Agora sabemos como o interior de Júpiter se parece

Por , em 25.09.2018

Um dos principais objetivos da sonda Juno, da NASA, é estudar o interior de Júpiter. Graças a sua missão dedicada, finalmente sabemos o que se passa debaixo das nuvens desse fascinante planeta.

Em uma série de quatro artigos publicados na prestigiada revista científica Nature, pesquisadores revelaram as últimas descobertas da nave.

“É a primeira visão de como funciona um planeta gigante gasoso por dentro”, Jonathan Fortney, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz (EUA), disse ao portal IFLScience.

O que há embaixo das nuvens?

Uma das principais descobertas é que agora sabemos até onde a atmosfera de Júpiter se estende: 3.000 quilômetros abaixo do topo das nuvens, o que é muito maior do que o esperado.

Quando se atinge essa profundidade, a composição do planeta muda drasticamente. O interior se comporta como um sólido, embora não seja. Em vez disso, é uma mistura fluida de hidrogênio e hélio que gira como um corpo sólido. Em seu núcleo, a pressão é cerca de 100.000 vezes maior do que a da Terra.

“Toda esta informação tem consequências complexas na nossa compreensão sobre o interior do planeta, o que, por sua vez, nos permite chegar mais perto de entender a sua formação”, explicou Yamila Miguel, da Universidade de Leiden, na Holanda, ao IFLScience.

Júpiter é famoso por essas faixas de nuvens que cobrem o planeta, descobertas pela primeira vez por Galileu há 400 anos. Mas os cientistas não tinham certeza de quão longe elas se estendiam. Com base nas últimas informações, parece que param a 3.000 quilômetros de profundidade.

“Galileu viu essas listras na atmosfera de Júpiter muitos séculos atrás, então é definitivamente algo que nós queríamos confirmar há muito tempo”, acrescentou Miguel.

Campo gravitacional

Outra descoberta importante é que o campo gravitacional de Júpiter não é simétrico de norte a sul. Isso é inesperado para um planeta tão fluido que gira rapidamente. O fenômeno pode ser causado pelos ventos e fluxos atmosféricos variados do planeta.

“À medida que os jatos de superfície propagam profundamente no planeta, eles produzem uma perturbação do campo de gravidade que nós determinamos com Juno”, disse Daniele Durante, da Universidade Sapienza em Roma, na Itália, ao IFLScience.

Os pesquisadores também descobriram que a atmosfera de Júpiter representa cerca de 1% da massa do planeta, equivalente a cerca de três Terras, o que é uma quantidade enorme. A atmosfera da Terra, em comparação, representa apenas um milionésimo da massa total do nosso planeta.

Estes resultados foram possíveis graças ao conjunto exclusivo de instrumentos da Juno e seus passeios próximos do planeta – apenas alguns milhares de quilômetros da sua superfície.

Ciclones

Por fim, Alberto Adriani, do Instituto de Astrofísica e Planetologia Espacial em Roma, na Itália, e seus colegas observaram a estrutura dos polos de Júpiter no infravermelho, pela primeira vez.

Eles descobriram que os ciclones nos polos criam padrões poligonais persistentes, com oito ciclones se formando ao redor de um único ciclone central no polo norte. No polo sul, cinco ciclones fazem o mesmo.

“Juno é a primeira missão projetada para dar aos instrumentos uma excelente visão dos polos”, disse Adriani ao IFLScience. “As estruturas ciclônicas que observamos lá não existem em outros planetas do nosso sistema solar”.

Próximos passos

Ainda há muito por vir. Por exemplo, Juno vai medir as marés da lua Io, enquanto o satélite exerce atração gravitacional sobre o planeta.

A profundidade e a estrutura da Grande Mancha Vermelha de Júpiter também serão medidas, possivelmente até a massa de seu núcleo central.

Nosso conhecimento dos gigantes de gás está avançando muito em 2018. As últimas informações levantadas de Saturno pela falecida sonda Cassini também devem produzir mais detalhes interessantes sobre este tipo de planeta.

Isso é importante por que muitos dos mundos que encontramos fora do nosso sistema solar são gigantes gasosos. Ao compreender nossa própria vizinhança, descobrimos muito mais sobre planetas por todo o universo também.

Acesse os artigos publicados na Nature: “Measurement of Jupiter’s asymmetric gravity field“, “Jupiter’s atmospheric jet streams extend thousands of kilometres deep“, “A suppression of differential rotation in Jupiter’s deep interior“, e “Clusters of cyclones encircling Jupiter’s poles“. [PhysicsAstronomy]

2 comentários

  • TR:

    Pergunta em especial para os editores: Será que, ao passarmos para uma civilização do tipo “2”, teríamos condições de prospectar o hidrogênio líquido e o hélio presentes, aparentemente em abundância, na atmosfera de Júpiter, através do uso de grandes naves cargueiras, algo como os navios-tanque, existentes hj para o transporte de gás? Em quanto tempo poderíamos imaginar que isto acontecesse?

    • Cesar Grossmann:

      Sociedade Tipo II na Escala de Kardashev? Uma sociedade capaz de aproveitar toda a energia potencial de uma estrela? Segundo a definição estendida (veja o link) a civilização tipo II poderia alterar qualquer coisa dentro do sistema solar, como mover planetas de órbitas ou aproveitar toda a energia potencial dos planetas. Acredito que se a humanidade sobreviver, isso pode vir a acontecer, mas não tenho ideia do tempo que levaria para isso acontecer. Pelo menos 500 anos?

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