Pesquisadores da Universidade de Cornell (EUA) encontraram evidências de uma variação genética em populações com um histórico de dieta baseada em vegetais.
Esta variação, ou alelo, parece ter se desenvolvido ao longo de centenas de gerações, permitindo que os vegetarianos processassem mais eficientemente ácidos graxos ômega-3 e ômega-6.
Isso faz com que tais ácidos sejam melhor convertidos para ajudar no desenvolvimento do cérebro.
Adaptação
Populações Inuit da Groenlândia, cujas dietas são baseadas principalmente em torno de frutos do mar, não têm os mesmos blocos de construção de DNA que comunidades em grande parte vegetarianas.
O alelo vegetariano tem uma inserção de 22 bases (blocos de construção de DNA) dentro do gene, inserção esta que foi eliminada do alelo dos frutos do mar, sugerindo que ao longo de gerações nossos corpos se adaptam aos tipos de alimentos que estamos comendo.
“Na história da evolução humana, quando os povos migram para diferentes ambientes, às vezes comem uma dieta baseada em vegetais e às vezes comem uma dieta à base de animais marinhos. Em diferentes períodos de tempo, alelos diferentes se tornam adaptativos”, disse um membro da equipe de pesquisa, Kaixiong Ye.
O estudo
O estudo foi baseado em uma amostra de 234 índios e 311 moradores dos Estados Unidos principalmente vegetarianos. O alelo vegetariano foi encontrado em 68% dos índios e apenas 18% dos norte-americanos.
A equipe também usou dados recolhidos a partir do Projeto 1000 Genoma (abrangendo vários milhares de indivíduos) e constatou que o mesmo alelo vegetariano estava presente em 70% dos sul-asiáticos, 53% dos africanos, 29% dos leste-asiáticos, e 17% dos europeus.
Em cada caso, a variação genética é mais comum em áreas com dietas de preferência tradicionalmente vegetarianas.
Isso significa que, se você se tornar vegetariano hoje, não vai ver o seu genoma mudar. No entanto, ao longo de gerações, se a sua região é uma que dá preferência à dieta vegetariana, o DNA das pessoas nascidas ali pode ser diferente.
Nutrição personalizada
“Uma implicação do nosso estudo é que podemos usar essa informação genômica para tentar adequar nossa dieta ao nosso DNA, o que é chamado de nutrição personalizada”, sugere Ye.
Mas pode haver efeitos colaterais indesejáveis: enquanto o alelo vegetariano ajuda as pessoas a metabolizar mais rapidamente ácidos graxos dentro do corpo, há também um aumento do risco da criação de ácidos inflamatórios ligadas a doenças cardíacas e câncer de cólon, especialmente em combinação com óleos vegetais.
“Mudanças na dieta podem contribuir para o aumento das doenças crônicas visto em alguns países em desenvolvimento”, disse Tom Brenna, outro pesquisador do estudo. “A mensagem para vegetarianos é simples: prefira óleos vegetais baixos em ácido linoleico ômega-6, tais como azeite”.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Molecular Biology and Evolution. [ScienceAlert]