Você não é dono dos próprios genes

Por , em 31.03.2013

O alerta foi dado por um estudo publicado em 25 de março no periódico Genome Medicine: mais de 40.000 patentes foram concedidas sobre trechos de DNA longos e curtos, virtualmente dando o controle comercial de todo nosso genoma às empresas que as registraram.

O estudo se concentrou em dois tipos de sequências de DNA patenteadas: fragmentos longos e curtos. Foi descoberto que 41% de todo o genoma humano é coberto por patentes de DNA longo, cobrindo geralmente genes inteiros.

Além disso, como os genes compartilham estruturas similares dentro de sua estrutura genética, se todas as patentes de sequências curtas forem agregadas, podem cobrir 100% do genoma. O seu médico não vai poder examinar o seu DNA sem violar patentes.

O problema está chegando à Suprema Corte dos Estados Unidos, que vai revisar os direitos de patentes genômicas em uma audiência no dia 15 de abril. A decisão da Corte vai influenciar diretamente os direitos de companhias de diagnóstico molecular de patentear não um, mas dois genes de câncer do seio e do ovário, BRCA1 e BRCA2, e também qualquer sequência menor dentro de BRCA1, incluindo uma patente para apenas 15 nucleotídeos.

E não é só estes dois genes que a empresa patenteou: ela tem pelo menos outros 689 genes humanos patenteados, relacionados a outros 9 cânceres, além do desenvolvimento do cérebro e funcionamento do coração.

Na prática, significa que nenhum médico ou pesquisador poderá estudar o DNA destes genes de seus pacientes, e nenhuma droga de diagnóstico ou tratamento poderá ser desenvolvida baseada nestes genes, sem violar as patentes – a não ser que a droga seja desenvolvida pela empresa.

A empresa que tem as patentes do BRCA1 e BRCA2 oferecem serviços de diagnósticos de câncer ao custo de US$3.000 por teste (cerca de R$6.000,00), um valor que, graças à proteção das patentes, tem que ser pago, mesmo que outros laboratórios tenham condições de oferecer o mesmo teste a preços mais baixos.

E não é só o diagnóstico e tratamento que encarecem – a própria pesquisa genética também fica mais cara, já que é praticamente impossível trabalhar com genética sem tropeçar em um gene patenteado por dia. E, se considerarmos as sequências pequenas, que se repetem em todo o genoma, é impossível trabalhar com o genoma humano sem lidar com genes patenteados.

Para quem tem dinheiro e quer trabalhar com os genes patenteados, outro problema: determinar quais patentes cobrem um determinado gene. As patentes de sequências curtas se sobrepõe e diferentes patentes podem ser aplicadas sobre um mesmo gene, como o BRCA1, por exemplo.

Como se esta confusão não fosse suficiente, ainda há o problema das patentes de DNA que cruzam a barreira das espécies. Uma empresa que patenteou genes referentes à criação de vacas acabou tendo direitos sobre 84% do genoma humano.

Os pesquisadores apontam que são a favor do sistema de patentes, mas é preciso equilibrar essa proteção aos inventores com o bem da medicina, o investimento em pesquisa e a inovação. Mais que isso: os indivíduos têm que ter direitos sobre seu próprio genoma, e permitir que médicos o examinem da mesma forma que examinam pulmões e rins.[MedicalXpress]

5 comentários

  • Mindo Riu:

    É piratear em nome de uma boa causa!

  • Lucas Noetzold:

    coisa ridícula
    deveria ser proibido patentear genes em primeiro lugar

  • Shilik@:

    Se eles aprovarem lá um besteirão desse, isso prova que a ganância e a falta de respeito não tem limite com o ser humano na terra. Embora que exista muito laboratório americano no Brasil, espero que as autoridades por aqui sejam mais dura e bane toda aquela industria que queira criar dificuldades aos cidadãos enfermos.

  • Lucas Noetzold:

    coisa ridícula
    deveria ser proibido patentear genes em primeiro lugar

  • vaschmitt:

    Esse texto eu fiz há uns 11 anos em um trabalho de biologia e pelo o que eu observei o texto acima está acontecendo exatamente isso o que traz um grande problema para as pessoas cuidarem da sua saúde….

    O Genoma Humano

    A questão do Genoma Humano pode haver muitas interpretações, e aquele que faz parte da cabeça de muitas pessoas é se as leis a respeito disso serão realmente respeitadas, sem o uso indevido das características genéticas de um ser humano para fins de enriquecimento de uma minoria, que se aproveitará para utilizá-la sem o sequer conhecimento do indivíduo.
    O que já ocorreu numa tribo da Amazônia onde, o sangue dos indígenas está patenteado por uma empresa norte americana, ou seja, eles não têm mais o direito de seu próprio sangue e se alguém retirar o sangue de uma pessoa dessa tribo (até para exames de rotina) deverá pedir permissão à patente e pagar.
    Pode-se fazer isso com o sangue dos indígenas, o que dirá se não vai fazer isso com o Genoma Humano dos indivíduos, que só descobrirem uma característica diferente para que todos requererem a patente.
    E nesse modo de vista, a pessoa não terá o direito de mandar em seu próprio corpo, pois cada parte de seu Genoma será patenteado por uma empresa para que no fim sejamos apenas armazéns de Genoma e quando necessitarem vão pegar o que precisarem sem nenhum problema e o retorno disso será pagar para usar aquilo que já fez parte de nosso corpo.

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