Além da Bomba Atômica: Conheça as Histórias Fascinantes de J. Robert Oppenheimer
J. Robert Oppenheimer (1904-1967) é conhecido por liderar o desenvolvimento da primeira bomba atômica do mundo, mas a vida do físico vai muito além do laboratório. Aqui estão oito histórias intrigantes sobre Oppenheimer, extraídas da biografia “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer” (Knopf, 2005), escrita por Kai Bird e Martin J. Sherwin.
1 – Ele foi o primeiro a propor a existência de buracos negros
Oppenheimer era um curioso incansável e adorava seguir sua curiosidade intelectual em qualquer direção que ela o levasse.
Após ser introduzido à astrofísica por seu amigo Richard Tolman, Oppenheimer começou a publicar artigos sobre objetos cósmicos teorizados ainda não descobertos. Esses artigos incluíam cálculos das propriedades das anãs brancas (as brasas densas e brilhantes de estrelas mortas) e o limite teórico de massa das estrelas de nêutrons (os casulos incrivelmente densos de estrelas explodidas).
Possivelmente, sua previsão astrofísica mais impressionante ocorreu em 1939, quando Oppenheimer coescreveu (com seu então aluno Hartland Snyder) o artigo “Sobre a Contração Gravitacional Contínua”. O artigo previu que, nas profundezas do espaço, deveriam existir “estrelas moribundas cuja atração gravitacional excedesse sua produção de energia”.
Na época, o artigo recebeu pouca atenção, mas foi posteriormente redescoberto por físicos que perceberam que Oppenheimer havia previsto a existência dos buracos negros.
2 – Einstein o chamou de tolo
O intelecto impressionante de Oppenheimer e seu vasto conhecimento nem sempre superavam sua imaturidade emocional e ingenuidade política.
Uma dessas ocasiões foi uma divergência que teve com Albert Einstein durante o auge do Medo Vermelho McCarthyista. Depois de encontrar Einstein no Instituto de Estudos Avançados em Princeton, Oppenheimer discutiu com seu colega os crescentes esforços para revogar sua autorização de segurança.
Einstein aconselhou Oppenheimer a não se submeter a uma investigação exaustiva e a um julgamento pela Comissão de Energia Atômica; ele poderia simplesmente desistir.
No entanto, Oppenheimer respondeu que faria mais bem dentro do estabelecimento em Washington do que fora, e que havia decidido ficar e lutar. Essa batalha foi uma derrota para Oppenheimer, marcando-o pelo resto da vida.
Einstein caminhou até seu escritório e, acenando para Oppenheimer, disse a sua secretária: “Ali vai um tolo.”
3 – Ele pode ter tentado envenenar seu professor com uma maçã
Oppenheimer enfrentou tempos difíceis enquanto estudava para seu doutorado em física no Laboratório Cavendish, em Cambridge, Inglaterra. Seus intensos problemas emocionais e sentimentos de crescente isolamento o levaram a uma profunda depressão.
O orientador de Oppenheimer em Cambridge era Patrick Maynard Stuart Blackett, um físico experimental inteligente e talentoso que Oppenheimer invejava. Apesar da renomada impraticabilidade de Oppenheimer, Blackett incentivou seu aluno a trabalhar em laboratório.
As constantes falhas de Oppenheimer no laboratório e sua incapacidade de obter a aprovação de Blackett o deixaram intensamente ansioso. Consumido pelo ciúme, Oppenheimer pode ter ido a extremos. Um amigo de longa data, Francis Fergusson, afirmou que Oppenheimer teria admitido certa vez que havia envenenado uma maçã com substâncias tóxicas e a deixou provocativamente sobre a mesa de Blackett.
No entanto, não há evidências desse incidente além das alegações de Fergusson, e o neto de Oppenheimer, Charles Oppenheimer, contesta que isso tenha acontecido. Mas, se houve uma maçã envenenada, Blackett não a comeu. Diz-se que Oppenheimer enfrentou a possibilidade de expulsão da universidade e até mesmo de acusações criminais, antes de seu pai intervir e negociar que seu filho fosse colocado em probação acadêmica.
4 – O presidente Truman o chamou de chorão
Oppenheimer era bastante persuasivo em ambientes descontraídos, mas tinha uma terrível tendência de sucumbir à pressão.
Apenas dois meses após o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, Oppenheimer se encontrou com o presidente Harry S. Truman no Salão Oval para discutir suas preocupações sobre uma possível guerra nuclear futura com a URSS. Truman ignorou as preocupações de Oppenheimer, assegurando ao físico que os soviéticos nunca seriam capazes de desenvolver uma bomba atômica.
Enlouquecido pela ignorância do presidente, Oppenheimer apertou as mãos e disse em voz baixa: “Sr. Presidente, sinto que tenho sangue nas mãos”.
Truman ficou furioso com esse comentário e encerrou imediatamente a reunião.
“Com sangue nas mãos, droga. Ele não tem nem a metade do sangue nas mãos que eu tenho”, disse Truman. “Você simplesmente não sai por aí se queixando disso”. Truman mais tarde disse ao seu secretário de Estado, Dean Acheson: “Eu não quero ver aquele filho da mãe neste escritório novamente”.
Truman frequentemente voltava ao assunto do encontro com Oppenheimer ao falar com Acheson, escrevendo em 1946 que o pai da bomba atômica era um “cientista chorão” que, “cerca de cinco ou seis meses atrás, veio ao meu escritório e passou a maior parte do tempo lamentando-se e dizendo que tinha sangue nas mãos por causa da descoberta da energia atômica”.
5 – Seus alunos eram obcecados por ele
Oppenheimer era um físico verbal por temperamento. Ele não dependia apenas de matemática para entender o mundo; ele também buscava maneiras úteis de descrevê-lo com palavras. Sua habilidade retórica e erudição em assuntos muito além da física o tornavam um palestrante cativante.
Oppenheimer era tão habilidoso em construir frases bonitas – frequentemente improvisando – que ele fascinava os alunos que assistiam suas palestras. Alguns desses alunos ficaram tão obcecados por Oppenheimer que começaram a se vestir e agir como ele – vestindo seus ternos cinzas e sapatos pretos desajeitados, fumando seus cigarros Chesterfield favoritos e imitando seus maneirismos peculiares.
Os alunos encantados foram apelidados de “nim nim boys” porque imitavam cuidadosamente o peculiar zumbido “nim nim” de Oppenheimer.
6 – Ele era um apaixonado estudante de humanidades e falava seis idiomas, incluindo sânscrito antigo
Oppenheimer adorava desafios intelectuais e aproveitava todas as oportunidades para demonstrar sua capacidade prodigiosa de absorver informações. Ele falava seis idiomas: grego, latim, francês, alemão, holandês (que aprendeu em seis semanas para proferir uma palestra na Holanda) e o antigo idioma indiano, o sânscrito.
Oppenheimer também lia muito além de sua área de estudo. Ele disse a amigos que havia lido os três volumes de “O Capital” de Karl Marx de capa a capa durante uma viagem de trem de três dias para Nova York, que havia devorado “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, para curar sua depressão enquanto estava de férias na Córsega, e que havia aprendido sânscrito para ler o texto hindu Bhagavad Gita.
A leitura atenta do Gita proporcionou a Oppenheimer sua citação mais famosa. Em uma entrevista à NBC em 1965, ele relembrou seus pensamentos ao ver a nuvem em forma de cogumelo do primeiro teste bem-sucedido da bomba atômica:
“Sabíamos que o mundo não seria o mesmo. Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria das pessoas ficou em silêncio. Lembrei-me da linha do texto hindu, o Bhagavad Gita. Vishnu está tentando persuadir o Príncipe de que ele deve cumprir seu dever e, para impressioná-lo, assume sua forma com múltiplos braços e diz: ‘Agora, eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos’. Suponho que todos pensamos de uma forma ou de outra.”
7 – Aos 12 anos, ele foi confundido com um geólogo profissional e convidado a dar uma palestra no New York Mineralogy Club
A partir dos 7 anos, Oppenheimer ficou fascinado pelos cristais por causa de suas estruturas e interações com a luz polarizada. Ele se tornou um colecionador fanático de minerais e usou a máquina de escrever de sua família para iniciar correspondências extensas e detalhadas com geólogos locais.
Sem saber que estavam escrevendo para um garoto de 12 anos, um geólogo convidou Oppenheimer para dar uma palestra no New York Mineralogy Club. Oppenheimer queria que seu pai explicasse ao clube que ele tinha apenas 12 anos, mas seu pai achou a situação engraçada e o incentivou a ir.
Os geólogos ficaram surpresos ao descobrir que o garoto era o misterioso correspondente deles, mas logo providenciaram uma caixa de madeira para que ele pudesse alcançar o púlpito. Oppenheimer proferiu seu discurso e foi aplaudido.
8 – Ele deu o nome da sua amante falecida ao primeiro teste da bomba atômica
Oppenheimer conheceu Jean Tatlock em 1936 e iniciou um romance apaixonado que continuou durante seu casamento com Katherine Puening e terminou com a morte de Tatlock em 1944. Quando Tatlock e Oppenheimer se conheceram, Tatlock era membro ativa do Partido Comunista e persuadiu Oppenheimer a amenizar suas preocupações sobre a pobreza que ele testemunhava durante a Grande Depressão, fazendo doações para o partido.
A reputação de Oppenheimer como simpatizante do comunismo logo chamou a atenção do FBI, cujos agentes passaram a segui-lo e grampeá-lo.
Em 1944, Tatlock foi encontrada morta em seu apartamento, aparentemente devido a uma overdose de drogas. Ela havia sofrido por grande parte de sua vida com intensas crises de depressão e deixou uma nota anônima, então sua morte foi considerada suicídio. No entanto, teorias da conspiração – algumas alegadas por seu irmão – sobre o envolvimento de agências de inteligência em sua morte surgiram.
Tatlock apresentou Oppenheimer aos poemas de John Donne, cuja obra ela adorava. Oppenheimer se inspirou no poema “Batter my heart, three-person’d God …” de Donne ao atribuir o codinome “Trinity” (Trindade) ao primeiro teste de uma bomba atômica.
A vigilância do FBI sobre Oppenheimer e Tatlock voltou-se contra ele durante seu julgamento na Comissão de Energia Atômica em 1954, quando seu caso foi exposto e utilizado para alegar que ele ainda mantinha simpatias comunistas até o final da Segunda Guerra Mundial. O julgamento resultou na revogação da autorização de segurança de Oppenheimer e o perseguiu por toda a vida pública, tornando-o um dos mais proeminentes alvos do Macartismo. [LiveScience]