O que é isto se equilibrando em uma parede íngreme e por que não cai?

Por , em 6.01.2014

Talvez você tenha visto o vídeo que inspirou este texto (ele se espalhou pela internet e já passou em alguns programas de TV), mas eu ainda estamos amedrontados. Totalmente surpresos. Estamos no norte da Itália olhando para a barragem Cingino e aqui e ali, na parede de pedra vertical, você verá algumas manchas escuras.

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Aqui estão elas de novo, um pouco mais perto. Se parecem com pedras salientes, ou talvez algum tipo de pregos de metal, mas se inclinar a sua cabeça para o lado, você verá que elas têm o que parecem ser… pernas.

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Isso porque essas coisas são mesmo pernas. Estas equilibristas são cabras, as íbexes alpinas. Elas se espalharam por este lugar porque essa parede é rica em sal, um mineral que elas desejam. Então, enquanto lambem a iguaria, balançam de um lado para o outro com naturalidade, usando suas quatro patas em uma superfície tão estreita que não conseguimos descobrir como elas conseguem a façanha. Esta parede – quando olhada de cima – é drasticamente íngreme.

Um close mostra que os animais se apoiam em quase nada. E, no entanto, eles casualmente navegam pela superfície como se estivessem andando em uma estrada normal. Eles também podem dar pequenos saltos, e, por vezes, ficam apenas sobre duas pernas, com o outro par delas balançando brevemente no ar – o que seria capaz de deixar mesmo os mais valentões com frio na barriga.

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Porém, com um pouco de observação, é possível perceber que estes animais funcionam de forma diferente de nós. Eles são projetados tem corpos feitos para verticalidade – como carneiros de montanha. Após assistir as ovelhas pulando na parede vertical, a escritora Ellen Meloy observou que elas obtêm a sua energia a partir de seus traseiros. “As ancas carregavam todo o músculo, sem nada debaixo de seus cascos, a não ser o ar e um ponto de apoio um pouco maior do que o meu lábio inferior”, descreveu a autora.

Dá para imaginar que estas cabras estão se equilibrando em um “lábio inferior” de pedra, mas elas não parecem nem um pouco preocupadas com isso. Elas se parecem mais (novamente parafraseando Ellen) com “bailarinas ligeiramente entediadas”. Deve ser mais assustador descer. Será que elas nunca escorregam e caem de cabeça no chão lá embaixo? Não com frequência, aparentemente.

Há pessoas que se deleitam em se pendurar em um fio de cabelo de rocha, que dirigem a noite toda para encontrar uma parede de pedra em que dois centímetros fazem toda a diferença entre ficar e mergulhar em queda livre sem paraquedas. Eu não sou uma delas. Porém, às vezes me pergunto como seria me transformar em uma íbex da montanha por 20 minutos, para que eu pudesse sentir meus medos se transformarem nos meus prazeres, para que eu pudesse olhar diretamente para baixo, mirar um tufo de sal, e pensar: “Aaah, mas que delícia!” e então, sem cuidado, pular direto para o ar aberto vazio. [NPR]

9 comentários

  • Diego Willrich:

    “…mas eu ainda estamos amedrontados” (SIC)

  • Hélcio:

    Maldade demais. Provavelmente as pessoas estão deixando sal em cima da represa para estes animais escalarem. Poderiam facilitar a vida do animal, mas preferem tirar fotos deles nesta situação. E se dizem humanos, pqp.

    • Aline Cruz:

      Helcio, a parede é composta de sal. Não tem ninguem alimentando as cabras. Esse é seu estilo de vida. Voce pode procurar por elas em outros ambientes, como penhascos e grandes paredões, elas vão atras de alimento, não tem nada que ser “facilitado”…

    • Falcone Big:

      Hélcio, achei lindo seu cometário, BRAVO!!!
      Só tenho duas dúvidas:

      1) Já ouviu falar em habitat natural?
      2) Você já resgatou e/ou deu alimento pra quantos animais de rua essa semana?

  • Cleivson Lopes:

    Não… vai gostar de sal assim lá longe…. podia ter ouro ali q eu n ia pegar, não assim….

  • edinardo neves:

    “Porém, às vezes me pergunto como seria me transformar em uma íbex da montanha por 20 minutos, para que eu pudesse sentir meus medos se transformarem nos meus prazeres, para que eu pudesse olhar diretamente para baixo, mirar um tufo de sal, e pensar: “Aaah, mas que delícia!” e então, sem cuidado, pular direto para o ar aberto vazio”
    Ellen Meloy’s

    na minha opinião seria loko d+

  • Fernando Macedo:

    Seria bom evitar termos como “projetados para”. São termos errados do ponto de vista biológico e levam a confusões enormes aos leigos. Sendo esta uma pagina que parece ter intenção de divulgar ciência seria bom não fomentar esse tipo de erro.

    A humanidade agradece.

    • ediwanuerj .:

      Presumo que o termo “errado” não tenha sido bem aplicado no comentário, pois mostra juízo de valor, o que é impensável para a ciência. A ciência envolve a busca por respostas, sem se ater a um modelo, por mais verossímil que pareça, uma vez que este pode ser complementado ou até mesmo substituído por outro, caso novas evidências surjam no campo de pesquisa. Ainda assim, não é científico considerar que um modelo está errado se não existem provas incontestes de sua falha. Neste caso específico do Projeto Inteligente, que parece ser sugerido pela expressão “projetados para”, é impossível provar que estas características não foram programadas de forma não-aleatória. Como um divulgador de ciência, o site deve ser imparcial e deixar a seus leitores, que não são leigos (já tendo eu lido argumentos brilhantes de leitores do blog), que, de posse de dados, pensem por si que modelo é mais adequado. Abração!

    • Fernando Macedo:

      Na verdade nao mostra juízo de valor é sim identificação de evidencias. Nao qualquer teoria é uma teoria científica, o mundo ser oco ou sermos criados pro fadas madrinhas podem ser teorias, mas nao científicas. Teorias científicas tem evidencias sustentando-as com estudos em varias áreas. Ou seja primeiro se observa e logo se chega a conclusões. Nao o contrario.
      O projeto inteligente nao é uma teoria científica. Eu sei que vc vai argumentar que ela foi proposta por cientistas, mas como falamos por aqui, “una mona vestida de seda, mona queda”, nao importa muito quem apresenta e sim o que apresenta.
      É uma teoria inventada pelos religiosos para dar uma “tom” de ciência a mitologia crista, e é sim para leigos, e eu acho que vc sabe disso, pois ninguém que tenha estudado mais profundamente sobre indica que seja uma teoria científica, a nao ser que tenha um interesse particular em sua difusão…

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