Esta bolsa é a solução para quem não consegue focar no “aqui e no agora”
Uma simpática bolsinha tem sido apresentada como solução para combater – pelo menos temporariamente – o vício em telas. O sistema patenteado chama-se Yondr, e cria ambientes livres de smartphones para educadores, organizações e artistas conseguirem trabalhar em paz, recebendo a atenção direta da audiência e estudantes.
Nos últimos anos começaram a pipocar cláusulas atípicas em contratos entre artistas e casas de show, especialmente nos Estados Unidos. A cláusula é simples: o artista só aceita trabalhar no local se houver o serviço de “empacotamento de smartphones” da audiência durante a apresentação.
No primeiro momento esta ideia pode parecer radical e fadada a provocar a ira dos clientes, mas o resultado observado pelos organizadores de eventos e por educadores tem sido surpreendentemente positivo. Os usuários até parecem sentir um certo alívio ao estarem fisicamente impedidos de olharem a tela do celular a cada três minutos.
“Eu imediatamente notei uma diferença na multidão. E estamos falando de multidões que historicamente são mais barulhentas e mais embriagadas”, descreve a dona de clubes de comédia em Denver (EUA), Wende Curtis, ao jornal Denver Post.
Até o comediante Chris Rock já usou as bolsinhas com sua audiência de 5 mil pessoas no Teatro Bellco em 2017.
Efeito calmante
Outros artistas também têm observado os efeitos calmantes do Youndr, um serviço oferecido por uma empresa de São Francisco (EUA). O produto foi divulgado pela primeira vez em 2014, e tem sido adotado por cada vez mais escolas públicas e privadas nos Estados Unidos.
A diretora de escola preparatória para exames de seleção para universidades nos EUA, Garrett Rosa, adotou as bolsinhas para seus alunos usarem em “zonas livres de smartphones”. “As pessoas não estão experimentando mais as coisas, seja o aprendizado profundo ou comédia ao vivo, porque estão muito focadas em tirar selfies e em não estar no momento”, avalia ela.
Essas bolsas são feitas de neopreno, o mesmo material das roupas de surfistas. Elas contêm travas magnéticas parecidas com aquelas etiquetas anti-furto de lojas. Ao entrar nas salas de show ou salas de aula, o usuário precisa guardar o smartphone na bolsinha e travar a abertura, isso sob supervisão de um funcionário. Cada um fica com o seu próprio aparelho. Para destravar, é necessário sair do ambiente, onde há ferramentas de destravamento à disposição.
Durante o uso da bolsa, o aparelho pode ficar no modo vibrar, para que o dono saiba que há alguém tentando entrar em contato.
Dos clubes de comédia para as escolas
Uma das educadoras que conheceu a bolsa em um show de comédia adorou a ideia e a levou pra sua escola. “Eu pensei ‘meu Deus, preciso disso para a minha sala de aula’, mas eu obviamente não podia mandar uma mensagem sobre isso para ninguém até o final do show”, relembra a professora de química de ensino médio Kay Davidson.
Mais de mil escolas nos EUA já estão usando ao redor de 500 mil bolsas. Cada uma delas custa US$12 por um ano de aluguel. No início do ano, os pais e estudantes precisam assinar um termo de responsabilidade relacionado ao uso do equipamento a ao banimento de eletrônicos na escola, mesmo durante a troca de aulas.
No início, todos os alunos têm a mesma reação: dizem que seus diretos estão sendo cerceados e tentam encontrar formas de burlar o sistema, usando um celular extra, por exemplo. Mas essa técnica nunca dá certo, e os alunos percebem que é melhor aplicar o esforço nos estudos do que tentando fugir da bolsinha.
Os pais também ficam ansiosos, por medo de não conseguir entrar em contato com os filhos. Mas as escolas afirmam que os resultados positivos tranquilizam todo mundo rapidamente, e que os telefones fixos da secretaria da escola ainda estão à disposição de pais e alunos para comunicações emergenciais.
Estudos confirmam que estudantes têm melhor desempenho quando estão longe dos smartphones. Um estudo de alunos do ensino médio na Inglaterra concluiu que a proibição de celulares resultou em melhora de nota anual dos estudantes. Outro relatório sobre estudantes universitários associou uso frequente de smartphones com ansiedade e notas mais baixas.
Tribunais e festas de casamento
A bolsa também pode ser usada em locais que exigem segurança reforçada, como em tribunais e embaixadas, sem que os aparelhos sejam trancados em armários.
Outro uso em ambientes mais descontraídos é em festas de casamento e férias em família. “Nosso dia inteiro foi desconectado, o que foi maravilhoso. Todos os nossos convidados conseguiram curtir. Vivemos o momento, ninguém estava preocupado com o celular deles ou com os posts de redes sociais”, diz Randall e Aiyda Cobb, casal que utilizou o serviço no casamento.
Os dois fotógrafos oficiais contratados para registrar o evento aprovaram a decisão do casal, que resultou em convidados mais engajados nas interações interpessoais e fotografias mais bonitas.
[Over Yondr, The Knot News, Edsurge, Kent State, Centre for Economic Performance]