Com as mudanças climáticas, peixes deixam de “sentir o cheiro do perigo”
O elevado nível de acidez das águas, que se elevou paulatinamente ao longo do século XX, está tirando dos peixes uma importantíssima habilidade: o olfato. A elevação da temperatura dos oceanos aumenta a dissolução de dióxido de carbono na água do mar. O excesso de CO2, por sua vez, torna a água mais ácida. Um novo estudo em Belfast (Irlanda do Norte) está concluindo que a acidez da água está causando disfunções olfativas nos peixes de água salgada.
Sem olfato, os peixes têm um prejuízo que lhes pode custar a própria sobrevivência: sem poder sentir o cheiro de predadores, tornam-se ainda mais vulneráveis a eles. Em alguns casos, segundo os pesquisadores, eles acabam sendo até atraídos para os predadores. O nível de acidez no mar, além de ter consequências como prejudicar o crescimento de mariscos, que não desenvolvem corretamente sua concha, pode desequilibrar a cadeia alimentar com a incapacidade dos peixes de fugir de predadores.
Os pesquisadores fizeram experimentos em um tanque de água salgada, em que houve adição extra de dióxido de carbono. Para o experimento, foram utilizadas larvas, que eram presas, e peixes maiores, os predadores. Depois de poucos dias, eles começaram a mostrar prejuízos em suas capacidades olfativas. As larvas foram colocadas para nadar em uma câmara criada em laboratório, que continha dois riachos de água corrente em paralelo com o tanque. O fluxo dos riachos levava às larvas o cheiro do predador. Aquelas que não haviam sido expostas à água com acidez, ao sentirem o cheiro do predador, mudaram o sentido do nado para fugir, o que não aconteceu com as que nadaram da água ácida. Os pesquisadores ainda não detectaram o motivo da perda de habilidade olfativa, mas com a elevação da temperatura dos oceanos esse fenômeno só deve aumentar. [Telegraph]