Cosméticos com essa fragrância podem estar levando as meninas a puberdade precoce

Por , em 17.09.2024

Em uma reviravolta inesperada, fragrâncias comuns cosméticos podem estar secretamente encurtando o tempo da infância para as meninas. Cientistas descobriram que certos compostos químicos, que muitos de nós encontramos diariamente, podem estar causando o início precoce da puberdade.

Um dos culpados? Um cheiro almiscarado que, no passado, era muito popular em fragrâncias masculinas. Esse composto, chamado de almíscar ambreta, foi proibido na União Europeia nos anos 1990, mas adivinhe só? Ele ainda pode estar circulando em produtos no Brasil e em outros lugares do mundo.

Ao longo do último século, a idade média para a menarca (o início da menstruação) e o desenvolvimento dos seios caiu consistentemente. Enquanto fatores genéticos podem desempenhar algum papel, a velocidade e amplitude desse fenômeno ao redor do mundo indicam que algo mais está em jogo — e pode ser o ambiente ao nosso redor.

Embora os cientistas já tenham tentado identificar a razão desse amadurecimento precoce, a tarefa tem sido como tentar pegar fumaça com as mãos: difícil de definir. Estudos observacionais esbarram em limitações, como o fato de que as amostras de sangue e urina são coletadas apenas em horários de vigília, o que deixa muitas questões sem resposta.

Uma equipe de pesquisadores dos EUA decidiu focar seus esforços em uma área específica do cérebro conhecida por regular a puberdade: o hipotálamo. Dentro desta central de controle biológica, os neurônios responsáveis por liberar o hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) têm um papel crucial. Eles acionam a glândula pituitária, que então envia sinais para os ovários e testículos produzirem estrogênio e testosterona.

Os cientistas também olharam para um neuropeptídeo chamado kisspeptina, que, ao que tudo indica, funciona como um “liga/desliga” para a puberdade. Curiosamente, as células que produzem kisspeptina são sensíveis a fatores como dieta e estresse, o que as torna um alvo ideal para investigar o impacto de substâncias externas.

Em vez de recrutar voluntários para este estudo (quem realmente gostaria de passar por essa triagem?), os pesquisadores decidiram cultivar tecidos em laboratório e expô-los a uma grande variedade de substâncias químicas. Eles analisaram mais de dez mil compostos, todos listados na biblioteca da Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Após o primeiro filtro, apenas algumas dezenas de substâncias pareceram interferir nos processos hormonais.

Entre os suspeitos, estavam os agonistas colinérgicos, substâncias que imitam transmissores responsáveis por diversas funções cerebrais, como memória e motivação. E foi aí que o almíscar ambreta chamou a atenção. No passado, ele era um aroma comum em fragrâncias masculinas, mas foi banido na Europa depois de estudos que mostraram que, em ratos, ele causava danos neurológicos. E mesmo que sua produção tenha diminuído, ele continua sendo fabricado em países como Índia e China.

Apesar de ser menos comum em cosméticos hoje em dia, esse composto é teimoso — ele não se degrada facilmente e, por isso, permanece no ambiente. Como uma visita que já deveria ter ido embora, ele continua à espreita, potencialmente afetando o desenvolvimento de meninas em todo o mundo.

Testes adicionais em células hipotalâmicas humanas e de camundongos, bem como em peixes-zebra jovens, mostraram que o almíscar ambreta pode ativar partes do cérebro que controlam o início da puberdade. E antes que você pense que isso não é grande coisa, o início precoce da puberdade está ligado a riscos aumentados de problemas psicológicos, doenças cardiovasculares e câncer de mama.

Além disso, estudos já indicaram que a obesidade e mudanças na alimentação também podem estar contribuindo para que as meninas atinjam a puberdade mais cedo. Parece que uma combinação de fatores está conspirando para apressar o amadurecimento do corpo infantil.

Essa pesquisa foi publicada na revista Endocrinology, e o resultado final é claro: talvez seja hora de prestar mais atenção aos rótulos dos produtos que usamos. Quem sabe o que mais pode estar escondido em nossos itens de cuidado diário, além de fragrâncias sedutoras?

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