Esta torre puxa água potável do ar

Por , em 24.04.2014

O designer industrial Arturo Vittori inventou uma torre que pode proporcionar mais de 95 litros de água potável por dia a aldeias remotas de todo o mundo.

Em algumas partes da Etiópia, encontrar água potável é uma jornada de seis horas. Além de demorar pra chegar até ela, quando as pessoas encontram água, muitas vezes ela não é segura para beber, já que é coletada de lagoas ou lagos repletos de bactérias infecciosas, contaminados com resíduos de animais ou outras substâncias nocivas.

A escassez de água afeta quase 1 bilhão de pessoas só na África. Esse problema tem atraído a atenção de grandes nomes filantropos, como o ator e cofundador da organização Water.org Matt Damon e o confundador da Microsoft Bill Gates que, através de suas respectivas entidades sem fins lucrativos, já gastaram milhões de dólares em pesquisa para chegar a soluções como um sistema que converte água do vaso sanitário em água potável.

Os críticos, no entanto, têm suas dúvidas sobre como integrar essas tecnologias complexas em vilarejos remotos que não têm sequer acesso a água. Os custos e a manutenção podem tornar muitas dessas ideias impraticáveis.

Outras invenções de baixa tecnologia podem não ser tão complicadas, mas ainda dependem dos usuários encontrarem uma fonte de água, o que, como já foi estabelecido, é um grande problema na Etiópia, por exemplo.

Foi pensando neste dilema – achar uma forma prática e conveniente de levar água a esses locais – que Vittori, junto com seu colega Andreas Vogler, criou a torre.

A estrutura de baixo custo e facilmente montável chama-se Warka Water (nomeada a partir de uma figueira nativa da Etiópia). O invólucro exterior rígido de 9,15 metros de altura é composto por hastes leves e elásticas, colocadas em um padrão que oferece estabilidade em face de rajadas de vento forte, mas que permite que o ar flua. Uma rede de malha, feita de nylon ou polipropileno, paira dentro da torre, recolhendo as gotas de orvalho que se formam ao longo da sua superfície. Conforme ar frio se condensa, as gotículas rolam para baixo dentro de um recipiente, na parte inferior da torre. A água neste recipiente, em seguida, passa através de um tubo que funciona como uma torneira, transportando-a para aqueles que estão no chão.

Usar malha para capturar água potável não é um conceito totalmente novo. Alguns anos atrás, um estudante do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA) projetou um dispositivo para “colher” nevoeiro. A invenção de Vittori produz mais água a um custo mais baixo, no entanto.

“Na Etiópia, infraestruturas públicas não existem e a construção de algo como um poço não é fácil. Para encontrar água, é preciso perfurar profundamente o solo, muitas vezes tanto quanto 490 metros. Então, é tecnicamente difícil e caro. Além disso, as bombas precisam de eletricidade para funcionar, bem como o acesso a peças de reposição no caso de quebra”, explica Vittori.

Já a torre de água Warka pode fornecer mais de 95 litros de água ao longo de um dia de forma barata e simples. Como o fator mais importante na coleta e condensação é a diferença de temperatura entre o anoitecer e o amanhecer, as torres funcionam bem inclusive no deserto, onde as temperaturas podem variar até 27 graus Celsius em 24 horas.

A estrutura, feita a partir de materiais biodegradáveis, é fácil de limpar e pode ser erguida sem ferramentas mecânicas em menos de uma semana. Além disso, uma vez que os habitantes locais aprenderem a montá-la, serão capazes de ensinar outras aldeias e comunidades a construir sua própria Warka.

Ao todo, cada torre custa cerca de US$ 500 (cerca de R$ 1.100) para ser montada – menos de um quarto do custo de algo como o vaso sanitário conversor, que sai cerca de US$ 2.200 (R$ 4.860) para instalar, e mais para manter. Se for produzida em massa, o preço seria ainda menor.

A equipe de Vittori espera instalar duas torres Warka na Etiópia até o próximo ano, e está atualmente à procura de investidores interessados em levar a tecnologia de captação de água a toda a região.

“Não é apenas a incidência de doenças que estamos tentando diminuir. Muitas crianças etíopes de aldeias rurais passam várias horas por dia buscando água, tempo que poderiam investir em atividades mais produtivas e em educação”, diz Vittori. [SMag]

8 comentários

  • alexborland2:

    Não sei se a iniciativa é puro filantropismo, ou marketing, mas que a solução é atraente isso é indiscutível.

  • Regis Olivetti:

    Se der certo como diz a reportagem, o cara merece um premio Nobel, mas não sei qual!

  • Elisandra Peterson Souza:

    Soluções simples que poderiam ser instaladas, por exemplo, no nordeste do Brasil sem precisar destruir o Rio São Francisco.

    • Cesar Grossmann:

      Está falando da transposição do rio São Francisco? O volume que seria bombeado não chega a 2% do volume médio do rio. Será que isto vai destruir o rio? Acho que não.

  • Naldo Soares:

    Ajudar no controle populacional ninguém quer né

    • Cesar Grossmann:

      Meio sem noção, este teu comentário, não acha, Naldo? Quer dizer, controle populacional mata a sede? A falta de água no deserto é causada por falta de controle populacional?

    • Louren Azuvich:

      Não sei Cesar. Hoje em dia não duvido de ninguém na internet. Acho que nas mais macabras das hipóteses o que o Naldo se referiu era(no meu ver) “controle” populacional por desidratação.
      Acho que era para “nivelar por baixo”, se for o caso isso foi sem noção e muito frio.

    • Cesar Grossmann:

      Uma sinistra conspiração iluminatti para diminuir a população do mundo? Nunca vi prova alguma da tal conspiração. Aliás, não perco meu tempo com conspirações, a maioria é impraticável e todas elas sofrem de um mesmo mal: ausência de provas.

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