Nova espécie de polvo gigante estava se escondendo em plena vista

Por , em 27.12.2017

Você não pensaria que um polvo gigante pudesse passar despercebido durante décadas, mas aconteceu: pesquisadores já desconfiavam que o polvo-gigante-do-pacifico (Enteroctopus dofleini), o maior conhecido, é, na verdade, duas espécies.

Agora, fomos devidamente apresentados ao novo “polvo-gigante-franzido” (em tradução literal do termo original em inglês, “frilled giant octopus”), um animal do qual ainda temos que aprender muito para garantir sua sobrevivência.

A suspeita

O primeiro passo para identificar uma nova espécie é observar um indivíduo com atenção. Ele não precisa ser, digamos, um animal totalmente diferente de tudo que já vimos antes – em alguns casos, os pesquisadores notam características sutis suficientes em um animal para acreditar que estão olhando para uma espécie ainda não catalogada.

Às vezes, essas espécies se escondem em plena vista, como aconteceu recentemente com uma bióloga brasileira que identificou várias espécies de tamanduás-anões a partir de uma única conhecida.

E como aconteceu agora com pesquisadores da Universidade Alaska Pacific, no Alasca, e do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que descobriram que os polvos normalmente identificados como polvo-gigante-do-pacifico, que vive da Califórnia ao Japão, pertencem na verdade a duas espécies distintas.

Em 2012, os cientistas encontraram um grupo geneticamente distinto desses polvos na Enseada do Príncipe Guilherme, no Golfo do Alasca. Infelizmente, eles haviam coletado apenas pequenos cortes de tecido dos tentáculos para análise de DNA antes de retornar os polvos para a natureza, então não conseguiram descobrir se os dois grupos também poderiam ser visualmente distintos.

A confirmação

Mais tarde, Nathan Hollenbeck, estudante de graduação da Universidade Alaska Pacific, decidiu estudar essas criaturas para sua tese, tendo a ideia de observar capturas colaterais de pesca de camarão.

Pescadores de camarão no Alasca usam armadilhas que ficam nas águas por um dia inteiro. Ocasionalmente, um polvo-gigante acaba sendo capturado junto com os camarões – ou melhor, nestes casos, geralmente o polvo come a pesca toda.

Analisando esses polvos pescados por engano, Hollenbeck explica que as duas espécies são visualmente diferentes: a mais nova exibe “pregas” distintivas ao longo do seu corpo. Esses polvos franzidos também exibem curiosos “cílios” de pele elevada e dois pontos brancos na frente da cabeça, onde os polvos-gigantes-do-pacífico têm apenas um.

Para confirmar que o grupo visualmente distinto era também geneticamente distinto, Hollenbeck cortou pequenos pedaços dos tentáculos dos polvos. Embora o polvo possa se regenerar, como o cientista também queria saber se trabalhos futuros poderiam evitar esta técnica de amostragem invasiva, ele testou coletar DNA passando cotonetes na pele dos animais.

Não invasivo

Você provavelmente preferiria que um médico passasse um cotonete em sua bochecha em vez de enfiar uma agulha em seu braço, certo? Outros animais provavelmente compartilham essa preferência.

Cientistas usam rotineiramente técnicas de amostragem não invasivas em mamíferos e aves, mas Hollenbeck foi o primeiro a experimentá-las em um polvo. Funcionou, aliás.

O DNA das pontas dos tentáculos e dos cotonetes concordaram: o polvo-franzido é uma espécie separada do polvo-gigante-do-pacífico.

Hollenbeck e seu orientador, David Scheel, publicaram seus resultados na revista científica American Malacological Bulletin.

Muito a descobrir

O novo polvo ainda não possui um nome em latim, mas deve manter o mesmo gênero que seu parente, Enteroctopus.

Este não é somente o caso desses polvos serem “um pouco distintos visualmente”: as diferenças anatômicas entre as espécies podem ser profundas o suficiente para representar qualquer número de diferenças mais fundamentais em estilo de vida, dieta ou reprodução.

Afinal, as pregas no corpo da nova espécie devem ter uma função que ainda precisa ser estudada.

Sobrepesca

Os “novos” polvos parecem viver em menos locais que o polvo-gigante-do-pacífico. Hollenbeck e Scheel coletaram relatórios confiáveis da espécie apenas de Juneau ao mar de Bering. Eles também parecem preferir águas mais profundas. Neste habitat, porém, podem ser bastante comuns.

Os polvos-franzidos constituem um terço da captura incidental da pesca de camarão. Caranguejo e bacalhau também são pescados da mesma forma no Golfo do Alasca, e é provável que muitos dos polvos que se tornam ocasionais vítimas nessas armadilhas sejam da espécie recém-identificada. Ninguém sabe se isso representa uma ameaça a sua sobrevivência.

Mesmo para polvos-gigantes-do-pacífico, não temos informações suficientes para determinar se eles correm risco de sobrepesca. Por enquanto, as regulamentações federais americanas especificam uma captura incidental máxima de polvo com base nas melhores estimativas disponíveis de quantos estão lá fora. A pesca de bacalhau no Alasca foi proibida em pelo menos uma ocasião em que esse limite foi atingido.

Como ambos os polvos não eram diferenciados até agora, é impossível distinguir os impactos da pesca nas duas espécies diferentes. [Eather, BBC]

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