Como caçar preguiças gigantes, de acordo com antigas pegadas humanas

Por , em 26.04.2018

Erguendo-se em suas patas traseiras, a preguiça-gigante teria sido uma presa formidável para qualquer um – principalmente para seres humanos antigos, sem armas modernas.

Musculosa, zangada e balançando suas patas dianteiras com garras do tipo Wolverine, teria sido capaz de se defender com eficácia. Nossos ancestrais provavelmente usaram a desorientação para ganhar vantagem em um combate próximo com essa criatura mortal.

Como sabemos disso?

Através de pegadas de 10 mil anos que esses combatentes deixaram para trás, reveladas em uma nova pesquisa de colaboração internacional publicada na revista científica Science Advances.

Registros incríveis do passado

No passado, existiam numerosos animais de grande porte, a chamada megafauna. A preguiça-gigante era um deles. Todos foram extintos no final da Idade do Gelo. Nós não sabemos se a caça foi a causa, mas uma nova evidência nos diz que humanos de fato atacavam animais tão temíveis.

As pegadas foram encontradas no Monumento Nacional de Areias Brancas (White Sands), no Novo México, EUA, em parte usado pelos militares. É um lugar muito bonito, com um enorme lago seco conhecido como Alkali Flat e o maior campo de dunas de gesso do mundo.

Enquanto o clima esquentava, tal lago encolheu e seu leito foi erodido pelo vento para criar as dunas. A megafauna da Idade do Gelo deixou rastros nesses locais, e as pegadas são notáveis por estarem apenas alguns centímetros abaixo da superfície e ainda assim se preservarem por mais de 10 mil anos.

Nesse monumento, há rastros de vários animais extintos, como preguiças-gigantes, mastodontes, mamutes, camelos e lobos-gigantes ou lobos-terríveis. Essas pegadas são conhecidas como “rastros fantasmas”, pois só são visíveis na superfície durante condições climáticas específicas, quando as crostas de sal não estão muito espessas e o solo não está muito úmido. Então, escavação cuidadosa é possível.

O combate

O novo estudo, que incluiu membros do Serviço Nacional de Parques dos EUA, da Universidade Cornell, da Universidade da Califórnia, da Universidade do Arizona (todas nos EUA) e da Universidade Bournemouth (no Reino Unido), entre outras instituições, estudou uma série de pegadas humanas próximas à de uma preguiça gigante.

Os pesquisadores acreditam que os humanos a perseguiam para matá-la. Eles identificaram “círculos amplos” que indicam que a preguiça se ergueu em suas patas traseiras e balançou as dianteiras, presumivelmente em um movimento defensivo para manter os caçadores afastados. Conforme se desequilibrou, colocou suas garras para baixo para se firmar.

Esses círculos defensivos são sempre acompanhados por pegadas humanas. Em áreas onde não há rastros humanos, a preguiça caminha em linhas retas. Já nos locais em que pegadas humanas estão presentes, as da preguiça-gigante mostram mudanças repentinas na direção, sugerindo que estava tentando escapar de seus caçadores.

Resolvendo o quebra-cabeça, os pesquisadores pensam que a preguiça ficou isolada na região do lago por conta de uma horda de pessoas caminhando em volta dele. Em determinado momento, foi distraída por um caçador perseguidor, enquanto outro tentou atingi-la com um golpe mortal.

Impacto humano

Quanto maior a presa, maior o risco. Os cientistas acreditam que os antigos humanos se envolveram em tal jogo tão perigoso porque uma grande matança poderia encher muitos estômagos sem desperdício. Ou talvez fosse uma pura demonstração de coragem.

Neste momento, no final da última Idade do Gelo, as Américas estavam sendo preenchidas por seres humanos se espalhando pelas planícies da pradaria. Esse também foi um período de extinções animais. Muitos paleontólogos defendem que a caça excessiva gerou essa onda de extinção e, para alguns, tornou-se um emblema do impacto humano inicial no meio ambiente. Outros pensam que a mudança climática foi a verdadeira causa e nossa espécie é inocente.

O novo estudo parece corroborar a ideia de que caçadores humanos estavam atacando a megafauna. Infelizmente, isso não esclarece o impacto dessa caça.

Se os seres humanos foram a causa última ou imediata da extinção, ainda não está claro. O que está claro pelas pistas deixadas em White Sands é que os humanos eram, como agora, “predadores de topo” da cadeia alimentar. [Phys]

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