Esta estrela continua explodindo e sobrevivendo. Mas como?

Por , em 9.11.2017

Estrelas, assim como seres humanos, podem ser capazes de “morrer”, mas serem “ressuscitadas”, como se tivessem recebido respiração boca-a-boca.

Uma nova descoberta feita por cientistas do Observatório de Las Cumbres, na Califórnia (EUA), pode mudar totalmente a forma como compreendemos as mortes estelares.

Normalmente, quando uma estrela se torna supernova, é isso: ela explode e está morta, ponto final.

E, no entanto, astrônomos observaram uma estrela que se tornou supernova e conseguiu sobreviver a esse evento só para, 60 anos depois, explodir de novo.

Tem alguma coisa errada aí

A supernova, chamada de iPTF14hls, foi descoberta em 2014 e classificada como do tipo II-P.

Tais supernovas são o resultado do colapso do núcleo de uma estrela maciça com uma estrela de nêutrons. A matéria ejetada, uma nuvem externa rica em hidrogênio, é ionizada por uma onda de choque criada pela explosão. Mais tarde, esfria e se recombina.

O problema foi que, vários meses depois da descoberta, a supernova fez algo que nunca havia sido observado antes: se iluminou de novo.

Morreu ou não?

Em mais de 600 dias de observação, a supernova diminuiu seu brilho e se iluminou de novo várias vezes – pelo menos cinco vezes em menos de três anos.
Geralmente, as supernovas alcançam um brilho máximo, se mantém assim por alguns meses, e depois diminuem de brilho constantemente.

Quando os cientistas reexaminaram os dados dos arquivos, encontraram algo ainda mais incrível: uma explosão exatamente na mesma localização em 1954.

“Esta supernova quebra tudo o que pensávamos que sabíamos sobre como elas funcionam”, disse o principal autor do estudo, Iair Arcavi, da Universidade da Califórnia e do Observatório de Las Cumbres.

Hipóteses

Os cientistas então calcularam que a estrela original era grande – pelo menos 50 vezes mais maciça do que o sol, e provavelmente muito maior do que ele.
A supernova iPTF14hls, inclusive, pode ser a explosão estelar mais massiva já vista.

Os pesquisadores acreditam que uma possível explicação para a estranheza de iPTF14hls é que é uma “supernova pulsacional de instabilidade de par”, o que tornaria este o primeiro evento do tipo observado.

E o que seria esse evento? Algo que parece ser uma supernova, mas não destrói sua estrela hospedeira, e geralmente ocorre em estrelas em torno de 95 a 130 massas solares.

Durante essas explosões, a estrela libera sua camada externa, derramando entre 10 e 25 massas solares, diminuindo seu peso para menos de 100 massas solares. Esses eventos podem se repetir até que a estrela caia em um buraco negro.

A explosão de 1843 de Eta Carinae A é uma provável supernova pulsacional de instabilidade de par, mas isso nunca foi confirmado.

Problemas

“Essas explosões só deveriam ser vistas no universo primitivo e deveriam estar extintas hoje”, explicou o pesquisador Andy Howell, da Universidade da Califórnia. “É como encontrar um dinossauro ainda vivo. Você questionaria se é mesmo um dinossauro”.

E há ainda outro problema com essa hipótese. O modelo pulsacional de instabilidade de par não pode ser responsável pela presença contínua de hidrogênio.

Após a explosão de 1954, a supernova iPTF14hls manteve algumas dezenas de massas solares de hidrogênio em sua nuvem externa. Além disso, a explosão mais recente da estrela usou mais energia do que pode ser comprovada pela instabilidade do par.

Isso significa uma de duas coisas: ou iPTF14hls é realmente uma supernova pulsacional de instabilidade de par, só que muito bizarra, ou é algo completamente novo.

A equipe vai continuar a monitorar a supernova, na esperança de resolver este enigma no futuro.

A pesquisa foi publicada na prestigiada revista científica Nature. [ScienceAlert]

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