Estamos interferindo na evolução e esta lagartixa cabeçuda brasileira é a prova
A evolução das espécies não leva, necessariamente, milhões de anos para acontecer. Uma nova pesquisa mostrou que um tipo de lagarto nativo de ilhas artificiais no Brasil desenvolveu uma cabeça maior que seus primos do continente em apenas 15 anos.
O grupo de lagartos predadores de insetos, da espécie Gymnodactylus amarali, isolou-se do resto da população quando áreas rurais foram isoladas para o fornecimento energia hidrelétrica. Isso levou à extinção de algumas espécies maiores de lagartos nas novas ilhas, deixando para as lagartixas a tarefa de comer insetos que normalmente seriam alimento de espécies maiores. Como resultado, as lagartixas desenvolveram mais a boca e o crânio, que lhes permitem digerir as presas maiores com facilidade.
Na verdade, já vimos essa rapidez na evolução, mas ela geralmente se manifesta em resposta a um desastre natural, como a seca ou as mudanças climáticas. O que é diferente nessas lagartixas é que elas evoluíram em resposta direta a uma mudança ambiental promulgada por humanos, demonstrando o impacto que podemos ter no mundo natural.
Evidências da evolução
O estudo, publicado no PNAS, fornece uma demonstração interessante de como a evolução funciona, e não apenas porque a mudança tenha ocorrido enquanto estamos vivos. As lagartixas com cabeças e bocas maiores entre a colônia original podiam se alimentar de uma gama mais ampla de presas e, portanto, tinham mais energia para destinar à sobrevivência e à reprodução. Como resultado, eles se reproduziram mais e seus genes “cabeçudos” se espalharam em maior proporção entre a geração seguinte. Isso se repetiu até que as cabeças maiores se tornaram uma característica comum do grupo.
Mas por que as cabeças maiores dominaram a hereditariedade? Por que os lagartos mais robustos não tiveram a mesma vantagem evolutiva? Segundo o estudo, o organismo dos maiores demanda mais energia para funcionar, embora esses indivíduos tenham a vantagem no tamanho, que lhes permite caçar e comer mais presas do que as lagartixas menores.
Um dos aspectos mais interessantes do estudo verificou que as lagartixas em todas as cinco ilhas estudadas desenvolveram esse tipo maior de cabeça, ainda que estivessem isoladas umas das outras. Isso sugere que aumentar o tamanho do crânio mantendo a mesma estrutura corporal é a maneira mais eficaz que a lagartixa tem de acessar uma dieta mais variada do que a normal para sua espécie, fazendo disso uma oportunidade que o instinto de sobrevivência não deixa escapar.
Tentilhões de Galápagos
Esse tipo de evolução mais rápida já foi vista antes, inclusive entre os tentilhões das Ilhas Galápagos, palco da observação de Charles Darwin que o conduziu à teoria da seleção natural. Uma dessas espécies de tentilhões reduziu o tamanho médio de seu bico num período de apenas 22 anos, quando um concorrente de bico maior colonizou a ilha.
As espécies maiores comeram todas as sementes com conchas mais duras. Mesmo um grande bico era incapaz de competir com elas, o que se tornou uma desvantagem para os tentilhões e então pássaros com um bico menor começaram a prosperar. Este é um dos princípios fundamentais da biologia: se uma estrutura específica não é fundamental para o funcionamento do corpo, os organismos não se preocupam em cultivá-la e optam por guardar energia.
Uma situação semelhante foi verificada na Flórida quando um lagarto Cuban Anolis colonizou áreas da Flórida. Ele é muito maior do que o lagarto Anolis verde nativo. Este, então, imediatamente se afastou para as copas das árvores e, dentro de 20 gerações, desenvolveu pegadas maiores
e mais pegajosas, característica útil para uma vida mais longa.
Impacto humano
Outro exemplo de rápida mudança evolutiva foi verificado em ovelhas de Soay na ilha de Hirta, em St Kilda, ao largo da costa da Escócia. Depois que os moradores da ilha foram evacuados em 1930, as ovelhas puderam viver livres na natureza e, em 25 anos, começaram a reduzir de tamanho. A explicação apresentada é que os invernos mais brandos, como consequência da mudança climática, estão permitindo que os cordeiros menores sobrevivam ao reduzir o tamanho médio de toda a sua população.
Isso sugere que talvez ainda vejamos muitos outros exemplos de evolução rápida à medida que o clima continua a se alterar, em resposta às emissões de gases do efeito estufa. Mas o novo estudo sobre as lagartixas mostra que a ação humana localizada também pode interferir nos processos de evolução. Embora a mudança no tamanho da cabeça e da boca no animal pareça positiva e benigna, devemos lembrar que ela só surgiu devido à extinção de outras quatro espécies de lagartos na área inundada. É um lembrete oportuno de que a mudança climática não é a única questão que precisa ser levada em conta em meio aos impactos ambientais, mas também a biodiversidade e os processos evolutivos. [Phys.Org]
6 comentários
O artigo diz que o gene cabeçudo se espalhou. Ou seja, não houve acréscimo de informação genética. Se isto é evolução, é uma bem tabajara.
Não, Wellington, basicamente você não sabe o que é evolução. “Evolução é a mudança da frequência estatística dos alelos em uma população”. Isto é evolução. Se um gene ou uma mutação de um indivíduo se torna predominante no espaço de algumas gerações, isto é evolução.
Você estava esperando mágica? Um lagarto colocando um ovo e dali saindo um pássaro? Isto não seria evolução, seria mágica. Seria a prova de que a evolução é falsa.
A foto não condiz com a espécie citada, e sim com um lagarto oriundo do oriente médio, o “Afegan Leopard Gecko” Eublepharis macularius.
Verdade.
O Gymnodactilus amaralis é o lagarto da foto no artigo original. A foto de destaque realmente é do Eublepharis macularius.
Lembra o estudo dos lagartos em uma ilha do Mar Adriático. Em 30 anos mudaram completamente.
Bagunçando, então, não seria um termo apropriado. Muito pelo contrário…