Drogas e Cérebro: Descobertas Inovadoras Sobre Administração e Vício

Por , em 18.11.2023

A compreensão de que a nossa percepção sobre tratamentos médicos influencia de maneira significativa o efeito que eles têm sobre a nossa saúde é uma ideia amplamente aceita. Uma pesquisa recente apontou que a maneira como o cérebro reage a um medicamento varia se este for administrado por injeção ou via oral.

Este estudo, realizado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), tinha como objetivo principal investigar um fenômeno interessante: substâncias que alcançam o cérebro rapidamente tendem a ser mais viciantes.

Os pesquisadores observaram que a liberação de dopamina está relacionada com a dependência, mas o estudo revelou um aspecto ainda mais específico: uma área do cérebro chamada rede de relevância é ativada quando drogas são administradas por via intravenosa, mas não quando consumidas oralmente.

Nora Volkow, uma psiquiatra que faz parte do NIH, comentou: “Há muito tempo sabemos que a rapidez com que uma droga atinge o cérebro está relacionada ao seu potencial de vício, mas não compreendíamos completamente os motivos. Agora, com a ajuda de tecnologias de imagem avançadas, começamos a entender esse fenômeno.”

A pesquisa utilizou o estimulante prescrito metilfenidato, normalmente usado em tratamentos de TDAH. Os 20 participantes do estudo, que não possuíam diagnósticos relacionados, receberam a droga tanto por via intravenosa quanto oral. Eles também foram questionados sobre como se sentiram após a administração.

Para acompanhar as mudanças, os cientistas usaram exames de PET para monitorar os níveis de dopamina no cérebro e exames de fMRI para observar a atividade cerebral como um todo. Conforme esperado, os níveis de dopamina aumentaram mais rapidamente com as injeções.

As variações mais notáveis foram observadas nos exames de fMRI, especificamente em duas áreas principais da rede de relevância: o córtex cingulado anterior dorsal e o córtex da ínsula. Estas áreas foram ativadas somente após as injeções, o método de administração de drogas considerado mais viciante.

A atividade na rede de relevância estava em consonância com os níveis mais elevados de euforia relatados pelos participantes. Esta parte do cérebro já foi associada à dependência de drogas, mas até agora faltavam evidências concretas.

Esses dados são fundamentais para entender como os tratamentos devem ser administrados e como lidar com a dependência. A rede de relevância é importante para interpretar sensações internas e para atribuir valor a elementos externos.

Um dos próximos passos pode ser realizar experimentos que bloqueiem a atividade na rede de relevância para verificar se os voluntários do estudo ainda sentem a mesma sensação de euforia.

“Compreender os mecanismos cerebrais que estão por trás do vício é crucial para informar intervenções preventivas, desenvolver novas terapias para transtornos de uso de substâncias e enfrentar a crise de overdose”, afirma Volkow.

Além de elucidar como diferentes métodos de administração de drogas impactam o cérebro, este estudo abre portas para uma compreensão mais profunda sobre o tratamento de dependências. Ao destacar o papel da rede de relevância na experiência de euforia e potencial vício, os pesquisadores oferecem uma nova perspectiva sobre como intervenções direcionadas a essa área cerebral específica podem ser eficazes no combate à dependência. Isso não apenas avança o conhecimento científico na área da neurologia e psiquiatria, mas também sinaliza um futuro promissor na criação de estratégias mais efetivas e personalizadas para o tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias. [Science Alert]

Deixe seu comentário!