Estudo histórico descobre o quanto a temperatura da Terra mudou em 500 milhões de anos

Por , em 20.09.2024
Esta impressionante folha de palmeira fóssil (Sabalites sp.), encontrada no Alasca, está em exibição no Museu Nacional de História Natural do Smithsonian. Cerca de sessenta milhões de anos atrás, vastas florestas tropicais e úmidas se estendiam pela América do Norte, permitindo que diversas plantas, incluindo palmeiras, prosperassem até mesmo em áreas que hoje são geladas, como o Alasca. Um estudo recente na revista Science oferece novas perspectivas sobre as oscilações climáticas da Terra ao longo dos últimos 485 milhões de anos. Pesquisa realizada por Lucia RM Martino, James Di Loreto e Fred Cochard, Smithsonian

Cientistas analisaram a temperatura média da superfície terrestre, que variou de 11 a 36 graus Celsius, ao longo de quase 500 milhões de anos.

Com a crescente preocupação sobre o aquecimento global, pesquisadores têm explorado como o clima da Terra tem mudado ao longo de sua história geológica. Um estudo recente, publicado na revista Science, oferece uma nova perspectiva sobre essa questão, combinando dados históricos com modelos climáticos para traçar uma linha do tempo das temperaturas planetárias.

A pesquisa começou em 2018, durante o planejamento da exposição “Deep Time” no Museu Nacional de História Natural do Smithsonian. Os paleontólogos Scott Wing e Brian Huber, em colaboração com outros especialistas, perceberam a falta de um registro confiável das temperaturas superficiais da Terra. Mesmo com décadas de estudos sobre climas pré-históricos, ninguém havia criado um panorama abrangente de como as temperaturas mudaram ao longo de mais de 500 milhões de anos. Essa lacuna de conhecimento se apresentou como uma oportunidade para um novo estudo.

Os pesquisadores reuniram uma equipe de climatologistas e, juntos, começaram a compilar dados sobre as temperaturas da Terra. A ideia de desenvolver uma curva de temperatura robusta e reproduzível ganhou força. Emily Judd, paleoclimatologista da Universidade do Arizona, se juntou ao projeto em 2020 e utilizou tanto dados geológicos quanto modelos climáticos para criar um registro profundo das condições climáticas da Terra.

Para estimar as temperaturas pré-históricas, os cientistas analisaram núcleos de gelo com bolhas de ar, cuja composição química oferece pistas sobre o clima da época. Além disso, isótopos de oxigênio encontrados em rochas e fósseis foram comparados para determinar se a Terra estava mais quente ou mais fria em determinados períodos. Surpreendentemente, até a forma das folhas fossilizadas pode indicar o clima em que cresceram. Folhas com bordas suaves e pontas longas sugerem um habitat quente e úmido, enquanto aquelas de climas mais frios costumam ter bordas mais serrilhadas.

A pesquisa compilou mais de 150 mil estimativas de temperaturas antigas, criando uma base sólida para o estudo. Essa coleção de dados se aproximou de uma visita às paisagens antigas, embora seja como tentar montar um quebra-cabeça de mil peças com apenas algumas peças. A equipe precisava montar esse quebra-cabeça para registrar com precisão as temperaturas da superfície da Terra ao longo do Fanerozoico.

Cientistas têm diversas abordagens para entender como eram os climas da Terra em épocas passadas. Uma dessas técnicas envolve a análise da composição química das conchas de foraminíferos, organismos unicelulares microscópicos. Estudando esses pequenos seres, os pesquisadores conseguem obter informações valiosas sobre os climas de eras anteriores. Brian Huber, Smithsonian.

Os colaboradores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, realizaram mais de 850 simulações de modelos climáticos para determinar as condições do planeta durante o Fanerozoico. Ao integrar as estimativas de temperatura com essas simulações, os pesquisadores conseguiram delinear um quadro mais abrangente das flutuações climáticas.

Os resultados do estudo cobrem um período de 485 milhões de anos, a maior parte do Fanerozoico, durante o qual a vida animal se diversificou nos mares e as plantas começaram a colonizar a terra, culminando em várias extinções em massa. A temperatura média da superfície variou, frequentemente se mantendo em níveis mais quentes do que frios, com uma maior frequência de períodos quentes.

Os pesquisadores concluem que a temperatura da superfície da Terra tem sido notavelmente variável ao longo de sua história, não se mantendo estável em um ponto central, mas oscilando entre extremos de calor e frio. Essa nova visão destaca a importância de entender a sensibilidade do clima terrestre ao dióxido de carbono, especialmente considerando que o aumento desse gás na atmosfera está intimamente relacionado ao aquecimento global.

Embora a Terra tenha a capacidade de suportar mudanças drásticas de temperatura, essa resiliência não garante que as sociedades humanas consigam se adaptar às mesmas condições. Os pesquisadores alertam que, apesar de estarmos atualmente em um estado relativamente fresco, os gases de efeito estufa gerados pelo homem estão acelerando o aquecimento do planeta, o que pode levar a consequências desastrosas.

Portanto, é essencial que a sociedade global preste atenção às lições do passado e tome medidas para mitigar as mudanças climáticas. O futuro do clima da Terra depende das ações que tomarmos hoje. [Smithsoniam Magazine]

Deixe seu comentário!