Para alguns, não conforta muito o fato de que é mais provável que você morra a caminho do aeroporto do que em um avião. Estamos acostumados a andar de carro, e não parece que um acidente terrível vai nos acontecer nunca.
Além disso, se por um acaso formos azarados o suficiente para sofrer um acidente de avião, ele será mil vezes pior que um de carro, não é mesmo?
Não. Às vezes, as coisas podem dar espetacularmente errado, e quase todo mundo ainda pode sobreviver numa boa. Como:
6. Um avião civil sobrevive a um ataque com mísseis de aviões de combate soviéticos
Em 20 de abril de 1978, o capitão Kim Chang Ky estava levando 109 passageiros de Paris para Seul, com uma parada rápida em Anchorage, Alaska. A escala pode parecer estranha, mas a escolha foi feita porque ele precisava evitar o espaço aéreo soviético. Não adiantou. Graças a um pequeno erro de navegação, ele se encontrou bem no meio de tal espaço aéreo.
O que lhe faltava em habilidades de navegação, o capitão Kim compensou com suas manhas de fugir de aviões de combate soviéticos.
O radar soviético detectou Kim, e dois interceptores foram despachados para investigá-lo. Os pilotos de caça logo perceberam que estavam diante de um avião de passageiros (possivelmente por causa de todos os passageiros gritando “não nos matem!”), mas seus comandantes foram inflexíveis. Afinal, era uma aeronave capitalista. Relutantemente, o piloto soviético Alexander Bosov lançou dois mísseis.
O primeiro não atingiu o avião, mas o segundo acertou a asa esquerda da nave. Estilhaços da explosão perfuraram a cabine, mataram dois passageiros e despressurizaram o avião, acabando com um de seus quatro motores. Incrivelmente, o troço continuou voando.
O capitão Kim colocou o Boeing 707 em um mergulho assustadoramente íngreme para levar seus passageiros a uma altitude respirável, passando de 35.000 pés a apenas 5.000 antes de entrar no meio de algumas nuvens e despistar completamente os interceptores. Não ficou claro se Kim estava tentando fazer isso, mas se um piloto de linha aérea comercial conseguiu escapar de aviões de combate sem nem tentar, isso é ainda mais impressionante.
Kim voou 40 minutos com meia asa esquerda e um motor completamente destruído até conseguir fazer um pouso forçado em um lago congelado no Norte da Rússia, a poucos quilômetros da fronteira com a Finlândia. Com exceção dos dois passageiros que foram mortos pelo míssil, todos a bordo sobreviveram.
5. Acidentes de helicóptero não são sempre mortais, mesmo quando caem em um vulcão
Quando um avião fica sem combustível, pelo menos tem a opção de deslizar. Helicópteros não tem esse luxo. Quando um helicóptero perde poder, sua melhor opção é desengatar o motor e permitir que o fluxo de ar através dos rotores retarde sua descida. É assim que, em dezembro de 2014, a tripulação de um helicóptero da Guarda Nacional dos EUA sobreviveu caindo mais de um quilômetro em menos de um minuto.
Mas isso foi sobre um campo bom. O que aconteceria se você caísse, digamos, na goela escancarada de um vulcão em erupção? Soa como algo que só seria possível em um filme de Hollywood, por isso é apropriado que foi exatamente o que aconteceu com Chris Duddy e Michael Benson quando eles estavam filmando cenas aéreas para um filme de Hollywood em 1992.
O piloto Craig Hosking estava levando a dupla sobre o cone Puu Oo do vulcão Kilauea, no Havaí, quando seu helicóptero cheirou o gás venenoso que o vulcão estava expelindo incessantemente e disse: “Não!”.
O motor prontamente morreu e mergulhou os homens diretamente na bunda de Satanás. Incrivelmente, os três sobreviveram ao acidente. A parte eletrônica do helicóptero foi mais azarada. Logo, eles não podiam pedir ajuda.
Duddy, Benson e Hosking tentaram escalar para fora da cratera, mas rapidamente descobriram que isso era muito difícil, por conta dos seus lados sendo penhascos de rocha vulcânica afiada.
Duddy e Benson ficaram em uma área onde o ar era um pouco menos assassino, enquanto Hosking retornou ao local do acidente para conectar uma bateria da câmera com o painel de comunicações do helicóptero e lançar um SOS. Funcionou. Hosking foi logo recebido por um helicóptero de salvamento, apenas alguns minutos antes de finalmente sucumbir à asfixia.
Duddy e Benson não tiveram tanta sorte, justamente porque estavam escondidos atrás de espessas nuvens. Vinte e sete horas após o acidente e algumas tentativas de salvamento depois, eles continuavam no penhasco. Duddy escalou a parede da cratera íngreme, cortando as mãos, mas continuando firme, até estar em segurança.
Benson não conseguiu fazer o mesmo. Ele passou mais um dia ali. Justamente quando parecia que toda a esperança estava perdida, o tempo clareou e um helicóptero foi capaz de atirar uma gaiola de resgate até ele.
Os três já podem fazer outro filme.
4. Piloto “conserta” asa quebrada voando de cabeça para baixo e acidente tem sobreviventes
Quebrar uma asa é uma das piores coisas que pode acontecer a um piloto. Então você pode imaginar como Neil Williams se sentiu quando, em uma tarde ensolarada de junho de 1970, uma sacudida e um aumento de ruído de sopro anunciaram sua asa esquerda passando por sua janela.
Felizmente, Neil Williams era um piloto acrobático profissional. Ainda assim, a maioria de sua experiência com manobras em shows aéreos foi adquirida em um avião com duas asas firmemente presas.
Desta vez, no entanto, o suporte inferior de sua asa esquerda havia se soltado e, como resultado, a asa quebrada ficou em um ângulo inútil para o voo.
Era o fim? Não para Williams. Ele logo recordou a história obscura de um piloto belga que tinha estado na situação oposta (o suporte da asa superior falhou), e forças positivas G tinham a mantido no lugar tempo suficiente para ele pousar o avião. Então, obviamente, era a hora de forças G negativas. Em outras palavras, Williams precisava voar de cabeça para baixo, de modo a “empurrar” a asa de volta ao seu lugar.
Funcionou. Só que o motor morreu, porque o universo não tinha terminado de zoar com a cara de Williams (e o combustível fica todo confuso quando um avião voa constantemente ao contrário).
O piloto habilidoso conseguiu mudar para o combustível reserva e reiniciar o motor (enquanto cabeça para baixo), até se aproximar de uma pista para pousar. No último segundo possível antes do impacto, retornou o avião a sua posição original. Ele estava voando tão baixo quando realizou a manobra que a ponta da asa raspou a grama.
De bater palmas em pé.
3. A refeição preferida da Antártica é aviões, mas não pessoas dentro deles
Na década de 1970, cientistas franceses estabeleceram uma base perto do Polo Sul. Em seguida, pediram a Marinha dos EUA que gentilmente voasse suprimentos até eles.
E como se faz isso? Bem, aparentemente, envolve cair muitas vezes.
A Marinha equipou aviões de carga LC-130 com esquis em vez de rodas, para realizar a façanha de pousar no Polo Sul. Em vez disso, tiveram vários acidentes horríveis.
O primeiro aconteceu no dia 15 de janeiro de 1974. Um foguete assistente de decolagem (JATO) explodiu. Uma das hélices se desintegrou e explodiu a frente do avião, enquanto, simultaneamente, um incêndio começou na sua traseira. Incrivelmente, ninguém ficou ferido, mas os pés dos pilotos passaram uma longa noite no Polo Sul em sapatos inapropriados.
No dia seguinte, um avião de resgate chegou. Desta vez, os pilotos decidiram desencanar de usar o JATO, e fazer tudo da forma tradicional. Não deu certo. A gravidade fez o avião voltar para o chão. Felizmente, a neve é uma superfície bastante confortável para aterrissagem forçada, e ninguém ficou ferido neste acidente também.
Em seguida, um terceiro LC-130 apareceu, conseguindo tirar todo mundo de lá sem mais incidentes. Uhul!
Ops, cedo demais. Havia apenas cinco aviões equipados com esqui em existência. É por isso que a Marinha dos EUA decidiu enviar peças de reparo para os LC-130 zoados nos seus LC-130 não zoados, mas… Agora eram três zoados.
Desta vez, um foguete JATO se soltou, voou em uma hélice e salpicou a fuselagem com estilhaços de alta velocidade. Surpreendentemente, ninguém ficou ferido neste acidente, também.
Apesar do fato de que a Antártica odeia aeronáutica, as tripulações conseguiram arrumar todos os três aviões em 1977, três anos após o primeiro ter sucumbido. A operação de reparo foi tão brutal que a Marinha dos EUA concedeu medalhas militares para os civis envolvidos no esforço de recuperação.
Depois dessa, será que algum piloto ainda está disposto a voar para lá? A resposta é sim, pois um C-130H brasileiro caiu lá recentemente, em 2014. Lógico, ninguém se machucou.
2. Um helicóptero vence a tempestade de “Mar em Fúria”
Lembra do filme “Mar em Fúria”? Ele conta a história verdadeira de uma tempestade gigantesca de 1991. E não só barcos foram prejudicados. O piloto da Guarda Aérea Nacional dos EUA David Ruvola e sua tripulação de quatro homens também se ferraram.
Eles foram despachados em um helicóptero H-60 para salvar um cara cujo veleiro tinha sido varrido 400 quilômetros ao largo da costa de Nova Jersey. A tripulação chegou a encontrar ondas de 12 metros e ventos de 80 quilômetros por hora, que tornaram o resgate aéreo impossível.
Um navio de carga romeno conseguiu levar o veleiro para segurança, mas Ruvola e companhia não tiveram tanta sorte. O piloto tentou voltar com o helicóptero para casa, mas cruzou com um pedaço particularmente horroroso da tempestade. Conforme tentou encontrar-se com um petroleiro para um reabastecimento, pegou ventos de até 160 quilômetros por hora, percebeu que isso seria impossível.
Assim, Ruvola lançou um SOS e ficou pairando acima das ondas 30 metros. Sem combustível para fazer qualquer coisa, a tripulação decidiu pular no mar. Com as cristas logo abaixo deles, saltaram: o copiloto Graham Buschor primeiro, seguido do paraquedista de resgate Rick Smith. John Spillane, também paraquedista de resgate, errou no salto – ao invés de cair 3 metros na crista de uma onda, pulou entre ondas, caindo pelo menos 18 metros e golpeando a água a 80 km/h. O impacto quebrou oito ossos, rompeu seu rim, machucou seu pâncreas e estalou os vasos sanguíneos em ambos os seus olhos.
Ruvola e o engenheiro de voo Jim Mioli ficaram a bordo para garantir que os saltadores não fossem picados pelos rotores ainda girando do helicóptero. Em seguida, arriscaram a vida pulando do veículo para o mar. Mioli, sem um traje de sobrevivência, rapidamente começou a mostrar sinais de hipotermia. Ruvola amarrou seus corpos com um paraquedas para compartilhar calor.
Voltando a Spillane, enquanto todos esperávamos uma música fúnebre e homenagem post-mortem, ele de alguma forma conseguiu, depois de três horas, encontrar Ruvola e Mioli. Após mais seis horas sendo atingidos por ondas gigantes e engolindo agua, os três foram tirados do oceano pela guarda costeira. Em seguida, descobriram que Buschor já havia sido resgatado.
Apesar de uma busca incessante, o membro final da tripulação, Rick Smith, tragicamente nunca foi encontrado. Ele deixou para trás três filhas pequenas que salvaram muitas vidas mais tarde, servindo na mesma ala da Guarda Nacional que seu pai.
1. O incrível piloto Carlos Dardano sobrevive a dois desastres terríveis
Em 1982, Carlos Dardano tinha 23 anos e era piloto de táxi aéreo em El Salvador. Se isso soa banal, não se esqueça de que, nessa época, El Salvador estava no meio de uma guerra civil brutal.
Foi por isso que, quando se preparava para decolar, Dardano foi atingido no rosto por guerrilheiros à espreita na selva. Sangrando e sem um olho esquerdo, Dardano ainda conseguiu colocar seus passageiros no avião e pilotá-los por 20 minutos para a segurança. Desse jeito:
Dardano não só sobreviveu ao incidente, como se tornou um piloto de linha aérea comercial, não obstante o fato de que boa visão é uma exigência de trabalho. Você teria medo de voar com ele? Não deveria. Graças a essa criatura sobrenatural, os passageiros do voo TACA 110 sobreviveram outro acidente bizarro.
Seis anos depois, em 24 de maio de 1988, Dardano estava pilotando um Boeing 737 de Belize para Nova Orleans quando uma tempestade nível quatro surgiu do nada. O granizo aniquilou a capacidade dos motores de expulsar o excesso de água, transformando o avião em um planador de 75 toneladas.
Infelizmente, o aeroporto de Nova Orleans não estava a uma curta distância de voo livre. O controle de tráfego aéreo ofereceu a Dardano um vetor para a autoestrada mais próxima, mas ele se recusou, pois possivelmente matar motoristas desavisados não combinava exatamente com sua ética pessoal. Em vez disso, Dardano resolveu realizar um pouso na água.
No último minuto, porém, seu copiloto avistou uma faixa clara de terra – um dos diques famosos de Nova Orleans. Para pousar lá, Dardano teria que executar uma manobra arriscada conhecida como derrapagem – uma correção de curso rápida comum em shows aéreos e aviões de combate, mas não em aeronaves gigantes cheios de passageiros.
Dardano, é claro, fez a manobra sem falhas. O pouso foi suave e todos a bordo sobreviveram totalmente ilesos. Se não fosse pelos danos causados por granizo, o avião teria ficado intacto também. Tanto que os motores do veículo foram reparados no local, e pilotos de teste o decolaram da mesma estrada que Dardano conseguiu evitar. [Cracked]