O revolucionário telescópio espacial Kepler MORREU

Por , em 31.10.2018

Um dos objetos mais importantes já colocados no espaço pela humanidade está terminando seus dias de exploração e descobertas. O telescópio espacial Kepler, da NASA, ficou sem combustível, anunciou ontem (30) a agência espacial. Com isso, o Kepler não pode mais se reorientar para estudar objetos cósmicos ou transferir seus dados para a Terra. Dessa forma, o trabalho transformador no espaço do lendário instrumento está terminado depois de quase uma década – só para se ter uma ideia da importância do telescópio, ele descobriu 70% dos 3.800 planetas confirmados até hoje pela NASA.

9 incríveis exoplanetas descobertos pelo telescópio espacial Kepler

“Como a primeira missão de caça a planetas da NASA, o Kepler excedeu todas as nossas expectativas e abriu o caminho para nossa exploração e busca de vida no sistema solar e além. Ele não só nos mostrou quantos planetas estavam por aí, como também desencadeou um campo de pesquisa totalmente novo e robusto que levou a comunidade científica à tona. Suas descobertas lançaram uma nova luz sobre o nosso lugar no universo, e iluminou os mistérios e possibilidades tentadoras entre as estrelas”, afirma Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretório de Missões Científicas da NASA, em um comunicado à imprensa publicado no site da agência.

“O Kepler nos ensinou que os planetas são onipresentes e incrivelmente diversos. Ele mudou a forma como olhamos para o céu noturno”, completa a cientista do projeto Kepler Jessie Dotson, em entrevista ao portal Space.

Fim esperado

O término do combustível do Kepler já era esperado pela NASA. Originalmente, a missão deveria durar cerca de três anos e meio. Porém, durante o procedimento de decolagem, os especialistas perceberam que o peso ainda não tinha atingido sua capacidade máxima, e aproveitaram para encher o tanque de combustível. A missão, então, duraria mais ou menos 10 anos – o Kepler está vagando pelo espaço.

“Com base na quantidade de combustível no lançamento e em nossas estimativas de quanto foi usado ao longo de seus nove anos de voo, determinamos que 2018 seria o ano em que o fornecimento de combustível da espaçonave acabaria. Temos mantido uma vigilância atenta sobre as estimativas de combustível para que possamos estar preparados para trazer o último lote de dados científicos de volta à Terra e aposentar a espaçonave”, diz um FAQ da NASA a respeito do tema.

O Kepler está ficando sem combustível há meses, e os gerentes da missão fizeram a nave espacial “dormir” várias vezes recentemente para estender sua vida operacional o máximo possível. Mas o fim não poderia ser postergado para sempre. O tanque do Kepler finalmente secou há duas semanas. “Isso marca o fim das operações espaciais para o Kepler e o fim da coleta de dados científicos”, sentenciou Paul Hertz, chefe da Divisão de Astrofísica da NASA, durante a teleconferência que informou ao mundo o fim do combustível.

Planetas habitáveis

“O Kepler abriu nossos olhos para a diversidade de planetas que existem em nossa galáxia”, diz o texto publicado no site da NASA a respeito do legado do telescópio. Segundo a matéria, a análise mais recente das descobertas do Kepler concluiu que 20% a 50% das estrelas visíveis no céu noturno provavelmente possuem planetas pequenos e possivelmente rochosos, similares em tamanho à Terra, localizados dentro da zona habitável de suas estrelas-mães. Isso significa que eles estão localizados a distâncias em que a água líquida pode se acumular na superfície do planeta.

O tamanho mais comum de planetas que o telescópio espacial encontrou não existe em nosso sistema solar. São mundos entre o tamanho da Terra e o de Netuno. Kepler também descobriu que frequentemente os sistemas planetários são aglomerados, em alguns casos com tantos planetas orbitando perto de suas estrelas-mãe que nosso sistema solar interno parece escasso.

Kepler encontrou dois bons candidatos de planetas que podem conter vida

“Quando começamos a conceber esta missão há 35 anos, não conhecíamos um único planeta fora do nosso sistema solar. Agora que sabemos que planetas estão por toda parte, o Kepler nos colocou em um novo curso que é promissor para as futuras gerações explorarem nossa galáxia”, diz no texto o pesquisador principal da missão Kepler, William Borucki, agora aposentado.

“Lançado em 6 de março de 2009, o telescópio espacial Kepler combinou técnicas de ponta na medição do brilho estelar com a maior câmera digital equipada para observações do espaço exterior na época. Originalmente posicionada para olhar continuamente para 150.000 estrelas em uma mancha do céu na constelação de Cygnus, Kepler fez o primeiro levantamento de planetas em nossa galáxia e se tornou a primeira missão da agência a detectar planetas do tamanho da Terra nas zonas habitáveis ​​de suas galáxias”, diz o texto.

A revolução dos exoplanetas

O Kepler buscava planetas usando o “método de trânsito”, que consiste na diminuição no brilho de uma estrela quando o planeta observado passa na frente dela do ponto de vista da espaçonave. Estas diminuições de brilho são minúsculas, a ponto da NASA duvidar se seria possível que uma espaçonave fosse capaz de detectá-las. Quatro propostas de missão foram rejeitadas nos anos 90 antes que os instrumentos usados no Kepler fossem apresentados

O trabalho inicial do Kepler, observando as 150 mil estrelas da constelação de Cygnus, foi incrivelmente produtivo, gerando 2.327 descobertas confirmadas de exoplanetas até hoje. Em maio de 2013, no entanto, a segunda das quatro “rodas de reação” de manutenção do telescópio falhou. A espaçonave não conseguiu manter-se estável o suficiente para fazer suas medições ultraprecisas de trânsito, e a caça aos planetas original chegou ao fim.

Mas esse não foi o fim. Como o Kepler orbita o sol e está muito distante da Terra, o evio de astronautas até lá é inviável, portanto os pesquisadores teriam que reparar a nave daqui mesmo. Os responsáveis pelo telescópio Kepler logo descobriram uma maneira de estabilizá-lo usando a pressão da luz do sol e, em 2014, a NASA aprovou uma nova missão chamada K2.

Exoplanetas bebês cavam fendas em seu berçário

Durante a K2, o Kepler estudou uma variedade de objetos e fenômenos cósmicos, de cometas e asteróides em nosso próprio sistema solar até explosões distantes de supernovas, ao longo de diferentes “campanhas” de 80 dias. A procura por planetas continuou sendo uma atividade significativa: 354 deles foram encontrados nesse período até hoje.

As observações do telescópio sugerem que há mais planetas do que estrelas na Via Láctea e que os mundos potencialmente parecidos com a Terra são comuns. “O legado de exoplanetas do Kepler é absolutamente um grande sucesso”, aponta Dotson ao Space.

Legado

Mesmo que o telescópio espacial tenha terminado seus dias de exploração, as descobertas da missão devem continuar por muitos anos. Cerca de 2.900 candidatos a exoplanetas detectados pela espaçonave ainda precisam ser examinados, e a maioria deles deve ser reais, segundo a equipe Kepler.

As descobertas das missões Kepler se estendem também a outras áreas da física. Por exemplo, as precisas medições de brilho de Kepler – que o telescópio estudou em mais de 500.000 estrelas – estão ajudando os astrônomos a entender melhor o funcionamento interno destes astros. E as observações de supernovas do instrumento poderiam lançar uma luz considerável sobre alguns dos eventos mais dramáticos do universo.

“Sabemos que a aposentadoria da espaçonave não é o fim das descobertas de Kepler. Estou entusiasmada com as diversas descobertas que ainda estão por vir de nossos dados e como futuras missões se basearão nos resultados da Kepler”, anima-se Dotson.

Antes de aposentar a espaçonave, os cientistas fizeram o Kepler trabalhar a todo vapor, completando com sucesso múltiplas campanhas de observação e baixando valiosos dados científicos, mesmo após os primeiros avisos de baixo consumo de combustível. Os dados mais recentes complementarão as informações do mais novo caçador de planetas da NASA, o Transiting Exoplanet Survey Satellite, lançado em abril. O TESS buscará planetas que orbitam cerca de 200.000 das estrelas mais brilhantes e próximas da Terra, mundos que mais tarde podem ser explorados por missões como o Telescópio Espacial James Webb da NASA.

“Esperamos encontrar sistemas planetários próximos. Estamos confiantes de que o TESS vai encontrar milhares de planetas, assim como o Kepler”, prevê Padi Boyd, cientista do projeto TESS, ao portal Space News. [Space, NASA, Space News]

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