“Anvisa” dos EUA é proibida de usar o termo “baseado em ciência” por Trump

Por , em 18.12.2017

O governo do atual presidente dos EUA, Donald Trump, proibiu funcionários da agência de saúde pública do país, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention, a “Anvisa” americana) de usar uma lista de sete termos em qualquer documento oficial preparado para a escolha do orçamento para o próximo ano.

Os sete temidos

As sete palavras ou expressões proibidas são: “vulnerável”, “direito”, “diversidade”, “transgênero”, “feto”, “baseado em evidências” e “baseado em ciência”.

Os analistas de política do CDC em Atlanta foram informados dessa lista em uma reunião na última quinta-feira (14), de acordo com um analista que participou do briefing de 90 minutos.

Em alguns casos, eles receberam frases alternativas. Em vez de “baseado em ciência” ou “baseado em evidências”, a frase sugerida é “o CDC baseia suas recomendações em ciência levando em consideração os padrões e desejos da comunidade”, explicou o analista que não quis ser identificado ao portal Science Alert. Em outros casos, nenhuma palavra de substituição foi imediatamente oferecida.

Vários escritórios do CDC realizam trabalhos que utilizam algumas dessas palavras. O Centro Nacional de Prevenção de HIV/AIDS, Hepatite Viral, DST e TB está trabalhando em formas de prevenir o HIV entre transgêneros, por exemplo. Outro exemplo é a pesquisa sobre defeitos congênitos causados pelo vírus Zika, que inclui estudos sobre o desenvolvimento de fetos.

Absurdo ideológico

O analista entrevistado pelo Science Alert não conseguiu recordar uma situação anterior em que palavras foram banidas de documentos orçamentários porque eram consideradas controversas.

A reação das pessoas na reunião foi de “incredulidade”, segundo ele. “Foi muito: ‘Você está falando sério? Você está brincando?’ Na minha experiência, nunca tivemos nenhuma repressão do ponto de vista ideológico”, disse.

O “problema dos 7” é na verdade um problema de orientação sexual, identidade de gênero e direito ao aborto

As questões de como abordar orientação sexual, identidade de gênero e direito ao aborto todas tiveram visibilidade significativa sob a administração do ex-presidente americano Barack Obama.

Tais questões de saúde pública têm sumido das políticas governamentais de Trump. Vários departamentos importantes – incluindo Saúde e Serviços Humanos, Justiça, Educação e Habitação e Desenvolvimento Urbano – mudaram políticas federais e a forma como coletam informações governamentais sobre americanos homossexuais, bissexuais e transgêneros.

Em março, por exemplo, o departamento de Saúde e Serviços Humanos deixou de questionar sobre orientação sexual e identidade de gênero em duas pesquisas com idosos, bem como removeu informação sobre americanos LGBT do seu site. O departamento de Crianças e Família também arquivou uma página que descrevia os serviços federais disponíveis para pessoas LGBT e suas famílias, incluindo como podiam adotar e receber ajuda se fossem vítimas de tráfico sexual.

As prioridades de Trump

No CDC, a reunião sobre as palavras proibidas foi liderada por Alison Kelly, gerente do Escritório de Serviços Financeiros do órgão de saúde. Kelly não disse por que as palavras estavam sendo banidas, afirmando que ela estava apenas transmitindo a informação.

Outros funcionários do CDC confirmaram a existência de uma lista de palavras proibidas ao Science Alert.

A proibição está relacionada ao orçamento e aos materiais de apoio a serem entregues aos parceiros do CDC e ao Congresso americano. O orçamento federal para os próximos anos deverá ser lançado no início de fevereiro. O planejamento orçamentário geralmente é moldado para refletir as prioridades de uma administração.

A notícia sobre a proibição de certas palavras ainda não se espalhou para o grupo mais amplo de cientistas do CDC, mas é provável que provoque uma reação, de acordo com o analista entrevistado pelo Science Alert. “Nossos especialistas não vão ficar em silêncio”, opinou. [ScienceAlert]

2 comentários

  • Dilson Corrêa:

    Se continuar assim, vai chegar o momento em que Trump proibirá e ensino de evolucionismo nas escolas do Estados Unidos.

    • Cesar Grossmann:

      Na verdade está acontecendo em alguns estados americanos, a bancada evangélica americana está passando leis forçando “o ensino da controvérsia”, por exemplo. Não sei se ainda tem cidades que proibiam que o professor ensinasse qualquer coisa sobre evolução, mas já foi modinha lá.

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