Antigo penteado de virgens romanas recriado pela primeira vez

Por , em 15.01.2013

Depois da queda do Império Romano, muita coisa se perdeu ou foi esquecida. Uma delas é os penteados das vestais, jovens romanas escolhidas na infância para o celibato.

Baseando-se em várias estátuas que representavam bustos de vestais, a arqueóloga amadora e cabelereira Janet Stephens, de Baltimore (EUA), acredita ter conseguido recriar o penteado único.

Conhecido como “sine crenes”, ou “sem entalhes”, o penteado simbolizava a castidade, e era conhecido em textos antigos como sendo o penteado mais antigo de Roma.

Engenharia reversa de penteados

Segundo Janet, tudo começou em um passeio pelo Museu de Arte Walters, de Baltimore, onde ela viu um retrato antigo. Seu primeiro pensamento foi “que legal, vou tentar fazer em casa”. Só que, na sua primeira tentativa, ela “falhou miseravelmente”.

Durante sete anos, ela pesquisou estátuas, textos e outros trabalhos sobre o assunto. Janet conta que a maioria das estátuas de vestais, a fonte que ela acabou usando para recriar penteado, não são de grande ajuda porque elas são retratadas geralmente com alguma peça de vestuário sobre a cabeça como sinal de recato, ou com os detalhes obscurecidos.

Ela conseguiu dois bustos que mostravam o penteado com algum detalhe e, a partir deles, fez a reconstrução. “É como uma tapeçaria, cada padrão tem suas marcas próprias”, diz ela.

Recriando o penteado

Usando os dois bustos, ela chegou à conclusão que o cabelo deveria ser dividido em seis seções, cada uma dando origem a uma trança.

Além disso, o cabelo da linha da testa era enrolado em uma corda, chamada vitta, que corria a volta da cabeça e era amarrado na nuca.

As tranças eram amarradas duas a duas, na nuca, com um nó simples, e depois enroladas em direção à frente da cabeça, ficando presas na vitta, próximo da orelha.

Havia também uma sétima trança, feita com cabelo que não pertencia a nenhuma das seções anteriores, que ficava por baixo das outras seis tranças.

Protegendo as tranças (e as ocultando em quase todas as estátuas, o que dificultou a recriação do penteado), havia uma peça de vestuário chamada infula, descrita por alguns como um tipo de turbante.

Por cima de tudo ficava um véu, o suffibulum, preso no peito por um broche chamado fibula. Todo este processo pode ser acompanhado em detalhes no vídeo acima.

Janet aponta que, para fazer o penteado, era necessário um cabelo que fosse até a cintura. Como as vestais eram escolhidas muito jovens, provavelmente algumas condições que limitam o tamanho final do cabelo, como problemas de tireoide, só eram detectadas mais tarde – neste caso, a vestal provavelmente precisaria “dar um jeito”…

Trabalhando com uma modelo e ferramentas acessíveis aos romanos (um pente, agulhas de madeira e um grampo em forma de T), Janet levou cerca de 40 minutos para fazer o penteado. Ela calcula que, com duas ou mais pessoas a auxiliando, poderia terminar o penteado em menos de 10 minutos.

Vestais, virgens e poderosas

Havia em Roma sempre seis vestais a serviço, guardiãs do fogo sagrado de Vesta, e um símbolo para o povo da própria alma de Roma. Vesta era uma deusa do fogo. Os romanos acreditavam que, enquanto a chama estivesse queimando, a cidade e a civilização romana estariam protegidas.

Elas eram escolhidas para o serviço sagrado com a idade de 6 e 10 anos, e não poderiam ter nenhum defeito físico ou mental. Durante seus 30 anos de serviço, deviam manter-se castas, sob pena de morte. Nos 10 primeiros anos, eram treinadas para o serviço; nos dez anos seguintes deveriam servir como sacerdotisas, e nos últimos 10 anos deveriam treinar novas vestais.

Havia compensações em ser vestal: elas tinham um status enorme entre os romanos, sendo as mulheres mais influentes do Império, depois da esposa do imperador. Também tinham alguns direitos negados às mulheres comuns, como fazer o próprio testamento.

No ano 394, o imperador cristão Teodósio I terminou com o culto da Vesta, dispersou as vestais e apagou o fogo sagrado. Em 476, o Império Romano caiu nas mãos dos bárbaros, marcando o fim de sua decadência, que começara pelo menos 100 anos antes.

Janet Stephens tem um canal no Youtube onde ela apresenta outros penteados antigos, inclusive alguns para pessoas de cabelos curtos. Seu trabalho sobre o penteado das vestais foi apresentado em 4 de janeiro de 2013, durante o encontro anual do Instituto Arqueológico da América em Seattle. [LiveScience, DailyMail]

2 comentários

  • Dinho01:

    Uma curiosidade:Segunda a tradição se o fogo sagrado apagasse,ele teria que ser reaceso só com o poder da mente das Vestais.

  • aguiarubra:

    Ah! Se eu fosse indiano…!!!

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