Dirigível do futuro finalmente levantou voo

Por , em 16.09.2013

Era uma vez um tempo em que o homem olhava para cima e esperava encontrar balões gigantes em vez de aviões cruzando os céus. O desastre do dirigível alemão Hindenburg – que pegou fogo em maio de 1937, matando 36 pessoas, entre passageiros e tripulantes – rapidamente pôs um fim a esse sonho. Agora, no entanto, quase um século depois da era de ouro destas aeronaves, uma empresa pode ter finalmente descoberto como construir um dirigível adequado para o século 21. Só que sem chamá-lo de “dirigível”.

Dirigível é o sonho que se tornou realidade?

Esta nave totalmente rígida, apelidada de “Aeroscraft”, difere fundamentalmente daquelas construídos no passado (incluindo o Hindenburg). Os dirigíveis, por definição, não possuem uma estrutura interna e mantêm suas formas apenas por meio da pressão exercida pelo gás hidrogênio – altamente inflamável, a propósito, o que explica a tragédia de 1937. Quando o gás escapa, tudo se desinfla, deixando evidente o fato de serem, na realidade, enormes balões.

Os dirigíveis rígidos, como os zepelins, mantêm sua forma, independentemente da pressão do gás, graças a uma estrutura de esqueleto interno, e preservam sua flutuabilidade com uma série de bexigas que se preenchem com diferentes gases. O Hindenburg utilizava madeira altamente inflamável, enquanto o novo Aeroscraft conta com materiais mais seguros como alumínio e fibra de carbono. E, ao contrário de aeronaves híbridas, o Aeroscraft não necessita de impulso para levantar voo. Tudo se dá graças ao poder do hélio.

O Aeroscraft vem sendo desenvolvido pela companhia Aeros Corp, a maior fabricante de aeronaves e dirigíveis do mundo, desde 1996. O projeto recebeu mais de 35 milhões de dólares (79 milhões de reais) em financiamento de pesquisa e desenvolvimento do governo dos Estados Unidos, que ainda emprestou à empresa tecnologia da Nasa para ajudar a desenvolver a aerodinâmica e os sistemas de controle. Com o sucesso do lançamento de seu protótipo em escala reduzida, o “Pelican”, no início de setembro, o investimento parece ter valido a pena. O futuro das viagens aéreas pode mudar radicalmente nos próximos anos.

Com 81 metros de comprimento e 30 metros de largura, o protótipo Pelican possui apenas cerca de metade do tamanho que o Aeroscraft, em grande escala, terá. Se efetivamente concluído, o Aeroscraft vai medir mais de 120 metros de comprimento e será capaz de levantar 66 toneladas ou mais.

Ao contrário dos dirigíveis que mantêm uma flutuação constante e contam com lastros e ventoinhas para ajustar sua altitude, o Aeroscraft vai empregar um sistema único de bexiga, que poderá alterar o peso estático da aeronave (em relação ao ar) à vontade. O sistema é chamado de COSH (em português, “controle de peso estático”). O sistema, na realidade, funciona muito semelhante à forma como os submarinos usam o ar comprimido para permanecerem flutuando e não afundarem.

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O Aeroscraft estará equipado com uma série de tanques de hélio pressurizados. Quando o piloto desejar aumentar a altitude, o hélio (não inflamável) será liberado dos reservatórios, por meio de uma série de tubos e válvulas de controle, e enviado para bexigas de gás internas chamadas de envelopes de pressão de hélio (HPES, na sigla em inglês). Isto aumenta o poder de sustentação que o hélio gera, reduz o peso estático da aeronave, e permite que ela suba.

Quando o piloto quiser descer, o processo é inverso. Isto permite que o Aeroscraft pouse com facilidade e receba carga ou passageiros sem ter que ser amarrado ou precisar de um lastro externo. Além disso, o Aeroscraft será equipado com um trio de motores – um de cada lado e um terceiro na parte de baixo – e seis turbofans (um motor a reação que possui bom desempenho em altitudes elevadas e é utilizado em aeronaves projetadas especialmente para altas velocidades de cruzeiro). Estas estruturas serão as responsáveis por proporcionar o impulso necessário e levantar o sistema COSH, bem como todas as demais estruturas de equilíbrio da aeronave, até que o dirigível moderno atinja a alta velocidade de deslocamento, ou seja, uma velocidade acima de 32 quilômetros por hora.

Entretanto, o governo dos EUA não investiu quase 80 milhões de reais só para a construção de um balão melhor que os do século passado. A esperança é de que o desenvolvimento dos novos dirigíveis de alta tecnologia forneça uma solução vital para o mundo moderno: entrega de cargas sem a necessidade do uso de pistas de pouso. O simples ato de levar até mesmo pequenas quantidades de suprimentos a pessoas que se encontram em áreas remotas por meio de aviões pode ser um pesadelo: é preciso que o piloto encontre uma pista adequada para o pouso ou esteja preparado para lançar os suprimentos via paraquedas. Do deserto no interior da Austrália até os confins da Floresta Amazônica, há uma abundância de locais ao redor do mundo que são simplesmente inacessíveis para aviões convencionais. Mas isto não acontece com o Aeroscraft.

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Com uma suposta capacidade de transporte de 66 toneladas e sem a necessidade de pista de pouso, estas aeronaves deverão ser capazes de entregar qualquer coisa em qualquer lugar do planeta. A carga pode ser transportada no compartimento interno do Aeroscraft ou pendurada sob o dirigível, usando o sistema de suspensão de carga (CSCD, na sigla original) da empresa, que equilibra automaticamente a carga suspensa, para evitar que os objetos em questão oscilem e batam contra o dirigível.

O protótipo Pelican de fato levantou voo com sucesso, mas a aeronave estava sob a proteção de amarras laterais. O primeiro voo livre do protótipo sem estas amarras está programado para acontecer dentro das próximas semanas.

Os planos da empresa incluem a produção de um trio de modelos Aeroscraft: o ML866, o inicial, com capacidade de levar uma carga de 66 toneladas, o ML868, com capacidade para 250 toneladas e o ML86X, que deverá ser capaz de levar até 500 toneladas. Os planos de transformar o dirigível em um luxuoso hotel que possa levar seus passageiros para dar uma volta ao mundo em 80 dias ainda deverá demorar mais um tempo. [Gizmodo]

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