Fragmentos estranhos de meteoritos que explodiram sobre Berlim agora identificados
No dia 21 de janeiro de 2024, um asteroide de aproximadamente um metro de diâmetro, conhecido como 2024 BX1, atravessou a atmosfera terrestre e explodiu sobre Berlim às 00:33 UTC (19:45 no horário de Brasília). Antes de sua entrada na Terra, o 2024 BX1 era classificado como um Asteroide Próximo à Terra (NEA), e sua órbita indicava que ele fazia parte do grupo de asteroides Apollo.
Após a explosão, uma equipe de cientistas de diversas instituições, incluindo a Freie Universität Berlin, o Museu de História Natural de Berlim (MfN), o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), a Universidade Técnica de Berlim e o Instituto SETI, conseguiu localizar fragmentos do asteroide. Esses fragmentos foram identificados como parte de um tipo raro de asteroide, chamado “aubrites”.
O nome “aubrites” origina-se do vilarejo de Aubrés, na França, onde um meteorito semelhante caiu em 14 de setembro de 1836.
A equipe responsável pela recuperação dos fragmentos deste meteorito foi liderada pelo Dr. Peter Jenniskens, astrônomo de meteoros do Instituto SETI, e pelo Dr. Lutz Hecht, pesquisador do MfN. Eles coordenaram uma equipe formada por funcionários e estudantes do MfN, da Freie Universität Berlin, do DLR e da Universidade Técnica de Berlim, que se lançaram na missão dias após a explosão do meteoro.
Os fragmentos do meteoro foram encontrados em campos ao sul da aldeia de Ribbeck, cerca de 50 quilômetros a oeste de Berlim.
A localização dos fragmentos representou um grande desafio devido à aparência única dos aubrites, que à distância se assemelham a rochas comuns, mas possuem características distintas quando observados de perto.
Enquanto outros tipos de meteoritos apresentam uma crosta fina e negra de vidro, formada pelo calor extremo ao atravessar a atmosfera, os aubrites têm uma crosta de vidro predominantemente translúcida. Christopher Hamann, pesquisador do Museu de História Natural de Berlim, teve um papel fundamental na classificação inicial e participou da busca. Em um comunicado de imprensa do Instituto SETI, ele relatou:
“Aubrites não se parecem com o que as pessoas geralmente imaginam ser meteoritos. Eles se assemelham mais a granito cinza e são compostos principalmente por silicatos de magnésio, enstatita e forsterita. Eles contêm quase nenhum ferro e a crosta vítrea, geralmente um bom indicador para reconhecer meteoritos, é completamente diferente da maioria dos outros meteoritos. Por isso, os aubrites são difíceis de serem detectados em campo.”
O asteroide 2024 BX1 foi descoberto inicialmente pelo astrônomo húngaro Dr. Krisztián Sárneczky, usando um dos telescópios do Observatório Konkoly, em Budapeste.
A tarefa de rastreá-lo e prever onde ele impactaria na atmosfera da Terra foi realizada pela missão Scout da NASA e pelos sistemas de avaliação de risco de impacto de asteroides Meerkat da ESA, com atualizações frequentes da trajetória fornecidas por Davide Farnocchia do JPL/Caltech.
Como o meteorito de Chelyabinsk que explodiu sobre o sul da Rússia em 2013, a explosão foi testemunhada por muitos e filmada, embora não tenha causado danos.
Este foi o quarto sucesso de Dr. Jenniskens na recuperação guiada de um pequeno asteroide que caiu na Terra, após eventos anteriores na França (2023), em Botsuana (2018) e no Sudão (2008). Como ele explicou, este último asteroide foi particularmente desafiador de ser localizado:
“Mesmo com excelentes direções dos astrônomos de meteoros Drs. Pavel Spurný, Jirí Borovicka e Lukáš Shrbený, do Instituto Astronômico da Academia de Ciências da República Tcheca, que calcularam como os ventos fortes sopram os meteoritos e previram que estes poderiam ser meteoritos ricos em enstatita com base na luz emitida pelo bola de fogo, nossa equipe de busca inicialmente não conseguiu localizá-los facilmente no solo.
Só avistamos os meteoritos depois que uma equipe polonesa de caçadores de meteoritos identificou o primeiro fragmento e pôde nos mostrar o que procurar. Após isso, nossas primeiras descobertas foram feitas rapidamente por estudantes da Freie Universität, Dominik Dieter e Cara Weihe.”
Na semana passada, os colegas de Jenniskens no MfN anunciaram oficialmente que realizaram as primeiras análises de um dos fragmentos do meteoro.
O processo foi liderado pelo Dr. Ansgar Greshake, chefe científico da coleção de meteoritos do MfN, que consistiu em um microscópio eletrônico de varredura para estudar a mineralogia e a composição química dos fragmentos.
Os resultados revelaram que os fragmentos são consistentes com um meteoro acondrito do tipo aubrite, que foram submetidos à Comissão Internacional de Nomenclatura da Sociedade Meteorítica em 2 de fevereiro de 2024, para verificação.
“Com base nessa evidência, conseguimos fazer uma classificação aproximada relativamente rápido”, disse Greshake. “Isso sublinha a imensa importância das coleções para pesquisa. Até agora, existem materiais de apenas onze outros casos observados desse tipo em coleções de meteoritos em todo o mundo.” [Science Alert]