Humanos podem respirar um líquido ao invés de ar?

Por , em 11.06.2012

Todo mundo que assistiu o filme “O Segredo do Abismo” (The Abyss – 1989) deve lembrar da cena em que o rato é colocado em um líquido hiperoxigenado, e sobrevive respirando o líquido (a cena pode ser vista aqui). O mergulhador em uma cena posterior também entra em um equipamento de mergulho onde o ar é substituído pelo mesmo líquido.

No filme, a cena do ator faz parte dos efeitos especiais, mas será possível respirar líquidos? A resposta está no próprio filme: a cena em que o rato está respirando o líquido não é efeito especial.

Primeiro é preciso entender algumas coisas. A gente se afoga não por que entra água nos pulmões, mas por que a gente não consegue retirar oxigênio suficiente da água, usando os pulmões. E não consegue por vários motivos. Um deles é que na água há muito pouco oxigênio dissolvido (o ar tem vinte vezes mais oxigênio). Se você se perguntou como os peixes conseguem sobreviver com tão pouco oxigênio, é por que eles têm “sangue frio” e metabolismo mais lento. Nossa exigência metabólica de oxigênio é maior.

Mas e um líquido com mais oxigênio que a água? Como no filme, uma scuba com líquido enriquecido com oxigênio usado para “respirar” já foi patenteada pelo inventor americano e cirurgião de pulmões e coração aposentado, Arnold Lande.

A ideia do inventor é usar um perfluorocarbono, um tipo de líquido que é capaz de dissolver grandes quantidades de gases, em uma scuba com um mecanismo que retire do perfluorocarbono o CO2 e coloque mais O2, retirado da água. Outra alternativa para o CO2 seria uma guelra artifical presa na veia femural, que “perderia” este gás para a água.

Este invento permitiria que os mergulhadores humanos fossem a maiores profundidades e com menos problemas, como a formação de bolhas de nitrogênio quando começam a subir (que pode ser fatal).

Mas não são só os operários da Petrobrás que trabalham em extração de petróleo a grandes profundidades que se beneficiariam. Outros que parecem interessados nisto são os militares. Aparentemente, eles fizeram testes similares na década de 1980, tão intensos que alguns envolvidos, que forçaram líquido para dentro dos pulmões, acabaram rompendo as costelas por estresse. Este problema poderia ser resolvido com um equipamento auxiliar, similar ao “pulmão de ferro”.

Finalmente, há os bebês prematuros. Um dos problemas enfrentado pelos prematuros com menos de 28 semanas é a imaturidade dos pulmões, que faz com que os alvéolos, sem os surfactantes necessários, acabam “colando” quando o pulmão esvazia. Por conta deste problema, só 5% dos prematuros com esta condição sobrevivem. Desde a década de 1990, experimentos com respiração de fluidos são feitos, e nestes testes 60% dos pacientes sobrevivem.

Outros possíveis beneficiados seriam os pacientes com danos pulmonares e cardíacos, e também astronautas, onde uma cápsula líquida poderia ser usada para substituir uniformes usados para lidar com forças G extremas.

Por enquanto, as pesquisas estão paradas, já que é preciso um fluido menos denso e mais econômico. Os perfluorocarbonos são duas vezes mais densos que a água, o que faz com que não sirvam para longos períodos, por causa do estresse imposto aos pulmões. Além disso, os perfluorocarbonos são vendidos a preços que variam entre US$60 (R$120,00) a US$150 (R$300,00).[Wikipedia, The Independent]

16 comentários

  • Leo A.Teixeira:

    Uma coisa não ficou clara pra mim. O nosso pulmão seria capaz de expelir esse líquido? Pois sua musculatura é feita pra trocar ar, que é muito menos denso. Imagino que, se fossemos capazes de expelir o líquido, provavelmente entraríamos em estresse respiratório devido ao esforço muscular pra elimina-lo, o que gera outros problemas metabólicos.

    • Eliton Maximo:

      “Por enquanto, as pesquisas estão paradas, já que é preciso um fluido menos denso e mais econômico. Os perfluorocarbonos são duas vezes mais densos que a água, o que faz com que não sirvam para longos períodos, por causa do estresse imposto aos pulmões. Além disso, os perfluorocarbonos são vendidos a preços que variam entre US$60 (R$120,00) a US$150 (R$300,00).”

      mas mesmo assim, acredito que qualquer liquido (mesmo com uma densidade muito inferior a do perfluorocarbono) venha fadigar os pulmoes rapidamente.

    • Vinícius Cataldi:

      Exatamente… Isso é o estresse pulmonar, faz muito esforço tanto pra fazer entrar quanto pra sair. Já que o líquido é duas vezes mais denso que a água.

  • Aline Gonçalves:

    Imagina você dentro de um líquido respirando ele, fala sério, né! Que tenso!

  • Igor Souz4:

    Muito interessante a matéria, mas o que me deixa incomodado é pensar na sensação incômoda que deve ser respirar um líquido… Imagina, deve ser muito difícil pra se acostumar;;

  • Giovane:

    Graças a esse post eu vi um dos melhores filmes que já assisti, além de descobrir que nós podemos respirar um líquido. Obrigado.

  • Clara Telis:

    Genialidades que nos fazem sonhar !Preciso de uma piscina com essa água enriquecida com oxigênio 😀

  • John jones:

    legal da aqui algum tempo vamos ser como o aquaman

  • luysylva:

    no futuro nadaremos como os golfinhos; e voaremos como os morcegos.

  • Kherryna Lerenard:

    Isso seria por acaso similar ao LCL, um líquido enriquecido com oxigênio a base de silício, do anime Neon Genesis Evangelion??
    Pois me parece que a idéia é mesma…
    Os pilotos dos EVAS, já respiravam líquidos…^__^

    • Hudson Rodrigo Cruz Monteiro:

      Estava esperando alguém chegar a essa conclusão!
      \o\

      Quando a ficção imita a vida, ou vice-versa.

      xP

  • Jonatas:

    Isso seria ótimo, porque as pesquisas paradas?
    Por quantas vezes o progresso científico esbarra no jogo de interesses econômicos e preços das coisas. A época da corrida espacial foi prodigiosa justamente porque não mediam esforços para “explorar o espaço” – na verdade se mostrar melhor que a potência rival, mas não vem ao caso, o que importa é o salto que houve nesse época. Depois, décadas de estagnação na órbita da Terra e sondas achando gelo em Marte.
    Outro dia o site reportou retardatários anticientistas cometendo terrorismos com a bandeira de que a ciência é vilã no futuro incerto da humanidade. Tolos, é tão fácil perceber que o lado científico é tão ou mais uma vítima do sistema que se formou com o capitalismo no jogo do controle mundial. Se você é um cientista brilhante, não há outro jeito de desenvolver sua pesquisa que não seja filiar-se a alguma super-corporação ou empresa que pague os custos de sua pesquisa, desde que sirva aos seus interesses.
    Mas tenho esperança de que as pesquisas com novos meios de respiração mais eficientes para mergulhadores, astronautas e bebês prematuros, basta alguém ver potencial lucrativo nisso, aí as pesquisas andam. A ciência não tem sido a grandeza em prol do futuro da humanidade que acreditei quando me formei, tem sido só mais uma ferramenta de interesses mesquinhos, como foi a religião no passado, nada mais.

    • Jadson Brumatti:

      Espero que com as pesquisas e viagens ao espaço através de empresas particulares, haja mais interesse e investimento nessa área. Também, mesmo que a idéia possa ser ruim, a pesquisa com militares pode ser uma boa, já que com o interesse bélico dessa tecnologia possa baratear a produção e distribuição da mesma, e aconteça como em dezenas de invenções= dos militares para os civis.

    • Dan:

      Esbarra na inviabilidade econômica não só como patrocínio,mas como produto final/preço. A corrida espacial trouxe avanços inimagináveis mas deixou cidades e economias estagnadas.Tanto que qndo acabou a G.Fria, a população sob a bandeira socialista não demorou um ano pra absorver e incorporar-se ao mundo desconhecido. Acho que por isso as pesquisas deste “líquido respirável” estão paradas. Hj, com a multipolarização e a “não necessidade” de buscar tecnologias para o embate ideológico, faz com que os grandes patrocinadores deixem de lado os avanços, e faz com que nós, consumidores-pequenos-investidores não tenhamos como consumir em larga escala o produto de tais pesquisas. Mas não desanime com a ciência em prol do futuro da humanidade;). A ciência é o futuro, só que precisa ser mais difundida pra deixar de depender dos grandes silenciadores do progresso: o capital.

    • Rafael2:

      Acredito na evolução moral da humanidade. Quem sabe, daqui a um milênio?

  • Germano:

    ja vi esse filme …
    não acreditaria nesse perfluorocarbonos nem vendo
    tenho muito que aprender
    pqp

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