Durante as últimas décadas, cientistas têm estudado a “teoria do cérebro social”, uma ideia de que certos animais desenvolveram cérebros grandes e poderosos para lidar com as complexidades da vida social.
Agora, uma nova pesquisa da Universidade de Oxford (Reino Unido) acrescenta evidências de que esta hipótese está provavelmente correta.
A teoria
O cérebro humano requer uma grande quantidade de energia para funcionar: 25% do total de combustível no nosso corpo. Então, do ponto de vista do gasto energético, e, portanto, a partir de uma perspectiva evolucionária, tal tamanho tem que valer a pena.
Animais como enxames de insetos, por exemplo, são sociais, mas seus arranjos são normalmente baseados em vantagens de curto prazo.
Outros animais, como primatas, baleias, golfinhos e elefantes, têm vida social muito mais dinâmica, muitas vezes envolvendo coordenação intensa com vários membros do grupo.
Segundo os pesquisadores, não é coincidência que estes animais tenham capacidades cognitivas poderosas e complexas.
E, de fato, a teoria do cérebro social sugere que o tamanho do cérebro afeta a velocidade, o volume e a sofisticação das decisões que podem ser feitas entre indivíduos em interação.
Na pré-civilização humana, estas decisões e habilidades de coordenação renderam consideráveis vantagens, que excluíram, por exemplo, parasitismo e outros comportamentos não tão sociais.
A coordenação permitiu que os primeiros seres humanos chegassem a um acordo sobre a direção de sua migração até um recurso desejável, sobre a defesa contra predadores ou grupos rivais, ou qualquer outro comportamento ecologicamente importante para qual os membros do grupo precisavam sincronizar ou coordenar seu comportamento.
Também os permitiu aceitar um conjunto de valores culturais e morais que serviram como uma “sugestão” de confiabilidade e disponibilidade para retribuir. A capacidade de se comunicar através da linguagem, portanto, parece ser uma parte importante dessa equação geral.
Simulando interações sociais
A tese de que os grandes grupos sociais só são possíveis com cérebros poderosos foi recentemente confirmada por uma equipe liderada por Tamas David-Barrett.
Usando modelagem baseada em agentes, a equipe foi capaz de desafiar seus simuladores, dando-lhes problemas de coordenação que exigiam sincronia comportamental. Cada agente tinha que fazer a sua parte no tempo certo e da maneira certa para que o grupo fosse capaz de agir como um.
Os cientistas descobriram que a viabilidade do tamanho do grupo aumentou à medida que a capacidade de cálculo (ou cognitiva) também aumentou.
Além do mais, as simulações mostraram que, a fim de alcançar um aumento significativo no tamanho do grupo, os simuladores tinham que usar uma estratégia de processamento de informações mais complexas que lhes permitiam diferenciar entre seus problemas.
Em outras palavras, eles tiveram que desenvolver a capacidade para a linguagem complexa. “Ao permitir que informações de terceiros fossem trocadas, o grupo conseguiu aumentar significativamente o limite do seu tamanho”, disseram os pesquisadores.
Eles concluíram que a evolução da complexidade cognitiva e comunicativa é impulsionada pela demanda ambiental para grandes grupos sociais – mas é só quando há uma necessidade de grandes grupos que a pressão de seleção é forte o suficiente para justificar os custos de recursos (energia, tempo, etc) envolvidos.
Você pode ler o estudo (em inglês), publicado na Proceedings of the Royal Society B, aqui.[io9]