O amor é lindo, só que nem sempre. Não sei se existe um estudo científico sobre isso, mas algumas pessoas concordariam que parecem existir mais amores não correspondidos do que finais felizes no mundo.
Em vez de intimidade, parceria e carinho, o que nos resta é rejeição e sofrimento. O que fazer nesses momentos?
Embora não exista nenhuma cura rápida para coração partido, especialistas dizem que é possível se “desapaixonar”. Confira as melhores maneiras de parar de amar alguém:
Largando o vício
Você pode sentir que o amor é algo além de seu controle, mas pesquisas psicológicas mostram que há, na verdade, formas de domar esse sentimento selvagem. A antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers (EUA), por exemplo, trabalhou com neurocientistas para produzir imagens do cérebro das pessoas enquanto elas estão apaixonadas, e descobriu que os sentimentos de amor intenso ativam a uma região do cérebro (núcleo accumbens) associada com recompensas e vícios.
Ou seja, o amor ativa as partes do nosso cérebro que também são ativadas no cérebro de viciados em cocaína e cigarro quando eles antecipam a sensação de se drogar ou fumar. Por conta disso, Fisher recomenda tratar seu amor do jeito que você trataria um vício: jogando fora cartões e cartas, ou escondendo-os em um armário. “Se você está tentando parar de ingerir álcool, você não deixa uísque em sua mesa”, explica. Idealmente, você quer parar de pensar na pessoa totalmente, então precisa se livrar de objetos que a lembrem.
Também é necessário não procurar seu ex, seja na internet ou na vida real, permanecendo o mais distante possível.
Mudando de pensamento
É fácil jogar suas memórias em uma caixa e tentar não abri-la. Evitar de pensar na pessoa, entretanto, é bem mais difícil.
Porém, segundo o psicólogo Robert Sternberg, da Universidade Estadual de Oklahoma (EUA) e autor de “A Teoria Triangular do Amor”, existem algumas coisas que você pode fazer para tornar a tarefa mais acessível.
Uma delas é refletir sobre o fato de que relações nunca podem funcionar a menos que ambas as pessoas estejam dispostas a fazê-las funcionar. Ou seja, você e a pessoa que você quer esquecer nunca teriam dado certo.
Outra coisa superimportante é manter-se ocupado. Não se dê tempo de pensar na pessoa: vá fazer algo melhor do seu dia. Estude, leia, saia, conheça outras pessoas, etc.
Encontrar alguém também ajuda a evitar que você pense no seu amor antigo. No entanto, Sternberg alerta para o risco de que parceiros transitórios geralmente não acabam sendo parceiros permanentes (aquelas pessoas que você conhece entre um relacionamento e outro).
Por fim, caso se veja pensando sobre a pessoa, seja rápido em enfatizar suas características negativas. Assim, você deve perceber, a longo prazo, que teve sorte em ter saído desse relacionamento.
Se nada disso adiantar, aguarde pela “pílula do desamor”…
O psiquiatria Thomas Lewis, da Universidade de São Francisco (EUA) e coautor do livro “Uma Teoria Geral do Amor”, suspeita que não há nada que uma pessoa possa fazer para se “desapaixonar” por alguém, da mesma forma que não há nada que uma pessoa bêbada possa fazer para ficar sóbria.
“Apaixonar-se é um estado semelhante de intoxicação, e é bem possível demonstrar, em estudos de neuroimagem, que áreas do cérebro que controlam julgamento crítico e processam emoções negativas são suprimidas durante o estado da paixão. Assim, em geral, nenhuma quantidade de raciocínio, e nenhuma quantidade de evidências sobre quão nociva a outra pessoa realmente é acabam penetrando na cabeça de alguém que está apaixonado”, sugere.
Basta pensar na famosa frase “O amor é cego” para saber que Lewis está certo. Mas nem tudo está perdido.
“Eu disse que não há nada que a pessoa possa fazer, por si só, para parar de amar. Mas acho que é possível que medicamentos modernos que alteram neurotransmissores, inclusive alguns que provavelmente não foram inventados ainda, possam interromper o estado de se apaixonar”, opina.
Lewis cita a recente descoberta de uma molécula (dihydromyricetin, em inglês) que, quando administrada, impede ratos de ficarem intoxicados quando bebem álcool. Eles podem beber o quanto quiserem, mas praticamente nada acontece a sua função cerebral (embora algo possa acontecer a seus fígados).
“Se é possível evitar que o álcool seja inebriante, então eu suspeito que é, pelo menos teoricamente possível, impedir que o amor seja inebriante, embora também suspeite que o amor possa ser mais complexo do que a embriaguez habitual”, diz.
Ou seja, o amor poderia exigir mais ajustes em neurotransmissores, além de alterações nos sistemas de dopamina, opioide endógeno e ocitocina.
Pode ser interessante pensar em uma “pílula” para se desapaixonar, mas essa solução certamente está no futuro – se é que vai chegar ao mercado um dia.
…ou aposte na única cura confiável: o tempo
Por menos romântico que isso possa soar, é verdade: o amor não dura. Cada um dos especialistas que opinou neste artigo notou que raramente param para pensar em como se “desapaixonar”. Em vez disso, eles geralmente se perguntam como duas pessoas podem permanecer apaixonadas ao longo do tempo.
Esta é uma boa notícia para os que querem afastar a sensação dolorosa da rejeição. Geralmente, a intensidade apaixonada do amor não dura. Claro, pode se aprofundar em um relacionamento duradouro ou casamento, mas nunca vai permanecer tão intensa quanto é durante o começo da relação.
Fisher explica que há verdade no velho ditado de que o tempo cura, mesmo em um nível neurológico. Ela e sua equipe descobriram que as pessoas que haviam sido rejeitadas mostravam atividade reduzida ao longo do tempo no paládio vental, uma área do cérebro associada com sentimentos de apego.
Para ajudar o seu cérebro com esse “desapego”, faça bastante exercício físico para liberar hormônios como a dopamina. E abrace muito seus amigos: o toque é uma maneira de circular ocitocina em seu sistema, hormônio que poderia ajudá-lo a se sentir mais calmo.
“Para melhor ou para pior, a fase apaixonada não dura para sempre, não importa se queremos isso ou não. Portanto, se você se vê preso ao fardo de estar apaixonado pela pessoa errada, pode encontrar algum consolo no fato de que, algum dia no futuro relativamente próximo, você estará livre”, comenta Lewis.[io9]