Homens também choram, mas menos que mulheres: entenda o porquê

Por , em 6.01.2016

Em um apelo feito nesta terça-feira para medidas de controle de armas mais rígidas, o presidente dos EUA, Barack Obama, derramou algumas lágrimas quando mencionou o massacre de crianças inocentes na escola Sandy Hook, em dezembro de 2012.

“Crianças da primeira série em Newtown. Primeira série”, disse Obama, fazendo referência às mais jovens vítimas dos tiros em Newtown, Connecticut. “Toda vez que eu penso sobre essas crianças, isso me deixa louco. E, a propósito, acontece nas ruas de Chicago todos os dias”, disse o presidente (assista no vídeo, em inglês).

Muitas notícias sobre o discurso colocaram as lágrimas de Obama em evidência – na manchete ou primeiras linhas – destacando que ainda é raro ver um homem chorar publicamente. Mas o que a ciência diz sobre as lágrimas masculinas?

Acontece que, embora os homens obviamente chorem, eles podem ser biologicamente predispostos a chorar menos do que as mulheres. Ainda assim, enquanto as lágrimas masculinas são menos comuns e menos intensas, os homens choram com os mesmos tipos de gatilhos emocionais que as mulheres.

Além do mais, a capacidade de Obama de derramar algumas lágrimas pode até mesmo ter feito os espectadores se sentirem emocionalmente mais próximos dele, alguns estudos sugerem.

Homens também choram: Lágrimas dos homens x lágrimas das mulheres

É um estereótipo bem enraizado na nossa sociedade: mulheres choram com notícias tristes, filmes emocionais e até mesmo com o comercial de fraldas mais estranho, enquanto os homens permanecem de olhos secos nas situações mais angustiantes e de partir o coração.

Mas acontece que o estereótipo pode realmente ter algum fundamento na verdade. Mulheres choram dezenas de vezes por ano, em média – em até cinco vezes mais frequentemente do que os homens, de acordo com a pesquisa dos psicólogos Ivan Nyklicek, Lydia Temoshok e Ad Vingerhoets, todos da Universidade de Tilburg, na Holanda, relatada em seu livro “Expressão Emocional e Saúde” (Routledge, 2004).

Acessos de choro dos homens também são mais breves, durando apenas 2 a 3 minutos, em média, em comparação com 6 minutos para as mulheres, diz o livro. (As mulheres também são mais propensas a ter maratonas de soluço que duram mais de uma hora, de acordo com a pesquisa de Vingerhoets.)

Esta predisposição das mulheres mostra-se em culturas ao redor do mundo. No entanto, em alguns países mais pobres – como Gana, Nepal e Nigéria – as pessoas choram menos em geral, e os homens choram apenas um pouco menos do que as mulheres, de acordo com um estudo de 2011 publicado na revista Cultural Cross Research.

Isso poderia ser porque as culturas mais pobres não incentivam a expressão emocional, enquanto as pessoas nos países mais ricos, como os Estados Unidos, choram mais porque a cultura incentiva, os investigadores hipotetizam.

Diferença biológica?

O rio de lágrimas que divide homens e mulheres podem ter uma base biológica. Níveis mais elevados do hormônio prolactina nas mulheres (que está envolvido na amamentação) podem estimulá-las às lágrimas, enquanto que os níveis mais elevados de testosterona dos homens podem inibir lágrimas, uma teoria sustenta. De fato, um estudo de 1998 na revista Cornea descobriu que as mulheres na pré-menopausa com níveis mais baixos de prolactina e níveis mais elevados de testosterona derramavam menos lágrimas do que as mulheres com altos níveis de prolactina e baixos níveis de testosterona.

E até a puberdade, com seu ataque hormonal que afeta meninos e meninas de forma muito diferente, ambos os sexos choram igualmente, de acordo com um estudo de 2002 no British Journal of Developmental Psychology.

O comportamento mais estóico dos homens pode ser explicado também através da geometria simples. As mulheres têm canais lacrimais mais rasos, mais curtos, que são mais facilmente enchidos, levando a lágrimas mais visíveis, de acordo com um artigo publicado em 1960 no American Journal of Physical Anthropology.

Alguns pesquisadores argumentam que a diferença de gênero nas lágrimas é pelo menos parcialmente cultural. Histórias de culturas muito tempo atrás – incluindo aquelas na Bíblia, na “Ilíada” e contos dos cavaleiros medievais – estão equipados com homens poderosos, viris e soluçantes.

A discrepância em lágrimas do sexo masculino contra lágrimas do sexo feminino pode ser um fenômeno mais recente, que começou quando os homens passaram a trabalhar em fábricas, de acordo com o livro “Crying: A Natural and Cultural History of Tears” (WW Norton & Co., 2001). Chefes durões podem ter dissuadido demonstrações emocionais, a fim de aumentar a produtividade e, embora algumas mulheres passassem a trabalhar também, elas estavam mais propensas do que os homens a ficar em casa, onde as lágrimas não eram tão abertamente oprimidas.

Homens que apresentam mais traços “andróginos”, ou estereótipos definidos como femininos, tendem a chorar com mais frequência do que aqueles com traços mais masculinos, segundo o estereótipo, de acordo com um estudo de 2004 conduzido pela Kleenex. (Os pesquisadores não disseram como a “androginia” foi definida, nem era claro se o estudo foi revisado por pares, o processo padrão pelo qual a investigação científica é examinada.)

No entanto, os gatilhos de lágrimas nos homens eram semelhantes aos das mulheres no estudo: a morte de um ente querido tinha levado 74% dos homens entrevistados a chorar, enquanto os filmes emotivos, rompimentos e momentos até mesmo felizes em filmes estimularam o sistema hidráulico entre os homens no estudo.

Lágrimas estimulam proximidade e emoções

Mas independentemente de homens chorarem mais ou menos do que as mulheres, as lágrimas de Obama podem ter feito as pessoas se sentirem mais próximas dele, de acordo com uma teoria que sustenta que as pessoas choram para sinalizar vulnerabilidade. Lágrimas borram a visão de uma pessoa, tornando-a menos poderosa como agressora, diz a teoria.

É um poderoso sinal de que você não é uma ameaça, potencialmente provocando misericórdia e simpatia. Se duas pessoas revelam que suas defesas estão reduzidas, podem estimular uma ligação entre elas.

Outras teorias sugerem que o choro pode ajudar as pessoas a entrar em contato com suas próprias emoções, ou seja, a falta de lágrimas pode sugerir que uma pessoa tem problemas para acessar seus sentimentos. Cerca de 22% das pessoas com síndrome de Sjogren, que têm dificuldade em produzir lágrimas, também têm dificuldade em identificar as emoções que estão sentindo, de acordo com um estudo de 2012. [Live Science]

1 comentário

  • Raizen Fox:

    Algumas mulheres veem o choro masculino como fraqueza, chegam ao ponto de se irritar. Instinto materno ou sensação de insegurança?

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