Homem paga U$ 4,8 milhões por medalha de Nobel e DEVOLVE ela para o dono

Por , em 10.12.2014

O homem mais rico da Rússia, o magnata do aço e das telecomunicações Alisher Usmanov, revelou que comprou a medalha de ouro do Prêmio Nobel que o cientista americano James Watson havia ganho em 1962, com Maurice Wilkins e Francis Crick, por ter descoberto a estrutura do DNA.

Alisher Usmanov pagou a bagatela de 4,8 milhões de dólares (algo em torno de mais de 12 milhões de reais) em um leilão. Será que preciso dizer que foi a primeira vez na história que uma medalha do Prêmio Nobel foi vendida enquanto seu ganhador ainda estava vivo? Acredito que esse não é exatamente o tipo de coisa que as pessoas queiram vender.

O que aconteceu, meu caro Watson?

O elementar: ele precisava de dinheiro. Mas em um primeiro momento, o Sr. James Watson, 86, disse a um jornal internacional que planejava doar parte dos lucros para instituições de caridade e de apoio à investigação científica. O magnata Usmanov julgou essa situação como sendo absolutamente “inaceitável”.

O que ele fez: muito nobremente comprou a medalha de forma anônima (só revelou que ele era o licitante semana passada) com a intenção de devolvê-la a seu dono, já que é de Watson por mérito.

“Na minha opinião, uma situação em que um notável cientista tem que vender uma medalha de reconhecimento por suas conquistas é inaceitável”, declarou o salvador da pátria, Usmanov. Para ele, James Watson é um dos maiores biólogos da história da humanidade, e seu prêmio – no caso, a medalha do Prêmio Nobel – deve pertencer a ele.

Mas tem que ter bala na agulha para defender esse ponto de vista

Sorte do Watson que seu benfeitor está mais que bem armado. Segundo a revista Forbes, Usmanov (que é um dos maiores acionistas do clube de futebol Arsenal, da Inglaterra) tem uma fortuna avaliada em algo em torno de US$ 15 bilhões de dólares. Ou seja: mais de 30 bilhões de reais. Dá pra comprar algumas medalhas do Prêmio Nobel com isso – e arrisco dizer que até ficar com alguma, se ele quiser. Essa grana toda rendeu a ele o prêmio de homem mais rico da Grã-Bretanha em 2013.

Com que cara James Watson ficou com tudo isso?

Receber um prêmio tão nobre quanto o Prêmio Nobel, e tão renomado internacionalmente, parece ser uma coisa tão de outro mundo que, não sei para você, mas me parece algo que uma pessoa não queira vender. E eu não fui a única a pensar assim.

Uma das justificativas de Watson para vender o prêmio era que ele precisava de dinheiro, como comentei ali em cima. Mas ele queria usar o tutu não só para fazer doações e estimular o desenvolvimento científico, mas também para comprar algumas obras de arte.

Bom… Precisando tanto assim de dinheiro para comprar quadros?

Mas não foi só isso que pegou mal, não

Watson caprichou mais. Ele não é o cara mais popular do mundo por conta de uma série de comentários preconceituosos, diretamente racistas ou sexistas que soltou ao longo dos últimos anos. Por exemplo, ele disse ao jornal inglês Sunday Times que ele era:

“inerentemente pessimista sobre a perspectiva da África”, porque “todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa”.

Ele disse ainda que, enquanto nós podemos desejar que a inteligência seja igual em todas raças, “as pessoas que têm de lidar com empregados negros descobrem que isso não é verdade”.

Parece que a venda da medalha foi só a cerejinha do bolo na impopularidade de Watson

Em 2007, ele chegou a justificar o racismo com pseudociência, o que fez com que ele perdesse seus cargos acadêmicos (o que correspondia a toda sua renda) e, consequentemente, toda sua credibilidade. Em 2012, foi a vez de comentários machistas. Em uma conferência de ciências naquele ano, ele falou sobre as mulheres na ciência:

“Eu acho que ter todas essas mulheres por perto tornam tudo mais divertido para os homens, mas elas são, provavelmente, menos eficazes”.

Em pleno 2014, o melhor termo para definir essa declaração seria, muito provavelmente, “recalque”.

Watson é idoso, tem 86 anos. Pode ser plausível que ele esteja sofrendo algum tipo de demência que o faz perder o filtro do que fala. É um sintoma comum. Talvez seja isso, ou talvez seja a mentalidade de uma geração passada que não era muito fã de direitos igualitários. [BBC, Patheos]

medalha de ouro do prêmio nobel vendida

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