Segundo a perspectiva do astrofísico russo Nikolai Kardashev, para que uma civilização se transforme em uma superpotência universal, ela precisa cumprir três etapas: aproveitar ao máximo todos os recursos do seu planeta; aproveitar toda a energia da sua estrela mais próxima; aproveitar toda a energia de todas as estrelas da sua galáxia local. Depois disso, é só passar para outra galáxia.
Kardashev propôs essas três fases (chamadas Nível I, II e III) de expansão galáctica pela primeira vez em 1962. Os níveis determinariam os três “tipos” de civilizações tecnologicamente avançadas existentes, através da medição do consumo de energia de sociedades cada vez mais poderosas. A título de comparação, os seres humanos ainda estariam no Nível I – Carl Sagan nos colocou em cerca de 0,7 em 1973.
Recentemente, um novo artigo reviveu o modelo de Kardashev, acrescentando uma reviravolta apocalíptica: de acordo com Dan Hooper, cientista do Fermilab (Fermi National Accelerator Laboratory) e professor de astronomia e astrofísica na Universidade de Chicago, nos EUA, colher a energia de estrelas distantes não é apenas a melhor maneira de aumentar recursos disponíveis, mas também a única maneira de impedir que o universo em expansão deixe a civilização totalmente sem recursos na vastidão do espaço.
Energia escura
Hooper explica que a presença de energia escura em nosso universo está fazendo com que o espaço se expanda em um ritmo acelerado. Isso significa que, nos próximos 100 bilhões de anos, as estrelas além do nosso grupo local – um grupo de galáxias gravitacionalmente ligadas que inclui a Via Láctea – vão parar além do horizonte cósmico, e um observador terrestre jamais poderá recuperar informações sobre elas.
Nesse ponto, a maioria das estrelas se tornará não apenas inobservável, mas totalmente inacessível, limitando a quantidade de energia que um dia poderia ser extraída delas.
Qualquer civilização alien avançada, se existe, sabe disso. E, portanto, vai fazer de tudo o que puder para colher energia dessas estrelas antes que elas se tornem inacessíveis.
Para nós, isso pode ser uma forma de encontrar tais civilizações.
Colhendo uma estrela
Como você colhe energia de uma estrela em primeiro lugar? Cientistas e autores de ficção científica têm ponderado essa questão há décadas. A resposta favorita, por enquanto, é usando uma rede de satélites – um enxame de milhões deles movidos a energia solar, conhecidos como “esferas de Dyson”.
Uma nuvem colossal de satélites poderia pairar permanentemente em torno de uma estrela, irradiando energia para um planeta próximo.
Isso pode parecer uma tarefa difícil para humanos, que não sabem aproveitar nem os recursos do próprio planeta sem destruí-lo, mas os pesquisadores creem que pode haver civilizações alienígenas milhares ou milhões de anos mais velhas que a nossa, vivendo na terceira fase de exploração galáctica.
E, se outra civilização realmente começar a reorganizar estrelas, pode ser algo notável daqui da Terra. Estrelas sendo colhidas por alguma civilização podem ser visíveis como resultado da propulsão que estão sofrendo. Essa aceleração exigiria necessariamente grandes quantidades de energia e provavelmente produziria fluxos significativos de radiação eletromagnética.
Procurando por esse sinal
Hooper sugere que os astrônomos poderiam ficar de olho em galáxias incomuns que tiveram suas principais estrelas arrancadas. Esses hipotéticos extraterrestres provavelmente seriam exigentes: pequenas estrelas, centenas de vezes menores que o sol, não produziriam radiação suficiente para serem úteis, enquanto estrelas significativamente maiores provavelmente estariam muito próximas de se tornar supernovas para serem usadas como bateria.
Apenas estrelas com uma massa de 20 a 100 vezes a do nosso sol seriam candidatas viáveis. E como os objetos solares nessa faixa de massa irradiam mais certos comprimentos de onda do que outros, a extração de estrelas alienígenas apareceria nas assinaturas de luz dessas galáxias.
“O espectro da luz das estrelas de uma galáxia que teve suas estrelas úteis colhidas por uma civilização avançada seria dominado por estrelas massivas e, assim, atingiria comprimentos de onda mais longos do que seria o caso”, avaliou Hooper.
Nós provavelmente ainda não temos instrumentos precisos o suficiente para detectar essas assinaturas nas profundezas do universo, mas esperançosamente teremos um dia.
Vale observar que o artigo de Hooper ainda aguarda publicação, e pode ser lido gratuitamente aqui. [LiveScience]