Como um experimento ruim e cavalos mortos levaram ao seu banho diário
Os anos do século XVI ao século XVIII, além de terem sido consagrados por suas posições lamentáveis sobre a queima das bruxas e o geocentrismo, foram uma época fedida para se estar vivo. As pessoas não tomavam banho devido a um equívoco popular. O que mudou a situação da água para o vinho? Outro equívoco popular, uma experiência mal planejada e cavalos mortos.
O problema era que o retorno da peste negra e o surgimento de doenças como sífilis fez as pessoas pensarem que as doenças se espalhavam com os banhos coletivos. Não muito depois disso, também começaram a pensar que qualquer banho espalhava doenças. Os médicos concluíram que a abertura dos poros deixava vapores insalubres entrarem.
Por isso, as pessoas deveriam selar seus poros com seus próprios óleos corporais e nunca permitir que os óleos protetores fossem lavados. Esta tradição manteve-se predominante durante centenas de anos. As pessoas limpas não se lavavam, apenas mudavam as roupas e mantinham seus poros bloqueados – mais ou menos como a realidade dos sonhos de qualquer criança que detesta a hora do chuveiro.
Foi necessário muita re-engenharia social para fazer com que os banhos ficassem conhecidos como saudáveis novamente. Aos poucos, spas, banhos frios para “endurecer” as crianças e o próprio sabão tornaram-se mais comuns. Por fim, na década de 1830, os cientistas começaram a reexaminar a doutrina “poros fechados são saudáveis”, que tinha sido reafirmada por 300 anos, mas fizeram isso da pior maneira possível.
Eles começaram raspando os pelos dos cavalos. Em seguida, cobriram os cavalos com piche. Os cavalos morreram imediatamente. Quando os cientistas adicionaram cola ao piche, os cavalos morreram ainda mais rápido.
Então, os médicos concluíram que o dióxido de carbono era exalado parcialmente através da pele, que respirava assim como qualquer outro órgão. Se os poros fossem entupidos, a pele não podia respirar e o organismo iria morrer. Os médicos concluíram que a obstrução dos poros não era boa para as pessoas e que banhos mais frequentes provavelmente fariam com que a população fosse mais saudável.
Eles estavam perfeitamente certos sobre como poros desobstruídos e corpos limpos eram melhores do que tomar banho apenas uma vez por ano. No entanto, chegaram a conclusões erradas sobre o que matou os cavalos. Esta conclusões alimentaram lendas urbanas desde então, culminando em cenas icônicas de James Bond (em “007 contra Goldfinger”, o vilão tinha uma amante totalmente pintada de dourada, exceto por uma faixa que permitiria que a sua pele respirasse), mas não têm nenhum fundamento na realidade.
Os seres humanos não respiram através da pele – nem mesmo um pouco. Mas regulamos o calor através da nossa pele, e cobri-la completamente pode atrapalhar este processo. Cobrir um cavalo com piche quente significa rodear o animal com uma enorme quantidade de calor, ao mesmo removendo sua capacidade de resfriar-se. O piche não precisa ser muito quente para matar o cavalo, basta que haja um monte dele e o cavalo não possa suar. Nós também podemos absorver venenos através de nossa pele, o que significa que a cola, provavelmente, envenenou os cavalos.
Felizmente, os erros sobre a perda de dióxido de carbono não foram as únicas coisas espalhadas naquele dia. As pessoas tinham, enfim, uma razão científica para acreditar que tomar banho com frequência era mais saudável do que tomar banho apenas eventualmente. A hora do banho não era uma indulgência ou um hábito tolo e destrutivo, mas uma maneira de manter a boa saúde. De 1800 em diante, tomar banho mais frequentemente e de forma mais completa ganhou popularidade. E é por isso que você provavelmente começou este dia com uma chuveirada, ao invés de envolver o seu corpo sujo em roupas limpas e desmaiar no ônibus para o trabalho por causa do fedor coletivo. [io9]
1 comentário
Odores a parte, hoje em dia estão redescobrindo os benefícios dos óleos naturais do corpo para a saúde. Sobre esse ponto de vista o excesso de banhos pode ser prejudicial a saúde, claro que o não tomar banho também é prejudicial, por isso devemos evitar tanto o excesso como a falta de banho. É a famosa máxima “a diferença entre o remédio e o veneno esta na dose”.