Cientistas reviveram cérebro de porco uma hora após a morte

Por , em 23.10.2024

Em uma descoberta inesperada, pesquisadores conseguiram restaurar a atividade cerebral de porcos cerca de uma hora depois de seus corações terem parado de bater. Este estudo surpreendente foi conduzido por cientistas na China e pode trazer novas perspectivas para salvar vidas após paradas cardíacas súbitas.

Além de desafiar o que acreditávamos sobre a recuperação cerebral, esse experimento aponta para novas possibilidades no tratamento de pacientes que enfrentam paradas cardíacas graves, onde o tempo de resposta é essencial.

O segredo por trás da ressuscitação cerebral: O papel do fígado

Em vez de apenas focar no cérebro em si, os cientistas descobriram que o fígado saudável desempenha um papel crucial na recuperação cerebral após uma parada cardíaca. Ao integrar esse órgão vital no sistema de suporte à vida, eles foram capazes de prolongar o tempo em que o cérebro pode ser ressuscitado com sucesso. Esse órgão, que atua na filtragem do sangue, acaba sendo fundamental no processo.

Paradas cardíacas interrompem o fluxo sanguíneo, levando a danos rápidos no cérebro. Sem oxigênio e nutrientes, o cérebro começa a sofrer isquemia – quando partes do corpo, neste caso o cérebro, deixam de receber o sangue necessário para funcionar. Esse dano é geralmente irreversível após alguns minutos. Contudo, ao combinar o fígado com o sistema de suporte vital, os pesquisadores conseguiram estender essa janela.

O experimento com porcos: Uma lição vital em ressuscitação

Sob a liderança do Dr. Xiaoshun He, da Universidade Sun Yat-sen, 17 porcos tibetanos foram usados em testes que analisaram como o fígado pode influenciar a recuperação cerebral. Os porcos foram submetidos a isquemia cerebral durante 30 minutos. Em um dos grupos, também houve isquemia hepática, enquanto o outro manteve o fígado intacto. Como era de se esperar, o grupo que sofreu dano tanto no fígado quanto no cérebro apresentou resultados piores.

Os três grupos passaram por diferentes intensidades de isquemia. (Guo et al., EMBO Mol. Med., 2024)

Para verificar a influência do fígado, os cientistas então conectaram cérebros de porcos eutanasiados a sistemas de suporte de vida, que incluíam pulmões e corações artificiais. Em um dos sistemas, o fígado foi adicionado ao processo de suporte, conhecido como perfusão normotérmica assistida. Curiosamente, os cérebros ligados ao fígado saudável mantiveram atividade elétrica por até seis horas, dependendo do tempo em que o órgão foi conectado ao sistema.

O resultado mais impressionante foi que, ao conectar o fígado ao cérebro dentro de 50 minutos após a morte, a atividade cerebral foi restaurada e mantida por várias horas. Porém, quando o cérebro ficou sem oxigênio por mais de 60 minutos, a recuperação foi muito mais breve, o que reforça que o tempo é um fator crucial na ressuscitação.

Janelas de esperança: O impacto das descobertas na medicina

Embora a perspectiva de usar esse sistema em seres humanos ainda seja distante, as descobertas abrem portas para novas pesquisas sobre como tratar danos cerebrais causados por paradas cardíacas. A possibilidade de aumentar o tempo disponível para a ressuscitação pode mudar completamente o tratamento em situações de emergência.

Além disso, o estudo oferece um ponto de partida para explorar como outros órgãos influenciam o cérebro em momentos críticos. Os cientistas acreditam que entender melhor esses processos pode melhorar significativamente as taxas de sobrevivência em humanos e a qualidade de vida após a recuperação.

Esses avanços, apesar de ainda em fase experimental, trazem um novo horizonte para o campo da medicina de emergência e ressuscitação. As próximas etapas envolvem testes mais avançados e a busca por maneiras de adaptar essas descobertas ao tratamento humano. Quem sabe, no futuro, salvar cérebros e vidas em situações que antes pareciam impossíveis se torne a nova realidade.

A pesquisa completa pode ser consultada na publicação EMBO Molecular Medicine.

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