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Pesquisadores traduzem o que macacos dizem

Macacos não só têm uma linguagem, como chegam a se comunicar por dialetos locais distintos. A investigação sobre essas variações pode lançar luz sobre a nossa própria linguística e a forma como nossos companheiros primatas pensam.

Como outras espécies sociais, os macacos Campbell (Cercopithecus campbelli) têm gritos de alerta para avisar colegas do perigo. Gravações na Floresta Tai, na Costa do Marfim, mostram que os macacos lá usam um som que nós podemos descrever como um “krak” para alertar sobre a presença de um leopardo, enquanto um “hok” se refere a uma águia. Eles também usam o sufixo “oo” para indicar uma ameaça mais branda, por isso “krak-oo” significa que o colega deve ficar de olho aberto para perigos no chão, enquanto “hok-oo” alerta para um perigo menor acima, como a queda de galhos.

No entanto, quando os macacos da ilha Tiwai, em Serra Leoa, foram estudados, verificou-se que os mesmos sons tinham significados diferentes. “Na ilha, em uma situação em que uma águia é o perigo, você ouve um monte de ‘hok’ mas você também ouve vários ‘krak’”, afirma Phillipe Schlenker, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica.

A pista para essa diferença é que em Tiwai não há leopardos. Schlenker e seus colegas concluem que, sem a ameaça vinda de baixo, o “krak” funciona como um alarme geral em Tiwai.

Não é surpeendente que os macacos usam chamadas de forma diferente dependendo da geografia. Brasil e Portugal são dois países separados por uma língua comum. Mesmo em um país a mesma palavra pode ter significados localizados. Outro aspecto da comunicação humana aproveitado para explicar o mistério da linguagem dos macacos é a maneira que nós preferimos o específico em relação ao geral. “Palavras competem umas com as outras”, diz Schlenker. “E nós usamos a mais informativa”.

Enxergar os macacos como criaturas sem sofisticação pode nos cegar para o fato de que eles estão muito bem adaptados ao seu ambiente, inclusive na busca de uma linguagem que maximiza a sobrevivência. “O importante é que, nessa situação, tanto krak-oo e hok são mais informativos do que krak. Pela lógica, se você ouvir krak você pode inferir que havia uma razão para krak-oo e hok não serem proferidas, então você infere a negação”, diz Schlenker.

Enfrentando múltiplas ameaças, é importante que os macacos da floresta de Tai sejam mais específicos, utilizando krak apenas quando se referem aos leopardos. Mas quando há apenas um grande predador, não há essa preocupação, por isso não importa se os macacos de Tawai dizem krak ou hok para avisar sobre um ataque de águia.

Este é o primeiro estudo publicado por um linguista profissional sobre vocalizações de macacos selvagens, e Schlenker tem esperanças de que a partir disso se crie o estudo de uma “linguística primata”. [IFL Science]

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