O ano de 2013 tem sido afortunado para os apaixonados por astronomia que, como nós, vivem no hemisfério sul. Pela segunda vez, nós temos a possibilidade de observar a olho nu uma nova entrando em ação. Desta vez, a premiada com a explosão foi a constelação austral de Centauro, que está bem diferente desde o início da semana passada, quando uma nova brilhante foi identificada na região.
Nova é uma explosão nuclear cataclísmica em uma estrela, causada pela acreção de hidrogênio à superfície de uma anã branca, levando à ignição e iniciando a fusão nuclear. As novas não devem ser confundidas com as supernovas, que surgem após a explosão de estrelas com mais de dez massas solares, ou com as novas luminosas vermelhas, que nascem da união de duas estrelas e emitem um brilho na cor característica.
A descoberta inicial da Nova Centauri 2013 (ou Nova Cen 2013) foi feita pelo observador John Seach, com base em Chatsworth Island, New South Wales, na Austrália. A descoberta preliminar da Nova Cen 2013 a identificou como de magnitude 5,5, um pouco acima do que torna possível a visibilidade a olho nu a partir de um local que tenha um bom céu escuro.
Conforme estimativas prévias, novos observadores já reclassificaram a Nova Cen 2013 com uma magnitude ainda maior. No dia seguinte à descoberta, 3 de dezembro, Ernesto Guido, Nick Howes e Martino Nicolini mostraram que a Nova Centauri 2013 havia evoluído e estava três vezes mais brilhante, passando de 5.5 para 4.7 de magnitude – quanto menor o número, maior o brilho.
As primeiras notícias da novidade foram divulgadas pela Associação Americana de Observadores de Estrelas Variáveis no mesmo dia 3, quando o aviso de alerta 492 foi emitido. Fundada em 1911, a AAVSO (sigla em inglês para American Association of Variable Star Observers) é uma fonte importante para informações e um bom exemplo de colaboração amador no esforço para realizar a observação científica real.
Seguintes à descoberta, medições de espectros feitas por Rob Kaufman, em White Cliffs, Austrália e Malcolm Locke, em Christchurch, Nova Zelândia demonstraram a presença de forte linhas de emissão de hidrogênio alfa e beta, a marca clássica de uma nova erupção. Como a Nova Delphini 2013, testemunhada por observadores em agosto passado, esta é uma nova do tipo “garden” localizada em nossa própria galáxia, se deslocando, como observado, ao longo do plano galáctico da nossa perspectiva terrestre.
Algumas novas são vistas a cada ano, mas uma conflagração estelar alcançando tal visibilidade a olho nu é algo digno de nota. Na verdade, a Nova Cen 2013 já está estre as 20 novas mais brilhantes avistadas na história, já que no último dia 5, a AAVSO informou que a sua magnitude havia caído ainda mais e atingido 3,5.
- Somos todos poeira de estrela: restos de supernova podem ser encontrados em bactérias pré-históricas
Tal acontecimento não deve ser confundido com o histórico das supernovas, a última das quais observada em nossa galáxia foi a Supernova de Kepler, em 1604, pouco antes do advento do telescópio na astronomia moderna. Supernovas são vistas em outras galáxias o tempo todo, porém, por aqui, pode-se dizer que ficamos “devendo”.
Então, quem pode ver Nova Cen de 2013, e quem está de fora? Bem, as coordenadas para a nova são:
Ascensão Reta: 13 horas 54′ 45″
Declinação: -59°S 09′ 04″
Isso a coloca no fundo do céu do hemisfério celestial sul, onde a constelação de Centauro se aproxima das constelações de Circinus, Musca e Crux. Localizada a três graus da estrela Hadar, de magnitude 0,6 – também chamada de Beta Centauri – seria possível capturar a nebulosa Saco do Carvão e o aglomerado globular de estrelas Omega Centauri, corpos celestes do céu profundo do sul, com a Nova Cen 2013 no mesmo campo de visão amplo.
De Guayaquil, no Equador, logo abaixo da linha do Equador, a nova nasce para o sudeste perto das 3 horas da manhã no horário local, e fica 20 graus acima do horizonte ao amanhecer.
A nova terá formato circumpolar para os observadores ao sul de -30° de latitude, incluindo as cidades de Buenos Aires, Cidade do Cabo, Sydney e Auckland. Latitudes como as que se equiparam à Nova Zelândia terão as melhores vistas da Nova Cen 2013. Baseados próximos da latitude 40° sul, os observadores poderão ver a nova cerca de 10° acima do horizonte sul com o menor culminar algumas horas depois do sol, caminhando para 40° acima do horizonte sudeste ao nascer do sol.
Tudo indica que a Nova Cen 2013 seja uma nova clássica, uma estrela anã branca incorporando matéria de uma companheira binária até que uma nova rodada de fusão nuclear ocorra. Novas recorrentes, tais como T Pyxidis ou U Scorpii, podem entrar em erupção de forma irregular desta forma e estender esse comportamento ao londo de décadas.
Até o momento, não há nenhuma medida de distância consistente para a Nova Cen de 2013, embora o projeto EVLA Nova Projec procure fazer exatamente isso.
Parabéns a John Seach por sua descoberta, e aos apaixonados por estrelas que vivem sob o céu austral, não se esqueçam de conferir esta maravilha astrofísica! [Universe Today, AAVSO]