“Quando o coronavírus acabar”: aprenda a parar de esperar por isso
Tenho certeza de que você já disse isso pelo menos uma vez durante essa pandemia: “quando o coronavírus acabar, eu vou…”.
A quarentena de fato colocou uma pausa em vários tipos de planos. Aliado ao fato de que o ser humano já tem uma certa tendência de programar o futuro, esses fatores fazem com que muitas pessoas estejam apenas existindo, ao invés de vivendo esse momento difícil, sempre esperando as condições melhorarem.
Os terapeutas todos concordam que essa não é melhor estratégia. Não devemos esperar por um futuro que nem sabemos qual será. Mas como parar de fazer isso?
O portal Psych Central reuniu algumas dicas de especialistas para te ajudar a lidar com a situação atual e focar no momento presente.
Seja criativo e não deixe de celebrar eventos importantes
Uma das coisas mais chatas sobre o momento atual é ter que adiar diversos eventos e comemorações importantes, como formaturas, casamentos, chás de bebê, aniversários, viagens, feriados religiosos etc.
A psicoterapeuta Liz Goll Lerner sugere que você não simplesmente adie esses eventos; ao invés disso, a ideia é ser criativo e comemorá-los na data em que deveriam acontecer, uma vez que você sempre poderá refazê-los mais tarde, em um momento mais oportuno, do jeito que gostaria.
“O que quer que seja, não espere. Faça agora. Você sempre pode fazer de novo depois”, opina.
Isso porque nosso “relógio fisiológico mental-corporal” presta atenção a grandes eventos da vida, de forma que nossos cérebros antecipam essas comemorações. Quando elas não ocorrem, nós lamentamos. Nos preocupamos e ficamos decepcionados por serem diferentes.
“Então faça algo no presente para marcar o evento e redefinir esse relógio biológico para a data futura”, argumenta a Dra. Lerner.
Por exemplo, faça festas e reuniões virtuais usando o Zoom ou o Google Hangouts, faça uma carreata para demonstrar seu amor por alguém, envie cartas, faça lives no Instagram, aproveite sua viagem que não ocorreu visitando museus virtuais, vendo fotos, cozinhando refeições típicas e ouvindo música tradicional do lugar, enfim, use toda a sua criatividade para viver o evento que foi cancelado/adiado, e, quando você puder fazer diferente no futuro, será uma experiência nova talvez ainda mais cheia de significado.
Escolha ser otimista sobre o futuro
A verdade é uma só: se preocupar não é produtivo a menos que você faça algo sobre essa preocupação. Se isso ajuda as pessoas a praticarem sentimentos como gratidão ou desenvolverem aceitação, pensar sobre o “pior cenário possível” pode não ser de todo ruim.
Mas ficar ruminando o passado ou tendo pensamentos ansiosos sobre o futuro não é saudável para o nosso sistema nervoso, o que deixa nosso corpo em um estado de estresse muito grande.
É o que explica a psicoterapeuta Ann Turner, que ensina seus pacientes a não se “pré-preocuparem”, ou seja, a não se preocuparem antes da hora.
“O medo não tem nenhum poder preditivo. A incerteza é aterrorizante, mas isso não significa que o futuro será o pior cenário”, concorda a psicóloga Carla Messenger.
Pense no seguinte: o pior cenário possível é tão provável quanto o melhor cenário possível.
Segundo a Dra. Messenger, uma boa saída é lembrar que “o futuro tem mais de um roteiro possível e nós o criamos à medida que avançamos”, como um GPS que redireciona o caminho sem mudar o destino.
“Se colocarmos nossa atenção nas restrições, isso pode se tornar muito deprimente. No entanto, há gratidão, otimismo e alegria em todos os caminhos, se você optar por procurá-los”, concluiu a psicoterapeuta Jade Wood.
Adquira perspectiva
Você sente que não está passando pela quarentena “da forma certa”? talvez não esteja sendo produtivo o suficiente, ou algo do tipo?
Fique sabendo que tem uma coisa que todos os terapeutas concordam: sobreviver é o suficiente. Qualquer outra coisa é extra.
A Dra. Messenger sugere que você considere o seu passado. Quanto da sua “lista de afazeres” de cinco anos atrás você se lembra?
Isso deve te dar alguma perspectiva sobre o que é importante, o que nos lembramos e o que não nos lembramos.
É interessante olhar para trás e pensar no quanto aprendemos, no quanto crescemos e superamos situações difíceis, não é mesmo? E ter sobrevivido à uma pandemia mundial bastará. É possível que muitas pessoas não se lembrem de quantas aulas online fizeram, das plantas que regaram, de quantas vezes por dia meditaram etc.
“Todo mundo está aprendendo agora, consciente ou inconscientemente”, explica a especialista.
Você pode aproveitar a quarentena para fazer uma “retrospectiva prematura”. Algumas perguntas que você fazer a si mesmo são: você está feliz com a maneira como vive? Você está tratando seu corpo com respeito? Você passa tempo suficiente com seus entes queridos? Existem aspectos da sua vida que você tem negligenciado?
Assim, você pode usar esse tempo para imaginar como gostaria de olhar para trás, o que seria legal tirar desse período de isolamento etc.
E, caso esteja disposto, você pode usar esse período em casa para priorizar projetos que sempre teve interesse, como aprender a fazer pão ou se reconectar com velhos amigos.
Permita-se sentir o momento
Acima de tudo, os especialistas enfatizam que é preciso “viver o presente”.
“Não há nada que você possa fazer daqui a 30 ou 60 dias. Mas você pode controlar como será o seu dia hoje”, disse a Dra. Turner.
Por exemplo, você pode decidir a que horas se levantará, o que você comerá, para quem você ligará. Você pode optar por apreciar as flores que desabrocham fora da sua janela e não ler todas as últimas notícias.
Vale observar que fugir dos sentimentos ruins nem sempre é bom. A Dra. Wood defende que você tome seu tempo para lamentar a perda do futuro que você esperava. Lide com esse “luto”, ao invés de adiá-lo.
Além disso, para algumas pessoas, a pandemia pode estar trazendo à tona novamente questões de abandono, sentimento de impotência, comportamentos viciantes e muitos outros temas difíceis.
Se você conseguir ignorar esses sentimentos, pode ser bom. Mas se quiser mergulhar neles, a Dra. Wood sugere que você seja gentil consigo mesmo, e considere manter um diário, conversar com um amigo ou terapeuta e observar atentamente suas emoções através da meditação. [PsychCentral]