Ser humano: nova espécie é descoberta e pode mudar nossa compreensão da evolução

Por , em 10.09.2015

No fundo de um sistema de cavernas da África do Sul, uma equipe de cientistas descobriu 15 esqueletos parciais de uma espécie hominídea completamente nova.

Ela pode ser a mais primitiva do nosso gênero já encontrada, visto que estima-se que os restos possam ter até 3 milhões de anos.

A surpresa

Uma equipe internacional de mais de 60 cientistas liderados por Lee R. Berger, paleoantropólogo americano que é professor de Evolução Humana na Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, escavou o local da descoberta.

O nome da espécie, Homo naledi, refere-se ao sistema de cavernas onde os ossos foram achados, chamado de Rising Star. “Naledi” significa “estrela” no idioma local Sesotho.

Os pesquisadores ainda não podem dizer com certeza a idade dos ossos, algo que é difícil de medir por causa dos sedimentos confusos e da ausência de fauna na região.

Sua anatomia primitiva, como o cérebro do tamanho de uma laranja, indica que a espécie evoluiu próxima à ou na raiz do gênero Homo, o que significa que deve ter de 2,5 milhões a 2,8 milhões de anos. Geólogos sugerem que a caverna tenha mais de três milhões de anos.

Mais completo, impossível

Dois espeleólogos, Rick Hunter e Steven Tucker, descobriram os fósseis em 2013, cerca de 50 quilômetros a noroeste de Johanesburgo. Eles foram recuperados em duas missões em 2013 e 2014 pela equipe internacional.

Os pesquisadores encontraram mais de 1.500 ossos e fragmentos de ossos e 140 dentes em uma única viagem. Esse número é praticamente inédito em sítios de restos Homo.

Eles representam pelo menos 15 indivíduos diferentes, incluindo crianças, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos. Essa será provavelmente a espécie hominídea mais bem estudada de todas até agora.

“Nós vamos saber quando seus filhos foram desmamados, quando nasceram, como se desenvolveram, a velocidade com que se desenvolveram, a diferença entre homens e mulheres em todas as fases de desenvolvimento, desde a infância até a adolescência, e a forma como envelheceram e morreram”, afirma Berger.

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Anatomia da espécie de ser humano descoberta

Os cientistas acreditam que as características observadas no crânio, as mãos e os dentes dos esqueletos os tornam parte do gênero Homo.

Os restos mortais que foram estudados até agora indicam que o Homo naledi era uma criatura de aparência incomum. Sua pelve e seu ombro são, aparentemente, uma reminiscência de macacos que viviam 4 milhões de anos atrás, enquanto os pés se assemelham a Homo sapiens de apenas 200 mil anos atrás.

Enquanto isso, o crânio é muito menor que o de humanos modernos, com um cérebro inferior a metade do tamanho do nosso: com 500 centímetros cúbicos, é quase tão grande como uma laranja média, em comparação aos cerca de 1.200 a 1.600 centímetros cúbicos dos cérebros humanos atuais.

Em média, o Homo naledi tinha 1,5 metro de altura e pesava cerca de 45 kg.

Combinações estranhas

A surpreendente mistura de traços de hominídeos primitivos e modernos é intrigante, e nunca tinha sido vista antes. Talvez essa espécie seja uma “ponte” na evolução humana.

Por exemplo, enquanto suas mãos sugerem capacidades de uso de ferramentas, pesquisadores acreditavam que tais capacidades tinham sido acompanhadas de um impulso no tamanho do cérebro, o que não é o caso do Homo naledi, que tinha um crânio pequeno.

Além disso, seus pés são praticamente indistinguíveis dos humanos modernos. Isto, juntamente com suas longas pernas, sugerem que a espécie era adaptada para uma vida na terra. Só que seus dedos eram extremamente curvados, mais do que qualquer outra espécie de hominídeo primitiva, o que aponta para uma vida adequada para subir em árvores.

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“O que estamos vendo são mais e mais espécies que sugerem que a natureza estava experimentando com a forma de evoluir os seres humanos, dando assim origem a vários tipos diferentes de criaturas humanoides em paralelo em diferentes partes da África. Apenas uma linha eventualmente sobreviveu, para dar origem a nós”, Berger disse à BBC News.

Enterro

O grande número de ossos encontrados em um só local sugere que os corpos podem ter sido deliberadamente deixados no sistema de cavernas, o que por sua vez sugere que os humanos primitivos podem ter enterrado seus mortos.

Homo naledi é um membro primitivo de nosso gênero, talvez o mais primitivo que já vimos, mas tinha a capacidade mental e comportamental de eliminar restos de uma forma ritual”, disse Berger.

A parte isolada do sistema onde os restos foram achados nunca foi aberta diretamente para a superfície. Dos milhares de ossos recuperados, apenas cerca de uma dúzia não eram hominídeos, mas sim restos de pequenos animais como pássaros e ratos.

Não há nenhuma evidência de que água ou lama tenham levado estes ossos para o local, nem existem marcas de mordida sugerindo que predadores ou carniceiros carregaram os restos mortais para a caverna.

Enquanto tudo isso sugere que os corpos foram colocados ali intencionalmente, esta é a primeira vez que tal comportamento com os mortos tem sido visto com uma espécie tão primitiva na árvore familiar humana. Isso sugere que essa é uma descoberta extraordinária, um divisor de águas, que pode mudar nossa compreensão da evolução humana.

Dúvidas

A descoberta é claramente importante, embora alguns pesquisadores estejam compreensivelmente cautelosos sobre o que ela pode nos dizer. Jeffrey Schwartz, da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, por exemplo, disse ao jornal New Scientist que “os espécimes agrupados como Homo naledi representam duas formas cranianas”.

E, enquanto poucos estão em dúvida sobre a espécie ser a mais nova adição ao gênero Homo, essa é uma preocupação de Ian Tattersall, paleoantropólogo do Museu Americano de História Natural, que não participou da pesquisa.

“Eu sou um grande defensor da noção de que o gênero Homo é muito inclusivo”, disse. “Eu não gosto de colocar coisas novas em caixas velhas. Eu não acho que temos o vocabulário necessário para descrever a diversidade que estamos vendo nos primeiros hominídeos”.

Hominídeos incluem a linhagem humana e seus parentes, depois da separação da linhagem dos chimpanzés. [Gizmodo, LiveScience, BBC, NYTimes]

7 comentários

  • Mariana Montreal:

    Que fé essa de vocês, já pensaram que pode ter sido uma pessoa de séculos atrás que tivesse alguma doença.

    • Marcelo Ribeiro:

      Antes de comentar sobre ciência é bacana se ilustrar um pouco sobre ela antes de comentar. Não, não é doença. Não é fé. São evidências. E junto com estas há milhares de outras que apontam para a certeza da evolução por meio da seleção natural. O que a bíblia te diz é mito, o que a ciência descobre é real você acreditando ou não.

    • Cesar Grossmann:

      Só que os paleontologistas sabem direitinho como é o esqueleto de alguém doente, Mariana. Não é este o caso.

      Mas valeu a tentativa. #SQN

    • Edna De Jesus Medrado:

      Procuram, com muita imaginação, humanizar os macacos e “macaquizar” os humanos.

    • Cesar Grossmann:

      Não, quem usa de muita imaginação é quem acha que o homem veio de um boneco de barro e a mulher de uma costela. Isto sim é imaginação!!!!

  • João Carlos Agostini:

    Acho que a palavra ritual pesada demais para tentar entender o agrupamento desses Homos.

    • Cesar Grossmann:

      Se todo mundo levava seus parentes falecidos para a mesma caverna, para mim isto é um ritual.

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