Será que a ciência forense finalmente descobriu a identidade de Jack, o Estripador?

Por , em 11.09.2014

Um detetive amador com um livro sendo lançado e um cientista trabalhando em seu tempo livre alegam ter descoberto a identidade de Jack, o Estripador, um dos maiores mistérios da história dos assassinos em série. Segundo eles, Jack seria um imigrante polonês do século 19 chamado Aaron Kosminski, barbeiro que morava perto do local onde os crimes foram cometidos.

Segundo Russell Edwards, autor do mais recente livro especulativo sobre o caso, Kosminsk, um judeu polonês cuja família emigrou para Londres para escapar da violência, é “definitivamente, categórica e absolutamente” o homem por trás da série macabra de assassinatos em 1888, que deixou pelo menos cinco mulheres mortas e mutiladas nas ruas de East End, em Londres.

“Eu tenho a única evidência forense em toda a história do caso. Passei 14 anos trabalhando, e nós definitivamente resolvemos o mistério de quem era Jack, o Estripador. Só os não crentes que querem perpetuar o mito vão duvidar”, vangloria-se Edwards.

Deixando de lado por um momento que Kosminski, que tinha 23 anos quando o assassinato ocorreu e morreu em um manicômio com a idade de 53 anos, já era um dos principais suspeitos, o que é exatamente essa nova evidência que “definitivamente” mostra que ele é o culpado?

 

É aí que começam os questionamentos sobre a tal prova definitiva. Tudo começa com um xale velho que Edwards comprou em 2007 em um leilão. Ele afirma que este grande pedaço de pano foi encontrado na cena do assassinato de Catherine Eddowes, uma das vítimas do Estripador, e tem uma carta para “provar” que ele pertenceu a um descendente do sargento Amos Simpson, o policial de plantão na noite em que Eddowes foi morta e que tinha reivindicado o xale abandonado para sua esposa.

Horrorizada com o xale encharcado de sangue, a senhora Simpson nunca usou ou mesmo lavou o material, mas guardou o acessório, que tornou-se uma relíquia de família a ser passada de geração em geração, até que foi vendido para Edwards.

Primeira pergunta: será que a proveniência desta peça crucial de evidência é verdadeira? Ou que ela nunca foi lavada?

Além disso, Edwards supõe que o xale foi deixado na cena do crime não por Eddowes – que era pobre demais para comprar tal item caro – mas pelo próprio Estripador, o que supostamente liga o pano a Kosminski e ao assassinato. Nada “categórico”, e sim bastante questionável.

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No entanto, Edwards diz ter sido capaz de rastrear descendentes tanto de Eddowes quanto de Kosminki. Ele descobriu que suas amostras de DNA correspondem a aquelas recuperadas no xale, presumivelmente a partir do sangue de Eddowes e do sêmen de Kosminski.

 

O cientista que realizou essa proeza notável é Jari Louhelainen, um biólogo molecular da Universidade John Moores, em Liverpool, na Inglaterra. Infelizmente, ele não publicou até agora seu estudo em uma revista científica revisada por cientistas, por isso é impossível verificar suas afirmações ou analisar sua metodologia.

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Deixando de lado a alegação de que o xale nunca foi lavado ou limpo em qualquer momento durante os últimos 126 anos, o maior problema em realizar essa análise sensível de DNA é a questão da contaminação cruzada. Por exemplo, se o laboratório do Dr. Louhelainen trabalhou com o DNA dos dois descendentes vivos, como pode haver certeza de que esse DNA não contaminou as amostras que ele extraiu do xale?

Quando outros laboratórios trabalham em DNA antigo de amostras importantes, como o DNA extraído de ossos de neandertais ou os restos mortais dos Romanov, a última família real russa, eles vão a extremos para evitar a possibilidade de contaminação cruzada.

 

Também trabalham em amostras “cegas” para evitar prejuízo involuntário, e até mesmo realizam experimentos cegos duplicados em dois laboratórios diferentes para replicar os trabalhos uns dos outros.

Nada disso, como agora sabemos, tem sido feito neste caso. O Dr. Louhelainen pode estar convencido de que tenha encontrado o culpado, mas muitos outros cientistas não estão, incluindo o Professor Sir Alec Jeffreys, o homem que inventou a técnica da impressão digital do DNA, há 30 anos.

“Uma reivindicação interessante, mas é notável que precisa ser submetida a uma revisão por pares, com análise detalhada da proveniência do xale e da natureza da alegada combinação de DNA com os descendentes do agressor e seu poder de discriminação. Nenhuma evidência real foi fornecida ainda”, explica Jeffreys.

Em qualquer caso, ele aponta: “Se bem me lembro, quando eu visitei o Museu Negro em New Scotland Yard, Kosminski foi considerado por muito tempo como, de longe, o autor mais provável dos crimes”.

Parece que ainda não foi dessa vez que a certeza absoluta sobre a identidade do assassino em série mais famoso da história foi dada – pelo menos não enquanto outros cientistas analisarem a metodologia em que foi baseado o livro de Russel Edwards. [The Independent]

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