Não parece que existe um lado bom em mentir. No entanto, uma nova pesquisa aponta que algumas mentirinhas inocentes podem, de fato, melhorar em vez de piorar relacionamentos.
Calma – essa não é uma carta branca da ciência para começar a enganar para seus amigos ou amores. É preciso ter “boas razões” para mentir para que o engano seja positivo.
Mas o que são boas razões para mentir, pergunta você?
Depende da situação. Mas uma coisa é certa: segundo explica Robin Dunbar, psicólogo evolucionista da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mentir para encobrir uma má ação ou apenas para obter vantagem pessoal não vai melhorar seus relacionamentos, sejam eles românticos, fraternos ou familiares.
“Este tipo de fraude, conhecido como mentira antissocial, é destrutiva e enfraquece os laços entre duas pessoas”, afirma. “Por outro lado, mentiras contadas para ajudar outra pessoa ou para proteger os sentimentos de alguém tendem a ser boas para relacionamentos”.
Os psicólogos chamam esse segundo tipo de fraude de mentira pró-social, também conhecida como “mentira branca” ou “mentira benéfica”.
O estudo
Para estudar como estes dois tipos de mentiras afetam as relações dentro dos grupos sociais, Dunbar e sua equipe de pesquisadores associados da Universidade Aalto, na Finlândia, criaram um modelo matemático complexo.
O modelo mostrou que os indivíduos que dizem mentiras antissociais tornam-se isolados das outras pessoas de suas redes sociais ao longo do tempo. No entanto, os que dizem mentiras pró-sociais não se isolam; na verdade, essas pessoas tendem a formar laços fortes com outros indivíduos dentro de suas redes sociais.
O modelo funciona tanto na vida real quanto na vida online. Isso significa que ele pode ajudar os psicólogos a entender melhor os efeitos de mentir em comunidades online.
Larry Rosen, professor de psicologia da Universidade Estadual da Califórnia (EUA), explica que uma mentira contada no Facebook, por exemplo, é diferente de uma mentira contada diretamente a alguém. Mas, assim como as mentiras do mundo real, mentiras virtuais podem assumir muitas formas.
“O que é o mais fascinante para mim é o botão ‘Curtir’”, disse Rosen. “Em geral, as pessoas curtem coisas no Facebook por causa de algo que chamamos de ‘empatia virtual’”.
Se você curte uma imagem do gato de sua tia ou uma atualização de status de um amigo, pode ser que você tenha feito isso realmente tem boas intenções e apoia essas pessoas de alguma forma.
No entanto, nem toda vez que as pessoas clicam em “Curtir” elas possuem boas intenções. Às vezes, elas fazem isso automaticamente, porque sentem que é algo que devem fazer.
Nesses casos, pressionar “Curtir” é um tipo de mentira.
“Curtir alguma coisa no Facebook que você não curte de verdade se assemelha a dar uma resposta desonesta para a pergunta: ‘Você gostou dos meus sapatos novos?’. Nessas situações, você pode responder ao contrário do que pensa só porque está com medo de que sua honestidade vá ferir os sentimentos de alguém”, explica Rosen.
Mentira x omissão
Nas redes sociais, Rosen acredita que as pessoas mentem principalmente por omissão. “Elas postam uma foto de suas férias em algum lugar agradável, mas não dizem que tiveram uma péssima noite em um hotel, e que estão cansadas e mal-humoradas”, explica.
Este tipo de desonestidade não é realmente mentir no sentido mais estrito da palavra; é mais como monitorar a verdade que você está disposto a compartilhar com os outros. “Por trás de sua tela, você está decidindo quais verdades vai dizer, e quais vai deixar de fora”, diz Rosen.
Alguns cientistas argumentam que praticar compartilhamento seletivo online não é mentir por omissão, é apenas autopreservação. Um estudo feito com primatas por Dunbar apoia esta interpretação. Em algumas espécies, como babuínos, fêmeas navegam a linha entre a mentira e a autopreservação ao omitir atos que poderiam ser vistos como má ações por machos, apenas para não serem castigadas. [LiveScience]