Dois cometas estarão visíveis no céu noturno este mês

Por , em 14.10.2024
Cometa Tsuchinshan-ATLAS capturado em um incrível time-lapse do espaço.

O que você imagina ao pensar em uma nuvem que envolve nosso Sol e todos os planetas, estendendo-se trilhões de quilômetros no espaço? A Nuvem de Oort, uma esfera invisível de material cósmico, é exatamente isso. Esta nuvem se estende tão longe que nenhum telescópio consegue capturar sua imagem, mesmo que, em teoria, ela nos envolva como uma capa de invisibilidade espacial.

A Nuvem de Oort é uma estrutura hipotética, proposta por astrônomos para explicar de onde vêm certos cometas que visitam o Sistema Solar. Sem ela, seria difícil justificar como alguns corpos gelados aparecem do nada nos céus. Essencialmente, a Nuvem de Oort é um depósito gigante que armazena bilhões de objetos congelados e que, ocasionalmente, lança um visitante estelar em nossa direção.

Halloween Cósmico: Cometas à Vista

Neste Halloween, dois cometas vão passar perto da Terra, como se quisessem participar das festividades. O Tsuchinshan-ATLAS, também conhecido como C/2023 A3, alcança seu brilho máximo logo após 12 de outubro, quando se aproxima a 70 milhões de quilômetros de nós. Se o céu colaborar, será possível observá-lo a olho nu no horizonte oeste, logo depois do pôr do sol. Mas, como um truque de mágica cósmica, o cometa vai desaparecendo lentamente e subindo para regiões mais altas do céu.

O segundo cometa, C/2024 S1 (ATLAS), é uma surpresa de última hora, descoberto em 27 de setembro de 2024. Ele se aproxima da Terra em 24 de outubro, passando a cerca de 130 milhões de quilômetros de distância. Para vê-lo, olhe para o horizonte leste antes do amanhecer. Esse intruso celestial pode até reaparecer no céu ocidental à noite após contornar o Sol – isso se ele não se desfizer no caminho, como muitos cometas fazem ao se aproximar demais da estrela.

De Onde Vêm Esses Visitantes Estelares?

A Nuvem de Oort, um conceito proposto pelo astrônomo Jan Oort em 1950, oferece uma explicação plausível para os cometas de longo período. Esses objetos passam a maior parte de suas existências vagando a distâncias inacreditáveis do Sol, mas, de tempos em tempos, são puxados de volta para a parte interna do Sistema Solar, como turistas que visitam o centro da cidade apenas de vez em quando.

Estima-se que a Nuvem de Oort possa se estender por até 16 trilhões de quilômetros do Sol, quase metade da distância até Proxima Centauri, a estrela mais próxima. Em comparação, a distância da Terra ao Sol é de cerca de 150 milhões de quilômetros. A vastidão dessa região é tão impressionante que, mesmo com tecnologias modernas, os astrônomos ainda não conseguiram observar diretamente os objetos que ali habitam.

A Origem dos Cometas e a Conexão com a Vida na Terra

Os cometas que vêm da Nuvem de Oort têm um papel interessante na história da Terra. Cientistas especulam que, há bilhões de anos, alguns desses cometas gelados possam ter se chocado com nosso planeta, trazendo consigo parte da água que hoje forma nossos oceanos. Essa teoria sugere que os impactos desses corpos celestes podem ter contribuído para a origem da vida na Terra. Imagine que um cometa, durante sua passagem, tivesse sido o portador do “ingrediente secreto” que faltava para a sopa primordial que deu início à vida.

Mas nem tudo é uma história de amor entre cometas e a Terra. Esses mesmos visitantes gelados também representam uma ameaça potencial. Como suas órbitas são influenciadas por estrelas vizinhas, eles podem surgir de surpresa no Sistema Solar. Quando isso acontece, eles costumam viajar a velocidades de dezenas de milhares de quilômetros por hora, como se estivessem em uma corrida desgovernada. Um exemplo de ficção inspirada por essa possibilidade é o filme Don’t Look Up, onde um cometa se torna uma ameaça súbita à Terra.

Representação visual do sistema solar e da extensa Nuvem de Oort. No gráfico, as unidades astronômicas (AU) são indicadas pelos números. A Voyager 2, situada no diagrama, terá um percurso de mais 30.000 anos até finalmente deixar a Nuvem de Oort para trás. Fonte: NASA.

Bilhões de Objetos Invisíveis: Uma Caixinha de Surpresas Espacial

O que faz um objeto da Nuvem de Oort se destacar em nosso céu? Quando um desses corpos se aproxima do Sol, seu gelo começa a vaporizar, formando a clássica cauda de cometa que vemos brilhando. Tsuchinshan-ATLAS é um exemplo de cometa de longo período, com uma trajetória que o leva a vagar por milhares de anos antes de retornar ao Sistema Solar interno.

Esses cometas são diferentes dos de curto período, como o famoso Cometa Halley, que faz visitas mais frequentes ao nosso sistema – aproximadamente a cada 76 anos. Halley nunca chega à Nuvem de Oort; ele é como aquele amigo que só vai ao bar da esquina, enquanto Tsuchinshan-ATLAS faz um tour por galáxias.

Estudos mais recentes, realizados com simulações computadorizadas, sugerem que muitos desses objetos gelados podem ter se formado próximos a Júpiter e outros gigantes gasosos. Em uma época distante, eles foram expulsos para longe, graças às interações gravitacionais com esses planetas massivos, seguindo suas jornadas para as bordas do Sistema Solar. Alguns escaparam definitivamente, tornando-se viajantes interestelares, enquanto outros acabaram em órbitas mais longas.

Um Olhar Atento no Céu: Como Detectar e Desviar Cometas

Cometas que vêm da Nuvem de Oort apresentam um desafio para a astronomia moderna. Diferentemente de asteroides, cujas órbitas podem ser estudadas com antecedência, os cometas de longo período são imprevisíveis. Eles só são detectados quando já estão em nossa vizinhança, o que deixa os cientistas em alerta. Um exemplo recente foi ’Oumuamua, que nos surpreendeu em 2017 ao ser identificado apenas após passar por nós.

As chances de um desses objetos colidir com a Terra são pequenas, mas não nulas. A missão DART da NASA, que alterou a trajetória de um pequeno asteroide, mostrou que, em teoria, podemos desviar alguns desses objetos. No entanto, um cometa da Nuvem de Oort poderia nos dar apenas semanas, ou até dias, para reagir. A Agência Espacial Europeia está planejando a missão Comet Interceptor, que deve ser lançada em 2029 e ficará em espera no espaço, pronta para interceptar um desses viajantes do gelo.

Olhar Para Cima: Quando a Ciência e a Magia se Encontram

Com toda essa conversa sobre cometas e perigos espaciais, não se preocupe. Tsuchinshan-ATLAS e C/2024 S1 (ATLAS) estão a uma distância segura de nós, cerca de 70 milhões e 130 milhões de quilômetros, respectivamente. Isso pode parecer um número grande, mas em termos cósmicos, é um “quase-encosto”. Aproveite a oportunidade rara de observar essas maravilhas celestiais e deixe sua mente vagar pelos mistérios da Nuvem de Oort, lembrando que, assim como no espaço, a vida pode nos surpreender a qualquer momento. [The Conversation]

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