Experts estão embasbacados com essa nova arma nuclear russa que pode atingir qualquer lugar do mundo
O presidente russo Vladimir Putin fez um anúncio bastante chocante na última quinta-feira (1): em um discurso anual sobre o estado da nação para a Assembleia Federal Russa, revelou um novo míssil de cruzeiro alimentado por reações nucleares e capacitado com armas nucleares supostamente capaz de voar indefinidamente e atacar qualquer ponto da superfície terrestre.
A arma parece tão fantástica que alguns especialistas mal acreditaram nos seus relatórios iniciais.
De acordo com as declarações de Putin, o míssil foi testado no final de 2017, provando a capacidade de seu motor de energia nuclear.
Durante seu discurso, um vídeo foi exibido de um míssil de cruzeiro sendo lançado ao céu, seguido de uma animação destinada a indicar como a arma poderia esquivar obstáculos de terreno e voar por milhares de quilômetros, desviando da América do Sul em direção à Costa Oeste dos Estados Unidos.
“Eu ainda estou meio chocado”, disse Edward Geist, pesquisador da Rand Corporation especializado na Rússia. “O que eu acho é que eles não estão blefando, que eles testaram essa coisa. Mas isso é incrível”.
Propulsão por reação nuclear
Propulsão nuclear já é usada em grandes navios, como porta-aviões e submarinos. Ela permite que os veículos funcionem durante anos sem reabastecimento, ampliando drasticamente seu alcance e resistência.
Nos primeiros dias da Guerra Fria, tanto os EUA quanto a União Soviética pesquisaram como construir aeronaves abastecidas por energia nuclear. Ambas as nações tentaram instalar um reator nuclear em um bombardeiro, mas tais reatores eram pesados e expunham as equipes à risco de radiação. Logo, ambas desistiram da ideia.
Os EUA chegaram a investigar a ideia de um míssil de energia nuclear, destinado a voar de forma autônoma e soltar bombas nucleares. O reator nuclear que o mantinha em alta velocidade também emitia escape radioativo, mas isso já não era um problema – era um benefício adicional por poluir o campo soviético.
Os EUA chegaram a construir um motor nuclear para o Projeto Plutão, testado várias vezes no início da década de 1960. Nesse ponto, porém, os perigos de uma guerra nuclear já estavam muito claros e os tratados de controle de armas estavam entrando em vigor, de maneira que o projeto morreu em 1964.
E o novo míssil russo?
O tipo de reator usado no Projeto Plutão funcionava bem, mas expunha o combustível nuclear diretamente ao ar exterior.
Geist acredita que o novo míssil russo use um sistema diferente que mantenha o combustível um pouco isolado. Mas isso não o torna seguro.
Ele suspeita que o design russo envolva o que é conhecido como “reator rápido”, que é mais eficiente, mas também menos protegido do que a maioria dos reatores nucleares. Se o míssil quebrar ou o reator falhar, certamente provocaria um grande acidente.
Por que a Rússia está investindo nisso?
O novo míssil de cruzeiro é apenas um dos vários sistemas bélicos que Putin mencionou em seu discurso na quinta-feira. O presidente russo também discutiu armas “hipersônicas” que poderiam se esquivar de mísseis defensivos e um torpedo subaquático de energia nuclear.
O valor estratégico de todas essas novas armas nucleares é bastante questionável. “A Rússia, mesmo sem essas armas, tem a capacidade de reduzir os EUA a uma pilha de fuligem radioativa”, explicou James Acton, especialista em energia nuclear da Carnegie Endowment for International Peace.
Acton acredita que o novo míssil é projetado para enviar uma mensagem de que a Rússia é um país forte e tecnologicamente capaz. Além disso, Putin pode estar preocupado com o desenvolvimento dos mísseis de defesa americanos.
Enquanto as autoridades americanas dizem que seu sistema é projetado principalmente para proteger o país de um ataque limitado da Coréia do Norte, os russos acreditam que poderia ser usado contra eles também. “Eles pensam que nossos mísseis de defesa são muito mais eficazes do que nós pensamos que eles são”, sugeriu Acton.
Enquanto isso em Washington DC…
O presidente americano Donald Trump já havia solicitado um orçamento de US$ 12,9 bilhões para programas de defesa antimíssil no próximo ano. Esse dinheiro deve ir para novos radares e interceptores adicionais.
Os especialistas esperam que as provocações russas continuem. “Eles estão nos enviando uma mensagem de que não estão de acordo com nossa postura de defesa”, disse Geist. [NPR]