Estudo gigante que condenava a cloroquina é removido de revista científica

Por , em 15.07.2020
O presidente Bolsonaro segurando um comprimido de cloroquina
Bolsonaro afirmou tomar cloroquina contra Covid-19, mesmo sem comprovações de sua eficácia.

O The Lancet, uma das principais revistas científicas médicas do mundo, removeu um estudo influente e alarmante que reportamos aqui sobre os riscos da cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19, a pedido dos próprios autores.

Quase ao mesmo tempo o New England Journal of Medicine também removeu outro artigo diferente, também a pedido dos autores do mesmo. Esta pesquisa tinha foco em remédios de pressão arterial no combate ao Covid-19, que usava dados da mesma empresa.

Os autores dos artigos removidos sobre a cloroquina não estavam ligados a coleta dos dados mas apenas a sua análise e afirmaram que não podem “mais garantir a veracidade das fontes primárias”, afirmaram os pesquisadores ao The Lancet.

Contrvérsia

Não há dúvida que isso resultará argumentos controversos sobre a capacidade e hidroxicloroquina, medicamentos contra a malária, ser usada contra o Covid-19. O próprio presidente Jair Bolsonaro e seu eleitorado são defensores fervorosos do medicamento, afirmando que o mesmo traz benefícios.

No entanto, hoje mesmo, foram relatados os resultados de um ensaio clínico com os protocolos mais rigorosos (randomizado e controlado) mostrando que a hidroxicoloroquina não foi melhor do que o placebo ao prevenir infecções. Isto é, não mostrou efeito contra a doença.

Porque os próprios autores pediram a remoção dos artigos

O estudo retraído do The Lancet havia recebido muita atenção por causa do tremendo tamanho da amostra (mais de cem mil pacientes) e pelo fato de ter informado que a utilização da cloroquina estava associado a riscos adjacentes para os doentes como aumento do risco de morte. Ele teria se baseado em dados de 671 hospitais em seis continentes.

Vários estudos que estavam em andamento pelo mundo foram interrompidos por conta dessas informações por causa da preocupação com os voluntários. Mas, em seguida, alarmes foram soados por especialistas sobre dados inconsistentes, solicitando para a empresa Surgisphere, que os analisou, para informarem como havia obtido os dados.

A Surgisphere não colaborou

Enquanto a pressão aumentava os cientistas que redigiram o artigo do The Lancet solicitaram uma auditoria imparcial. Na declaração eles informaram que a Surgisphere não estava colaborando com os auditores e não forneceu os dados.

Como não foi possível confirmar a veracidade dos dados os pesquisadores solicitaram a remoção do artigo da revista.

Outros especialistas independentes também tiveram preocupações similares com relação aos dados do artigo publicado no New England Journal, também fornecidos pela Surgisphere. O estudo havia concluído que alguns medicamentos para pressão arterial poderiam ser administrados com seguranças a pacientes de Covid-19.

Da mesma maneira os autores do segundo estudo pediram para a revista científica remover o artigo pela impossibilidade de confirmar a veracidade dos dados e pediram desculpas “pelas dificuldades” causadas.

Afinal, a cloroquina deve ser usada contra o Covid-19?

No entanto já haviam preocupações sobre o uso da cloroquina e hidroxicloroquina antes do estudo do The Lancet. O FDA dos EUA (equivalente a Anvisa no Brasil) informou que os remédios só deveriam ser administrados em ensaios clínicos por causa de seus conhecidos riscos cardíacos.

Unindo estas preocupações com a publicação do último ensaio clínico padrão-ouro que mostrou que a cloroquina e hidroxicloroquina não são melhores do que placebo, não havendo confirmações de que funciona.

As drogas, no entanto, são consideradas seguras para quem está tratando malária, lúpus e artrite reumatóide, asseguram os especialistas. [Stat News]

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