“Muito menos gay”, ex de Elon Musk revela mudança na sua orientação sexual após gravidez

Por , em 24.10.2024

A cantora Grimes, ex-companheira de Elon Musk, causou polêmica ao afirmar que se sentiu “menos gay” durante sua gravidez, levantando uma pergunta interessante: será que a enxurrada de hormônios que o corpo feminino experimenta nessa fase pode influenciar a orientação sexual? Será que a ciência tem algo a dizer sobre isso?

O que os hormônios têm a ver com a sexualidade?

A orientação sexual é um fenômeno complexo. Ela envolve atração física, emocional e romântica, e não é fruto de uma simples escolha. Pesquisas científicas apontam para um enredo muito mais intricado, que envolve genética, ambiente e biologia, incluindo o papel dos hormônios no desenvolvimento do cérebro.

Alguns estudos indicam que a exposição a níveis diferenciados de hormônios sexuais, como a testosterona, durante o período fetal, pode ter influência na orientação sexual futura. Por exemplo, mulheres que foram expostas a maiores doses de testosterona no útero podem apresentar maior propensão a se identificarem como lésbicas ou bissexuais na vida adulta. Mas vale destacar que essas variações hormonais atuam no desenvolvimento pré-natal, ou seja, na formação da orientação sexual desde o início da vida.

Já na fase adulta, como durante a gravidez, não há evidências científicas robustas que apontem para mudanças de orientação sexual causadas por flutuações hormonais. A ciência até agora não apoia a ideia de que esses hormônios bagunçam a bússola sexual que uma pessoa já desenvolveu.

Gravidez e as montanhas-russas hormonais

Durante a gravidez, os hormônios entram em modo turbo. O estrogênio e a progesterona aumentam consideravelmente, preparando o corpo para sustentar o bebê em crescimento. Naturalmente, esses hormônios afetam o comportamento sexual de maneiras diferentes. O estrogênio, conhecido por dar um empurrãozinho na libido, tende a aumentar o desejo sexual, enquanto a progesterona, em uma atitude mais cautelosa, tende a suprimir essa mesma libido em certos momentos da gestação.

Mas vamos ser claros: esses hormônios podem mexer com o desejo sexual de uma pessoa, não com a orientação sexual. Um aumento ou diminuição do apetite sexual é uma montanha-russa hormonal passageira, sem relação com mudanças profundas e duradouras na atração por determinado gênero. Afinal, a sexualidade humana é mais sólida do que uma mera maré hormonal.

O cérebro das grávidas: mais que simples mudanças de humor

Grimes também comentou que sentiu sua criatividade disparar, enquanto sua habilidade para assuntos técnicos parecia se perder durante a gravidez. Essa percepção encontra respaldo na ciência. Pesquisas sugerem que a gravidez pode alterar de fato o cérebro das mulheres. Um estudo publicado na Nature Neuroscience observou que as grávidas apresentam uma redução no volume de massa cinzenta em áreas do cérebro ligadas à cognição social, preparando-as para a maternidade. Isso pode influenciar a forma como elas se relacionam com o bebê após o nascimento.

No entanto, até agora, nenhuma dessas mudanças neurológicas foi associada a qualquer alteração na orientação sexual. As mudanças cerebrais têm mais a ver com a criação de vínculos e com a capacidade de adaptação do cérebro durante esse momento especial, e não com uma transformação na atração por diferentes gêneros.

Neuroplasticidade e flutuações hormonais: um caso separado

A gravidez é um campo fértil para estudos sobre neuroplasticidade — a habilidade do cérebro de formar novas conexões. Mudanças hormonais durante esse período podem trazer modificações comportamentais e emocionais, mas não sugerem uma reconfiguração da orientação sexual. A testosterona, por exemplo, desempenha um papel importante no desejo sexual, tanto em homens quanto em mulheres, mas sua flutuação durante a gravidez não foi relacionada a mudanças de orientação.

Embora existam estudos que associam altos níveis de testosterona fetal a uma maior probabilidade de mulheres se atraírem por outras mulheres, isso se refere ao desenvolvimento inicial, e não à vida adulta. No caso de Grimes, o fato de ter experimentado uma queda na testosterona durante a gestação provavelmente está mais ligado às variações de libido do que a qualquer mudança real de orientação sexual.

Quando o desejo flutua, mas a orientação permanece

Embora a orientação sexual seja estável ao longo da vida, o desejo sexual pode mudar. A ciência mostra que hormônios influenciam o desejo, mas não reprogramam a atração sexual fundamental de uma pessoa. O que pode acontecer é uma mudança temporária na expressão do comportamento sexual, mas isso é uma resposta a circunstâncias hormonais e emocionais do momento, e não uma transformação na orientação.

Um estudo no Journal of Sex Research discute como algumas pessoas interpretam essas mudanças temporárias como uma modificação na orientação sexual, mas os pesquisadores são enfáticos: o desejo pode variar, mas a atração sexual subjacente permanece constante.

Então, a gravidez pode mudar a sexualidade?

A resposta curta: não, pelo menos não de acordo com a ciência. Os hormônios podem mexer com o desejo e o comportamento sexual durante a gravidez, mas a orientação sexual, como característica individual, permanece inabalável. Relatos de Grimes sobre sentir-se menos atraída por mulheres durante a gravidez são compreensíveis no nível emocional, mas não apontam para uma mudança definitiva de orientação.

Na verdade, a ciência atual sugere que esses relatos refletem mudanças temporárias no comportamento sexual ou na libido, e não uma verdadeira transformação no que diz respeito à atração sexual.

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