando as multidões se reunirem para a próxima corrida, perto o suficiente para quase tocar os pilotos, todos estarão concentrados no mesmo objetivo: “Meu trabalho é vencer corridas. Quando eu venço, não há emoção maior no mundo”, disse Phillip McCallen. [BBC]

2 comentários

  • Marcos – DF:

    Olá a todos !
    Legal a reportagem. Realmente estes pilotos tem um algo a mais em relação aos “comuns” e acho que é mais a vontade de vencer uma corrida do que a atração pelo perigo que os leva às pistas (no caso, ruas).
    César, poderia ser focado também as corridas na Ilha de Man, onde o circuito tem partes montanhosas e extensão aproximada de 60 Km e as motos de lá são motos de grande cilindrada …
    Abraços a todos !

  • Germano:

    coragem é a mistura de medo + disposição

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