Experiências do pensamento: veja 10 que ajudam (ou não) a entender o mundo
Os filósofos têm suas maneiras próprias e, às vezes, bastante peculiares, de enxergar e entender o mundo. Para compartilhar seus conhecimentos conosco, reles mortais, eles possuem alguns métodos específicos. Os mais divertidos deles são as “experiências de pensamento”: raciocínios lógicos a respeito de experimentos que não são realizados na prática, mas podem ter suas consequências exploradas pelo nosso pensamento e pela nossa imaginação.
Alguns destes experimentos são extremamente famosos, como a Caverna de Platão. Outros, nem tanto. Aqui estão dez das experiências de pensamento mais curiosas propostas pelos filósofos para tentar entender o mundo:
10. O Burro de Buridan
Imagine que um burro se encontra colocado precisamente entre duas pilhas igualmente tentadoras de feno. Não há absolutamente nenhuma diferença entre qualquer um dos potenciais jantares. Qual o burro vai escolher? Quanto mais faminto ele fica, mais ele deseja comer e ainda mais importante a sua escolha se torna. Se nenhuma pilha de feno tem uma vantagem sobre a outra, então como o burro pode escolher uma? Ele vai continuar pensando na escolha até morrer.
Achou isso exagerado? Que nada!
Embora este experimento mental seja chamado de Burro de Buridan, ele não aparece nas obras deste filósofo do século 14. Ideias semelhantes podem ser encontradas voltando até Aristóteles. Talvez esta experiência deva simplesmente ser realizada para descobrir como um burro real iria se comportar – e para responder a perguntas importantes sobre o livre-arbítrio. Talvez o maior problema seja encontrar refeições idênticas para oferecer ao animal.
9. Caverna de Platão
A já citada alegoria da Caverna de Platão serve para nos ensinar sobre a concepção da realidade de Platão. Para ele, a realidade que tocamos com os nossos sentidos não é mais do que uma sombra de uma realidade superior. Esta ideia pode ser difícil de entender, então ele a colocou sob a forma de uma alegoria.
Você encontra-se acorrentado em uma caverna, incapaz de mover sua cabeça. Tudo o que você pode ver é a parede na sua frente. Você ouve outras pessoas acorrentadas ao seu lado, mas não pode vê-las. Em algum lugar atrás de você, um incêndio lança luz sobre a parede. Quando as pessoas passam entre o fogo e a parede, você pode ver suas sombras e ecos abafados. Tanto quanto você sabe, as sombras são tudo o que existe. Então, de alguma forma, você se liberta. Você fica de pé, vê o fogo e vê os objetos que formam as sombras. Você também vê uma maneira de sair da caverna. Na luz do sol, seus olhos ficam ofuscados, mas você em breve passa a conhecer o mundo real. Se você então é arrastado de volta para dentro da caverna, seus olhos ficariam mal ajustados ao escuro. Se você tentar explicar a natureza da realidade para os outros homens acorrentados, eles pensariam que você teria ficado louco, zombariam de você e possivelmente o matariam.
8. A Sala Chinesa
Suponha que você não sabe falar ou ler em chinês. Você se encontra em uma sala cheia de livros escritos em chinês e um conjunto de instruções escritas em português dizendo-lhe o que fazer. Um pedaço de papel com escrita chinesa é passado para dentro da sala. Você consulta suas instruções e copia os caracteres chineses, de acordo com as regras que lhe são dadas, e passa a sua resposta para fora da sala. Para a pessoa fora da sala, irá parecer que você passou a dominar o idioma chinês, quando na verdade você está apenas seguindo um conjunto de regras básicas.
Este experimento de pensamento vem de John Searle e é uma réplica do Teste de Turing, no qual um computador tenta chegar o mais próximo possível de dar respostas semelhantes a de um ser humano durante uma conversa. Se um computador é capaz de nos enganar e nos fazer pensar que estamos falando com uma pessoa, então este computador é inteligente? A pessoa dentro da sala de Searle está agindo como um computador, seguindo um roteiro, mas não tendo conhecimento do que está fazendo.
7. O Cérebro Partido de Parfit
Derek Parfit é um filósofo que estudou a teoria da identidade e lançou dúvidas sobre a ideia de uma identidade estável existente ao longo do tempo.
Digamos que nós aperfeiçoamos os transplantes de cérebro. Seu cérebro é extraído e dividido em dois, e cada metade é colocada em um clone do seu corpo. Cada paciente acorda, se lembra de suas memórias e pensa e sente como se fosse você, e agora existem duas pessoas que afirmam ser você. Existem agora dois vocês, ou você foi destruído pela criação de dois meios-você?
6. O Homem Pântano
O filósofo americano Donald Davidson foi mais longe no pensamento da teoria da identidade: digamos que, um dia, um homem está andando em um pântano. Com pouca sorte, ele é atingido por um raio e morre. No mesmo momento, um outro raio atinge uma parte diferente do pântano. Este segundo raio reorganiza os átomos daquela parte do pântano de forma exatamente igual ao arranjo de átomos do homem, antes que ele fosse atingido pelo raio. Este novo Homem Pântano sai do pântano pensando que é o homem que entrou lá, agindo como ele, sem nunca saber a diferença.
Podemos dizer que o homem que entrou no pântano sofreu danos? O homem é realmente o mesmo que entrou lá? Nós podemos ter que esperar pela criação do teletransporte antes de podermos responder esta.
5. Cérebro em um Tanque
Essa é para dar pesadelos durante a noite: e se, agora, você não está lendo este artigo em uma tela de computador ou de celular com seus olhos? E se você é, na verdade, apenas um cérebro flutuando em um tanque? Você pode pensar que você iria notar se essa fosse realmente a verdade, mas este tanque é uma máquina complexa. Dados sensoriais estão sendo alimentados em seu cérebro nu. Tudo o que você vê, ouve, toca e cheira são simplesmente sinais elétricos pulsando em sua massa cinzenta. Se a simulação é perfeita e consistente, então como você pode negar que esta é a natureza verdadeira da sua existência? Será que estamos na Matrix?
4. O Monstro Utilitário
O utilitarismo é uma filosofia ética que diz que devemos agir de forma a causar a maior quantidade de bem para o maior número de pessoas. Uma frase como esta faz parecer uma ideia perfeita, mas experiências de pensamento podem sondar o limite da utilidade do utilitarismo.
Imagine que nós criamos um ser que extrai mais utilidade das coisas do que as pessoas normais, o Monstro Utilitário. Quando comemos um bolo, temos uma certa quantidade de felicidade decorrente disso, mas a nossa criação, o Monstro Utilitário, recebe 1.000 vezes mais felicidade. Se houver apenas um bolo, para extrair o máximo uso dele, deveríamos, obviamente, dá-lo ao Monstro. Se houver dois bolos, então ainda devemos dar os dois para o monstro, já que ele vai ter mais felicidade do que se nós compartilhássemos, e assim por diante. Se o Monstro Utilitário faz um uso melhor de todas as coisas que nós, então o utilitarismo tenderia a fazer a maioria das pessoas infelizes, mas o nível total de felicidade no mundo ainda subiria.
3. O Violinista de Thomson
Outra crítica do utilitarismo vem daqueles que valorizam os direitos pessoais. Agora mesmo, várias pessoas estão à espera de transplantes de órgãos. Você é um saco de órgãos que anda. Você pode ser feliz, mas as dezenas de pessoas que necessitam de seus órgãos iriam apreciá-los mais. A coisa utilitária a fazer seria se matar (deixar algumas pessoas tristes) e dar seus órgãos para os outros (deixando muitas pessoas felizes).
Judith Jarvis Thompson propôs o seguinte experimento mental: uma manhã, você acorda conectado a um violinista inconsciente. O violinista está doente, e só o seu sangue pode mantê-lo vivo. Uma sociedade de amantes da música pagou médicos para conectar os seus sistemas circulatórios durante a noite. O violinista vai exigir esse arranjo por nove meses. Desconecte o violinista, e ele morre. Será que seria assassinato se você decidisse se separar do violinista? Mesmo que você nunca tenha consentido com a cirurgia, você tem responsabilidade sobre o violinista?
2. Besouros de Wittgenstein
Imagine que todos tenham uma caixa que só eles podem olhar dentro. Na caixa de todos há um “besouro”. Todo mundo chama a coisa em sua caixa de besouro, mas nunca podem comparar o que está na sua caixa, o seu besouro, com os besouros de outras pessoas. Nós só sabemos o que um besouro é referindo-nos à nossa própria caixa. É possível que todas as pessoas tenham algo completamente diferente em suas caixas. Também é possível que ninguém tenha nada em suas caixas.
O ponto do experimento é que nós nos referimos a coisas que os outros não podem ter acesso. Todas as crianças em algum momento perguntam se a cor azul que elas enxergam é a mesma que os outros estão vendo. Quando eu sinto dor, como posso saber se é a mesma coisa que você está experimentando quando você diz que está com dor?
1. O Quarto de Maria
Maria é uma cientista de nível mundial. Ela sabe todos os fatos que há para saber sobre a cor. Não há aspectos físicos, químicos ou neurofisiológicos da cor que ela não tenha estudado e dominado. Só falta uma coisa: ela realizou toda a sua pesquisa em um quarto preto e branco. Um dia, Maria é liberada de seu quarto e vê a cor pela primeira vez. Ela não aprende nada de novo; ela sabia tudo isso antes, mas ela ganhou conhecimento da experiência com a cor?
Este experimento de pensamento vem do trabalho de Frank Jackson chamado “O que Maria não sabia” e lida com um dos problemas mais profundos da filosofia: o que é o conhecimento? Uma pergunta que talvez nem os experimentos abstratos do pensamento podem responder. [Listverse]