25% dos assassinatos do mundo acontecem em 4 países da América do Sul

Por , em 4.11.2018

A América Latina tem apenas 8% da população mundial, mas registra 25% dos assassinatos do mundo todo. Segundo as Nações Unidas, esta é a única região que tem observado um aumento constante na violência letal. E há quatro países que lideram este ranking na América do Sul: Brasil, Venezuela, México e Colômbia.

Em 2017, o Brasil, com população total de 209,3 milhões, bateu o recorde de assassinatos, com 63.808 vítimas. O México também bateu seu próprio recorde: em sua população de 129,2 milhões, registrou 31.174 homicídios.

Dados do Fórum de Segurança Pública do Brasil mostram que nossa taxa de homicídios é de 30,8 pessoas a cada 100 mil pessoas, enquanto o México tem 25 por 100 mil. Para comparar, os Estados Unidos têm 5 assassinatos a cada 100 mil, Portugal tem 0,97 por 100 mil e a China tem 0,74.

O mapa e gráfico abaixo comparam o número de mortes por violência no Brasil com outros países:

Homicídios anuais no Brasil em comparação com mesmo número em todos os países em azul

Homicídios no Brasil em comparação com outros países

Quem mais morre?


A grande maioria das vítimas é jovens negros pobres, geralmente moradores das favelas. A maioria dos homicídios do ano passado aconteceram em centros urbanos, particularmente no norte e nordeste do país. O estado com maior taxa de assassinatos, com 63,9 mortes por 100 mil pessoas, é o Rio Grande do Norte.

Entre os homicídios do Brasil todo, 8% são cometidos pela polícia, o que representa 5.114 pessoas em 2017. São 14 pessoas mortas pela polícia por dia, um número que aumentou 20% em relação a 2016.

O que causou o aumento dos homicídios?


O crime organizado é um dos maiores fatores por trás do aumento. A taxa de homicídio explodiu com a disputa de traficantes de drogas por território. A fronteira do país com grandes produtores de drogas também não ajuda: o Brasil é o maior consumidor de cocaína e crack produzidos na Colômbia, Peru e Bolívia, e é também rota de tráfico para a Europa e Ásia.

Entre os estados com maior número de assassinatos, o Acre e Ceará chamam atenção, e estão justamente na rota das drogas.

Ao mesmo tempo, fundos para investir na segurança foram estraçalhados durante a pior crise do país, deixando policiais com salários muito abaixo do merecido e também despreparados para reagir à violência. Portanto, eles respondem aumentando a brutalidade.

Gastos públicos e perdas com produtividade

Todo ano, o país perde R$365 bilhões com a criminalidade. O investimento em segurança pública cresceu 170% entre 1996 e 2005, enquanto o do setor privado aumentou 135%.

Gastamos cerca de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) com segurança, sistema prisional e com os custos indiretos de perder a força produtiva e consumidora do país. Perdemos R$550 mil por jovem morto ao longo de 20 anos, segundo cálculo da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal. Isso porque cada jovem com idade entre 13 e 25 anos que é assassinado deixa de gerar este valor em trabalho, pagamento de impostos e investimento em produtos e serviços.

Mais prisões ou mais escolas?

Fachada do Ministério da Educação (MEC), na Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Segundo um estudo detalhado da violência e economia chamado O Valor Econômico da Paz, este valor de gasto de 5,5% do PIB está muito alto. “Nenhum país que investe mais de 2% do seu PIB em segurança está entre os 20 mais pacíficos do ranking mundial”, diz o documento.

Seria mais produtivo investir na educação. Afinal de contas, a redução de 1% na taxa de desemprego e abandono da escola de homens entre 15 e 29 anos tem consequência direta em redução de 2.5% na taxa de homicídio.

Segundo pesquisa do IBGE de 2016, apenas 51% da população adulta do Brasil concluiu o ensino fundamental, e menos de 15,3% concluiu o ensino superior. As taxa de analfabetismo ainda é de 7.2%. Ou seja, ainda temos muito o que fazer nesta área.

A Americas Quarterly, principal publicação sobre economia e negócios das Américas, alertou que a violência é uma enorme ameaça para a democracia, encorajando uma guinada para governos mais populistas e repressivos. Mas a priorização da punição – mais policiamento, mais prisões, mais armas – tem se provado um fracasso muito caro.

A maior população carcerária do mundo que existe nos Estados Unidos não foi suficiente para baixar a taxa de violência do país para os níveis observados no Canadá e Europa, assim como não foi com a intervenção militar que o número de tiroteios diminuiu no Rio de Janeiro nos últimos meses. Especialistas dizem que respostas militarizadas estão associadas a aumento de abusos de direitos humanos ao invés de diminuir os homicídios.

Soluções que dão certo


Há formas muito mais eficientes de lidar com a violência. Uma delas é ao invés de endurecer o policiamento, usar dados coletados para identificar onde os homicídios acontecem e determinar o que está por trás dele. Pode ser que seja o alto consumo de álcool ou de drogas.

Outra forma é diminuir a corrupção dentro da própria polícia e melhorar a remuneração dos policiais e sua preparação para enfrentar a violência.

De forma geral, é preciso estabelecer um plano de longo prazo, que leva em consideração a desigualdade social e a taxa de desemprego e abandono escolar dos jovens. [BBC Brasil, The Guardian, The New York Times, IBGE, Next Big Future]

Recomendação de leitura: Veja como Chicago diminuiu as taxas de homicídio em 67% em poucos meses ao encarar a violência como uma epidemia

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