Esculturas no templo mais antigo do mundo mostram evidências de um impacto de cometas há 13.000 anos

Por , em 3.05.2019

Pesquisadores da Universidade de Edimburgo (Escócia) conseguiram traduzir símbolos famosos no mais antigo templo do mundo e descobriram que eles contam a história de um impacto devastador de cometa, ocorrido há mais de 13 mil anos.

Ao cruzar o evento retratado com simulações computadorizadas do sistema solar, os cientistas creem que o impacto tenha acontecido por volta de 10.950 aC, mais ou menos na mesma época de uma Pequena Idade do Gelo conhecida como “Dryas recente”.

A hipótese

Esta breve era glacial, que durou cerca de 1.000 anos, é considerada um período crucial para a humanidade, porque foi quando a agricultura e as primeiras civilizações neolíticas surgiram, potencialmente em resposta aos novos climas mais frios. O período também foi relacionado à extinção do mamute-lanoso.

Embora tenha sido minuciosamente estudado, não está claro exatamente o que desencadeou o Dryas recente. Um impacto de cometa era uma das principais hipóteses, mas até agora os cientistas não tinham encontrado evidências físicas de tal evento nessa época.

A equipe escocesa disse que as esculturas encontradas no templo mais antigo do mundo, o Gobekli Tepe, no sul da Turquia, são as primeiras provas de que um cometa provocou o Dryas recente.

“Acho que esta pesquisa, junto com a descoberta recente de uma anomalia generalizada de platina em todo o continente norte-americano, praticamente fecha o caso em favor do impacto de cometa no Dryas”, disse um dos pesquisadores do estudo, Martin Sweatman, ao jornal The Telegraph.

Gobekli Tepe

A tradução dos símbolos sugere que Gobekli Tepe não era apenas um templo, mas também um antigo observatório.

“Parece que Gobekli Tepe era, entre outras coisas, um observatório para monitorar o céu noturno”, Sweatman explicou à Press Association.

Ao que tudo indica, um de seus pilares servia como um memorial para o impacto de cometa, um evento provavelmente devastador que deve ter sido o pior dia da história da humanidade desde o fim da Idade do Gelo.

Acredita-se que o Gobekli Tepe tenha sido construído por volta de 9.000 aC, cerca de 6.000 anos antes de Stonehenge, mas os símbolos no pilar datam o evento cerca de 2.000 anos antes disso.

A Pedra do Abutre

As esculturas relacionadas ao impacto foram encontradas em um pilar do templo conhecido como “Pedra do Abutre” (foto abaixo). Elas mostram diferentes animais em posições específicas ao redor da pedra.

Os símbolos há muito intrigavam os cientistas, mas Sweatman e sua equipe descobriram que eles correspondiam a constelações astronômicas e mostravam um enxame de fragmentos de cometas atingindo a Terra.

Acredita-se também que uma imagem de um homem sem cabeça na pedra simbolize o desastre humano e a extensa perda de vidas após o choque.

Há sinais de que o povo de Gobekli Tepe cuidou das esculturas e as preservou por milênios, o que indica que o evento que descrevem pode ter tido impactos duradouros na civilização.

Representação x realidade

Para tentar descobrir se esse impacto de cometa realmente aconteceu, os pesquisadores usaram modelos de computador para ver se correspondiam aos padrões das estrelas detalhadas na pedra.

A equipe encontrou evidências de que o evento em questão teria ocorrido cerca de 10.950 aC, com margem de erro de 250 anos. O céu teria se parecido assim naquela época:

A datação das esculturas também coincide com um núcleo de gelo retirado da Groenlândia, que aponta o período do Dryas recente como começando em torno de 10.890 aC.

Astronomia

De acordo com Sweatman, esta não é a primeira vez que a arqueologia nos ajuda a compreender melhor o passado da civilização.

“Muitas pinturas rupestres paleolíticas e artefatos com símbolos animais semelhantes e outros emblemas repetidos sugerem que a astronomia pode ser realmente muito antiga”, afirmou ao The Telegraph.

Se este cometa gigante chegou ao sistema solar interior há cerca de 20 a 30 mil anos, como teorizam os astrônomos, teria sido uma característica muito visível e dominante do céu noturno. “É difícil imaginar como pessoas antigas poderiam ter ignorado isso, dadas as prováveis ​​consequências”, sugeriu Sweatman.

Um artigo com as descobertas foi publicado na revista científica Mediterranean Archaeology and Archaeometry. [ScienceAlert]

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