Uma nova pesquisa da Universidade Harvard (EUA) em colaboração com o Hospital Geral de Massachusetts (EUA) descobriu que os micróbios do intestino de ratos sofreram mudanças drásticas após cirurgia gástrica. Essa mudança, por sua vez, resultou na perda de peso rápida.
A cirurgia realizada foi bypass gástrico, também chamada de grampeamento gástrico ou gastroplastia redutora. É um processo cirúrgico que reduz drasticamente o tamanho e volume do estômago, diminuindo o volume diário ingerido em torno de 20%.
Para saber se foi a mudança na microbiota intestinal que levou a perda de peso, os pesquisadores colonizaram a comunidade microbiana alterada em ratos que não passaram pela cirurgia. Os animais foram capazes de manter a gordura corporal e perder cerca de 20% de peso, o mesmo tanto que perderiam se passassem pela operação.
E os resultados poderiam ter sido ainda mais dramáticos. Isso porque os ratos utilizados no estudo não tinham feito uma dieta anterior com alto teor de gordura e açúcar para aumentar o seu peso. “A questão é saber se poderíamos ter visto um efeito mais forte se eles estivessem em uma dieta diferente”, explica Peter Turnbaugh, um dos pesquisadores do estudo.
“Nosso estudo sugere que os efeitos específicos de bypass gástrico sobre a microbiota contribuem para a capacidade de causar perda de peso, e que encontrar formas de manipular as populações microbianas para imitar esses efeitos poderia tornar-se uma valiosa ferramenta para tratar a obesidade”, disse Lee Kaplan, principal autor da pesquisa.
Emagrecer rápido sem cirurgia, com perda de peso
Os cientistas querem entender melhor os mecanismos pelos quais a população microbiana alterada pelo bypass gástrico exerce seus efeitos na perda de peso, para então saber se poderão reproduzir esses efeitos – tanto as mudanças microbianas quanto as alterações metabólicas associadas – sem necessidade cirurgia.
Isso geraria um tratamento inteiramente novo para o problema crítico da obesidade, que pode ajudar os pacientes que não podem ou não querem fazer cirurgia.
Os cientistas alertam que mudanças microbianas não devem ser vistas como uma forma rápida de perder alguns quilinhos sem precisar ir até a academia. Em vez disso, a técnica pode um dia dar esperança a pessoas perigosamente obesas que querem perder peso sem passar pelo trauma da operação.
“Não vai ser uma pílula mágica que funcionará para qualquer um apenas um pouco acima do peso”, disse Turnbaugh. “Mas se pudermos, no mínimo, proporcionar uma alternativa a cirurgia de bypass gástrico que produz efeitos semelhantes, já é um grande avanço”.
No entanto, ainda pode levar anos para que uma terapia possa ser replicada em seres humanos.
Micróbios influentes
Embora os pesquisadores já soubessem que os micróbios no intestino podiam mudar após a cirurgia, a velocidade e a extensão dessa mudança foi uma surpresa para eles.
Em experiências anteriores, cientistas haviam mostrado que os intestinos de ratos ambos magros e obesos são povoados por diferentes quantidades de dois tipos de bactérias, dos filos Firmicutes e Bacteroidetes.
Quando os ratos são submetidos à cirurgia de bypass gástrico, no entanto, isso muda. O intestino passa a ser dominado por Proteobacteria, com níveis relativamente baixos de Firmicutes. Essas alterações ocorrem dentro de uma semana da cirurgia, e duram até meses depois. Esse padrão é interessante, pois muitos estudos descobriram que o equilíbrio entre estes dois grupos de bactérias pende a favor das Firmicutes em indivíduos obesos.
Essa observação é promissora, porém, mais estudos são necessários para entender exatamente o que está por trás da perda de peso observada nos ratos.
“A grande lacuna no nosso conhecimento é o mecanismo subjacente que liga micróbios a perda de peso”, disse Turnbaugh. “Houve certos micróbios que encontramos em maior abundância após a cirurgia, por isso acho que esses são bons alvos para começar a entender o que está acontecendo”.
Uma das hipóteses é que a resposta de perda de peso pode não vir dos tipos específicos de micróbios, mas de algum subproduto que eles excretam.
Para além das alterações nos micróbios encontrados no intestino, os cientistas também encontraram mudanças na concentração de certos ácidos gordos. Outros estudos já sugeriram que essas moléculas podem ser críticas na sinalização para acelerar o metabolismo, ou para não armazenar o excesso de calorias como gordura.
A equipe quer explorar essas questões em novos estudos.[ScienceDaily, CirurgiaObesidade]