Quando adolescentes largam a maconha a cognição rapidamente acelera: estudo

Por , em 2.11.2018

Um estudo publicado nesta semana descobriu que quando os adolescentes param de usar maconha, mesmo que por um período curto, como uma semana, o aprendizado verbal e a memória deles melhoram. O estudo reforça a ideia de que o uso de maconha em adolescentes está associado à redução do funcionamento neurocognitivo, já que o THC, o ingrediente ativo da maconha, afeta mais intensamente as partes do cérebro que se desenvolvem durante a adolescência.

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“O cérebro adolescente está passando por um neurodesenvolvimento significativo até os 20 anos, e as regiões que se desenvolvem são aquelas que são mais povoadas pelos receptores de cannabis e também são muito críticas para o funcionamento cognitivo”, diz Randi Schuster, diretora de neuropsicologia do Center for Addiction Medicine do Massachusetts General Hospital, nos EUA, e principal autora do estudo, em matéria publicada no site da Rádio Pública Nacional (NPR na sigla em inglês) dos EUA.

Schuster e a equipe de pesquisadores se propuseram a determinar se as funções cognitivas potencialmente prejudicadas pelo uso de maconha em adolescentes, especialmente a atenção e a memória, melhoram quando o jovem se abstêm da droga. Como seria difícil conseguir não fumantes que começassem a usar maconha, os pesquisadores tentaram uma abordagem diferente: eles recrutaram 88 adolescentes e jovens adultos que usavam maconha, com idades entre 16 e 25 anos, e pediram que alguns deles concordassem em parar de fumar ou consumir cannabis de alguma outra forma durante um mês. Os voluntários tinham perfis diferentes de consumo da droga: alguns dos jovens fumavam uma vez por semana, enquanto outros fumavam quase diariamente, por exemplo.

Memória verbal

Os pesquisadores distribuíram aleatoriamente os voluntários em um grupo de abstenção e em um outro sem abstenção. Os dois grupos foram testados semanalmente para garantir que os níveis de THC do grupo em abstinência estavam diminuindo e que os níveis do grupo de controle permaneciam consistentes enquanto eles continuavam usando a droga.

Também em cada visita, os participantes completaram uma variedade de tarefas testando sua atenção e memória através de uma ferramenta de avaliação cognitiva.

Os pesquisadores descobriram que, após quatro semanas, não houve diferença perceptível nos escores de atenção entre os usuários de maconha e os não usuários, mas os escores de memória dos não usuários melhoraram, enquanto as memórias dos usuários permaneceram iguais.

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O teste de memória verbal desafiou os participantes a aprenderem e recordarem novas palavras, o que permitiu aos pesquisadores ver a capacidade deles de aprender informações na primeira vez que as palavras foram apresentadas, bem como o número de palavras que podiam ser armazenadas na memória de longo prazo – a memória verbal é particularmente relevante para adolescentes e adultos jovens quando estão na sala de aula, salienta Schuster na matéria da NPR.

“Para um adolescente em uma aula de história, aprendendo novos fatos pela primeira vez, estamos suspeitando que os usuários ativos de cannabis podem ter dificuldade em colocar essas novas informações em sua memória de longo prazo”, aponta a pesquisadora.

Embora este estudo não tenha provado que a abstenção de cannabis melhora a atenção dos adolescentes, outros estudos descobriram que os usuários de maconha se saem pior nos testes de atenção do que os não usuários. Schuster sugere que pode levar mais de quatro semanas de abstinência para melhorar os níveis de atenção.

Curiosamente, a maior parte da melhora da memória para o grupo abstinente aconteceu durante a primeira semana do estudo, o que deixa os pesquisadores esperançosos. “Ficamos agradavelmente surpresos ao ver que pelo menos alguns dos déficits que pensamos serem causados ​​pela cannabis parecem ser reversíveis, e pelo menos alguns deles são rapidamente reversíveis, o que é uma boa notícia”, diz Schuster.

Segundo Krista Lisdahl, professora associada de psicologia da Universidade de Wisconsin, também nos EUA, que também pesquisa a neurociência do vício, um possível ponto fraco do estudo é a falta de um grupo de controle que não use maconha, diz ela na matéria da NPR. Por causa disso, é difícil concluir se as melhorias na memória trouxeram os participantes de volta aos seus níveis básicos antes de usar maconha.

Além disso, como o estudo durou apenas quatro semanas, é impossível tirar conclusões sobre os efeitos a longo prazo do uso de maconha para os jovens, como a influência direta da maconha no desempenho acadêmico, nos padrões de sono ou no humor.

Longo prazo

Os pesquisadores apontam que estudos futuros são necessários para determinar se as melhorias na cognição associadas à abstinência de cannabis também estão ligadas a um melhor desempenho acadêmico e outros resultados funcionais na vida cotidiana. “Ainda há muitas questões em aberto a serem estudadas, incluindo se a atenção pode melhorar e a memória continua a melhorar com períodos mais longos de abstinência de cannabis”, diz Schuster em matéria do portal Psychology Today.

A equipe já está planejando um teste de acompanhamento muito maior. Este estudo incluirá participantes mais jovens, com idades entre 13 e 19 anos. Neste, também serão inclusos participantes que nunca usaram cannabis. Outro ensaio clínico futuro, com usuários regulares que se abstêm do uso de maconha por seis meses, investigará se a abstinência de maconha resulta em melhoras cognitivas por este período mais longo. Esta pesquisa também irá analisar especificamente uma possível ligação entre a abstinência de cannabis e melhor desempenho na escola.

Um estudo de longo prazo, chamado de Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Adolescente, está sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos EUA e poderá dar respostas mais aprofundadas sobre os efeitos da maconha no cérebro dos jovens, e também revelar se o funcionamento cerebral dos adolescentes pode se recuperar completamente quando eles param de usar a erva.

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Lisdahl está ajudando no estudo do NIH, que, até o momento, envolveu mais de 11 mil crianças de 9 e 10 anos e as seguirá até a idade adulta jovem. É o maior estudo de longo prazo sobre o desenvolvimento do cérebro infantil feito nos EUA, e avalia como tudo, desde o tempo olhando para telas de smartphones até concussões e drogas, afetam os cérebros dos adolescentes.

Nesse meio tempo, Lisdahl diz que as descobertas do novo estudo – que a abstinência da maconha está associada a melhorias no aprendizado e na memória dos adolescentes – envia uma mensagem positiva. “Continuo otimista de que podemos mostrar a recuperação da função com abstinência prolongada”, diz ela. [NPR, Newscientist, Psychology Today]

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