Animais realmente têm sentimentos?

Por , em 16.12.2014

A maioria de nós já conviveu ou convive com cães e gatos e precisa de pouco convencimento de que estes seres amados são indivíduos únicos com sentimentos.

No entanto, geralmente temos uma visão turva sobre os animais selvagens, ou os que são destinados à serem comida no nosso prato.
Jonathan Balcombe, biólogo e diretor de sensibilidade animal no Humane Society Institute for Science and Policy, uma ONG baseada nos EUA, possui um interesse especial em felicidade animal.

Segundo ele, não são apenas cachorros que expressam alegria. Cabras adoram carinho e até se inclinam para receber mais. Ovelhas abanam o rabo em aprovação quando são acariciadas. Aves, como as galinhas, adoram fazer pausas para tomar banhos de sol, afofando suas penas e esticando os braços para maximizar a área de superfície disponível para os raios quentes.

“Observando esses animais perseguindo os seus desejos e necessidades, me lembro de que eles são indivíduos com intenções e preferências. Suas vidas importam para eles. O seu desejo por recompensas faz parte da sua senciência – a capacidade de sofrer ou sentir prazer ou felicidade”, explica Balcombe.

Evidências científicas

Uma vez consideradas totalmente absurdas, hoje emoções animais são uma fonte legítima de pesquisa. Embora os seres humanos não possam saber ao certo o que um animal está sentindo (como não podem saber com certeza o que um outro ser humano está sentindo), podem observar mudanças no comportamento e fisiologia dos bichos, e inferir seus sentimentos.

A evidência é ainda mais atraente quando descobrimos que essas mudanças refletem as próprias mudanças vistas em nossos corpos quando somos expostos a estímulos semelhantes.

Por exemplo, na Universidade de Viena (Áustria), uma pesquisa ensinou cães a selecionarem símbolos e imagens em uma tela de computador tocando-os com o nariz. O estudo foi usado para mostrar que os cães, como nós, olham primeiro para o lado esquerdo de um rosto humano, onde os cérebros processam mais emoção. Assim, eles começam uma leitura rápida dos nossos humores e intenções. Isso tudo acontece em uma fração de segundo e, como nós, os cães provavelmente não sabem que estão fazendo isso.

Estudos preliminares também mostram que centros de recompensa do cérebro acendem quando os cães veem um sinal com a mão que normalmente é seguido por algo bom (um biscoito), mas não acendem para um sinal neutro. Da mesma forma, dentro de uma máquina de ressonância magnética, quando os cães sentiram cinco cheiros (o seu próprio, de humanos familiares, de humanos estranhos, de cães familiares e de cães estranhos), seus cérebros registraram uma resposta mais forte ao humano familiar. Parece que a noção de que o cão é “o melhor amigo do homem” é uma faca de dois gumes.

Depressão animal

E animais não sentem só alegria e felicidade, mas tristeza também.

É bem conhecido que quando as pessoas se sentem deprimidas, são mais propensas a ter uma visão pessimista da vida. Parece que não estamos sozinhos nessa tendência.

Em um estudo conduzido pela Universidade Newcastle, da Inglaterra, estorninhos europeus foram alojados durante dez dias tanto em recintos socialmente enriquecidos ou sozinhos em pequenas gaiolas.

Ambos os conjuntos de aves aprenderam a forragear arrancando tampas de pratos, cada um contendo uma minhoca. Os pássaros logo aprenderam que pratos com tampas brancas continham vermes saborosos, enquanto pratos com tampas cinzas escuras abrigavam vermes com sabor ruim. Aves de ambos os grupos logo pararam de virar as tampas escuras.

Mas quando os pesquisadores começaram a apresentar pratos ambíguos, com tampas com tons mais claros de cinza, eles descobriram que as aves em um ambiente social rico eram mais propensas do que as emocionalmente empobrecidas a provar o verme dentro. Além disso, as aves de ambiente social bom tornavam-se marcadamente pessimistas – não abrindo as tampas ambíguas – se eram passadas para alojamentos solitários.

Em uma série de estudos, ratos, porcos, cabras e, curiosamente, até abelhas mostraram a mesma resposta de otimismo/pessimismo (os cientistas a chamam de “viés cognitivo”) para resultados incertos. Parece que a vida de um animal pode ir bem ou mal, e isso influi no estado interno do indivíduo.

Emoções marinhas

Hoje, a maioria dos cientistas concorda que todos os animais vertebrados – mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes – são, em graus variados, sencientes.

Mas essa perspectiva nem sempre foi popular.

Historicamente, por exemplo, a vida do mar raramente aspirava preocupação quando se tratava de sua capacidade de sofrer. Porém, experimentos meticulosos realizados em trutas uma década atrás concluíram definitivamente que peixes podem sentir dor.

Há agora também apoio científico para a senciência em pelo menos alguns invertebrados. Na pesquisa da bióloga canadense Jennifer Mather, polvos mostraram curiosidade, brincabilidade e personalidade.

E em um estudo liderado por Robert Elwood na Universidade Queens Belfast (Irlanda do Norte), camarões passaram mais tempo acariciando sua antena machucada, a menos que tivessem recebido um anestésico.

Voltando aos peixes, eles são animais altamente evoluídos. Comportam-se mostrando medo, emoção, raiva, prazer e ansiedade. Seus cérebros produzem os mesmos compostos que acompanham as emoções em mamíferos. Demora 48 horas para que os níveis de hormônio dos peixes voltem ao normal após eles serem manipulados de maneira áspera, como serem pegos por pescadores e colocados em pequenos baldes.

Em recifes de coral, as interações entre peixes-limpadores e seus clientes são ricas em consciência e emoção. Limpadores fazem propaganda de seu negócio. Clientes fazem fila pelo serviço de limpeza. Ambas as partes se beneficiam: os limpadores conseguem comida, e os clientes ficam sem parasitas e outras sujeiras indesejáveis.

Este não é um arranjo à toa. Os clientes têm seus limpadores favoritos, outros peixes observam essas interações para escolher quem eles acham que limpa bem e alguns limpadores até tratam melhor o cliente (sem morder sua pele, por exemplo) se há um chefe por perto.

Hoje, os cientistas estão fazendo perguntas sobre a vida dos animais como nunca fizeram antes, diz Blacombe. Conforme as suas conclusões emergem, ganhamos uma perspectiva mais esclarecida das diversas emoções animais. “Isso me dá otimismo de que as expressões negligentes e abusivas da relação homem-animal irão evoluir através da compreensão, na direção da compaixão”, afirma o biólogo. [LiveScience]

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